Pois não, Excelência

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O fato é conhecido. Mas vale repetir. Quem manda no jornal não é o presidente, nem o diretor, nem os editores, nem os repórteres. O dono e senhor da publicação é o leitor. Ele aplaude, critica, acrescenta, exclui, pede mudanças, exige satisfação. Em suma: manda e desmanda.
 
Puxão de orelha do leitor dói muito mais que o do chefe. Reclamação de assinante é levada mais a sério que a do morador do Palácio do Planalto. Pedido de quem nos honra com a preferência é ordem. O blog se curva diante de tanto poder e abre espaço para as questões de quem o prestigia. Com a palavra, Sua Excelência o mandachuva.
 
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Carmem Silvana, de Niterói, pergunta: “Sempre soube que, em português, as palavras só podem ter um acento. Como explicar os dois que aparecem em órfão, ímã e órgão?”

 
Carmem, só existem três acentos na nossa língua — o agudo (água), o grave (àquele) e o circunflexo (lâmpada). O til não é acento. É sinal de nasalidade. Informa que a vogal é nasal, não oral. Compare: Irma, irmã.
 
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Rafael Lima, de Pelotas, quer saber: “Ultimamente tenho visto profº como abreviatura de professor. O ozinho sobra, não?”

 
Modismos surgem todos os dias. As abreviaturas não estão imunes a eles. Um dos mais recentes atingiu a nobre figura do professor. Os manuais dizem que a abreviatura do mestre é prof. Mas, por alguma razão alheia à vontade do Senhor, começam a brindá-lo com carga adicional. A língua detesta redundância. O masculino não precisa do o. O feminino, sim, pede a. O plural exige s. Compare: professor (prof.), professores (profs.), professora (profª), professoras (profªs); doutor (dr.), doutores (drs.), doutora (drª.), doutoras (dras.).
 
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Lucília Nóbrega, de João Pessoa, apresenta a questão: “O emprego das letras maiúsculas e minúsculas me dá nó nos miolos. Tenho mil dúvidas. Uma delas: lei, medida provisória, decreto, portaria ganham inicial grandona ou pequenina?”

 
Depende. Se estiver especificado o número ou o nome do texto, a grandona pede passagem. Caso contrário, só a mixuruca tem vez: Lei 2.412, de 23.3.2004; Medida Provisória 235, de 10.10.2005; Decreto 985, de 13.12.2006; Lei Afonso Arinos, Lei Antitruste, Lei de Falências.
 
Não abuse. O ato perde a majestade depois da primeira referência: O presidente encaminhou ao Congresso a Medida Provisória 3.852. A medida trata do reajuste dos servidores.
 
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Tânia Cruz, de Belô, explica por que anda encucada: “Em anúncios e folhetos, não dá outra. Aparece sempre a tal frase `Para maiores informações, ligue para o número tal´. O adjetivo me soa esquisito. Estou certa?

 
É esquisito mesmo. Informações não se medem por metro. Por isso não podem ser maiores ou menores como um terreno ou um pedaço de tecido. Informações se adicionam. Melhor: mais informações, mais detalhes, mais comentários.
 
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Clairton Silva, de Brasília, enfrentou esta: “Adoro cavalgar. Por isso, me pintou a dúvida: eu ando a cavalo. Com a fêmea do cavalo como fica?

 
Convenhamos: ninguém anda a égua. O jeito é mudar de verbo. Em vez de andar, montar. Que tal?
 
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Severino Cavalcanti, de Olinda, se preocupa com o estilo. Quer tirar proveito de todas as possibilidades que a língua oferece. Eis a questão proposta: “Sei que vírgula, travessão e parêntese podem separar termos explicativos. Empregar um ou outro tem diferença?”

 
E como! As vírgulas são neutras. Apenas separam termos ou orações. Os travessões gritam. Destacam o termo ou a oração que isolam. Os parênteses jogam no time oposto. Desqualificam o termo ou oração neles guardadinhos). Compare: Brasília, a capital do Brasil, localiza-se no Planalto Central. Brasília — a capital do Brasil — localiza-se no Planalto Central. Brasília (a capital do Brasil) localiza-se no Planalto Central.