Redação 10

Publicado em Redação nota 10

 
 
Diga-diga-diga
 
É hora de escrever a redação. Lápis e papel na mão, a gente recebe o tema e faz o planejamento. Define o tópico, o leitor, o objetivo, as idéias do desenvolvimento. E depois?
 
Por onde começar? O desafio da primeira frase é antigo. Aparece até no livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Lembra-se? Para os de memória curta, eis o trecho:
 
O Coelho Branco colocou os óculos e perguntou:
–­ Com a licença de Vossa Majestade, devo começar por onde?
— Comece pelo começo, disse o rei com ar muito grave ­ e vá até o fim. Então, pare.
 
Na resposta, o rei, sabido, traduziu a velha fórmula da redação. Com outras palavras, ele disse que o texto deve ter três partes. A primeira é a introdução. A segunda, o desenvolvimento. A terceira, a conclusão. Três palavrinhas definem cada uma. É o diga-diga-diga.
 
Na introdução, diga o que você vai dizer. Anuncie o assunto ao leitor. Ele tem direito de saber em que vai investir o precioso tempo.
 
No desenvolvimento, diga o que você prometeu dizer. Não vale pegadinha. Escreveu? Tem de ler. Se, na introdução, você anunciou que vai falar sobre a importância da língua espanhola, terá de levar o assunto até o fim.
 
Na conclusão, diga o que você disse. Encerre o assunto com uma chave de ouro. Lida a última frase, o leitor não deve virar a página para certificar-se de que o texto acabou. Nem o autor precisa escrever “fim”, “the end” ou “acabei”. O texto deve falar sozinho.
 
E daí? Como começar? Comece por uma frase bem interessante. É com ela que você vai conquistar o leitor. Seduzido, ele vai morrer de vontade de prosseguir a leitura. A primeira frase pode ser uma pergunta, uma citação, uma declaração, o verso de um poema ou de uma canção. O importante é que esteja relacionada ao tema e permita encaminhar o assunto.
 
Quer um exemplo?
 
Assunto: língua espanhola
 
Leitor: deputados e senadores
 
Tópico: obrigatoriedade do ensino da língua espanhola nos níveis fundamental e médio
 
Objetivo: demonstrar que não se justifica tornar obrigatório o ensino da língua espanhola nos níveis fundamental e médio
 
Introdução:
 
Ninguém duvida do idioma de Cervantes nem de sua utilidade. Além do autor de Dom Quixote, escreveram em espanhol Lope de Vega, Luis de Góngora, García Márquez e Jorge Luis Borges. Língua que mais cresce no mundo, é falada hoje por 332 milhões de pessoas em dezenas de nações. Falam-na a maioria dos países vizinhos do Brasil e dos parceiros do Mercosul. Apesar de sua importância, porém, não se justifica a proposta de tornar o ensino do espanhol obrigatório no país. (Folha de S.Paulo)
 
Viu? O parágrafo inicial disse o que o texto vai dizer. O desenvolvimento vai dizer o que a introdução anunciou ­ por que não se justifica tornar obrigatório o ensino do espanhol nas escolas brasileiras.  

 
 
Teste
 
Leia o parágrafo. Ele introduz uma dissertação. Como todo parágrafo introdutório, deve ter uma sentença de abertura que pegue o leitor pelo pé. Às vezes ela coincide com o tópico frasal. Outras vezes, não. Qual a sentença de abertura do texto abaixo? 
 
“As feias que me desculpem, mas beleza é fundamental.” Será a arte como a mulher para Vinicius de Moraes? É, talvez não seja esta a mais feliz das comparações. Ainda mais se lembrarmos que as produções artísticas podem representar uma parcela significativa da cultura de um povo. Pode, mais que isso, alterar a história de um povo. Se arte pode ser tanto, por que exigir dela apenas uma beleza transitória? Temos de ser mais exigentes. Temos de exigir das produções artísticas a beleza permanente de seus efeitos sociais.” (Sílvio Botomé)
 
A resposta? Logo, logo. Aguarde.