Recado trocado

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A Esplanada amanheceu coberta de faixas. Todas exibiam o mesmo recado: “Fica Marinho”. O ministro viu, leu e não gostou. Contrariado, convocou a equipe:
 
— Quem disse que eu vou ficar à frente do ministério? Sou candidatíssimo à Prefeitura de São Bernardo.
 
 — Sabemos disso. É por essa razão que apelamos para que fique.
 
— Li o texto de frente pra trás e de trás pra frente. O recado não muda: Marinho fica.
 
Caiu a ficha. A turma se deu conta da pisada de bola. Na pressa, todos esqueceram velha lição da escola primária. Trata-se das manhas do vocativo. Elitista, o sangue azul não faz parte dos termos essenciais, integrantes ou acessórios. Por isso vem sempre, sempre mesmo, separado por vírgula.
 
 A moçada apressou-se a corrigir o texto. “Fica, Marinho”, suplica a nova forma. O ministro sorriu. Cobra criada, deixou a resposta pra depois das negociações:
 
— Vou pensar, prometeu.
 
Moral da história: a vírgula faz a diferença.
 
 
Você sabia?
Vocativo vem do latim vocare. Significa chamar. A palavra pertence à família de vocação (chamamento do coração). Seguir a vocação é atender a voz interior. Ouvir o apelo da alma. “É feliz quem faz aquilo de que gosta”, dizem os psicólogos. Têm razão.
 
 
Truque
 
Sempre que você se dirigir a alguém, não duvide. Estará diante do vocativo: “João Marcelo, tome banho”, manda a mãe. “Alô, Rafael, tudo bem?”, pergunta Marina. “Senhor Diretor”, começa o ofício jeitoso.
 
Há um truque pra identificar o termo arredio. Basta antepor-lhe o ó: (ó) Maria, venha cá. Venha cá, (ó) Maria. “Entra,  (ó) Irene. Você não precisa pedir licença.”  Pra frente, (ó) Brasil. Deus te ouça, (ó) meu filho. Vem, (ó) Paulo, vem rápido.     
 
 
A diferença
 
Ó e oh! se pronunciam do mesmo jeitinho. Mas não são sinônimos, nem se confundem:
 
O ó acompanha o vocativo. Aparece quando se chama alguém: “Deus, ó Deus, onde estás que não me escutas?” Fica, (ó) Marinho. Acorda, (ó) Brasil. Até tu, (ó) Brutus?
 
O oh! é interjeição. Tem vez quando a gente fica de boca aberta de admiração ou espanto: Oh! Que quadro lindo! Oh! Que trapaça!
 
 
Mary Whitcher ensina
 
“Seja lento para se enfurecer, culpar ou outros ou defender seus interesses. Mas seja rápido na hora de falar sobre qualquer progresso de um amigo seu que mereça aplauso.”