Paulo José Cunha procurou? Achou

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    No dia 23, Paulo José Cunha mandou esta carta pro blog. Choveram respostas. Que tal compartilhá-las? Outros palpites são pra lá de bem-vindos.

 

Querida Dad,   Ando preocupado. Algumas palavras, boas palavras, fáceis de usar, gostosas de pronunciar – estão sumindo! Quer um exemplo? A palavra “incluído”. Nunca mais vi essa moça por aí, temo que foi vítima de algum grupo de extermínio. Começaram a usar “incluso” pra tudo. E a pobrezinha da palavra “incluído” desapareceu. Tem alguma notícia dela? Se a vir, dê-lhe um abraço em meu nome e diga a ela que meu apartamento é pequeno, mas sempre dá pra abrir um colchonete e acomodá-la por aqui, até fazer bom tempo e essa perseguição acabar.

Ainda ontem me dei conta de que outras palavrinhas, tão amigas, tão cordiais, correm o mesmo risco de “incluído”. Fui pedir para me retirarem de uma destas listas de spams da internet, onde tentam nos vender atlas jurídicos e remédios infalíveis para aumentar o tamanho do pingolim da gente (do meu não há queixas, sempre obtive boas avaliações, embora ele não seja, assim, nenhuma brastemp, mas tem dado pro gasto). Viu só?, distraí-me, perdi o fio da meada.   Mas (lembrei-me!), falava que ando apreensivo porque há outra palavra na lista das ameaçadas de extinção (e o Ibama, que não toma uma providência? Palavras, como bichos, são seres vivos e muito importantes para o futuro do planeta, não acha?). Olha eu de novo esquecendo o fio da meada. Mas agora não me foge mais. Pois recebi, como resposta ao pedido de retirada de meu nome da lista de spams, que meu e-mail tinha sido “excluso”. Nem sei se existe essa coisa feia aí. E, olha, Dad, nunca me queixei da boa e velha “excluído”, palavra boa, honesta, uma paroxítona porreta que sempre cumpriu o que prometeu.

O que fazer, querida Dad? Será que devemos escrever ao Carlos Minc, pedindo uma providência? No mínimo ele vai convocar uma coletiva pra mostrar um colete novo em que escreverá as palavras em risco de extinção… Quem sabe o Obama possa fazer alguma coisa. Ouvi dizer que ele vai resolver TODOS os problemas do mundo, capaz de se compadecer da gente e dar uma mãozinha, né não?

Ah! Tive uma idéia. E se a gente escrever diversas vezes essas palavras ameaçadas em pequenos cartões e plantá-los aí pelos jardins, será que as palavrinhas vão nascer e se reproduzir? Hem? Hum?

Enfim, não sei o que fazer. Por isso recorro a você que conhece os caminhos dessa nossa língua linda e tão maltratada. E olha que nem citei uma palavrinha que sempre me fez bem ao bolso e à alma – a palavra “desconto”. Pois igualmente anda sumindo. Já desapareceu por completo das vitrinas, substituída por uma tal de “off”, que chegou das estranjas com o charme dos produtos importados, foi ficando, ficou.

Não é de se preocupar, minha boa e bem humorada amiga Dad? Um beijo grande e saudoso.

PJ   Respostas, sugestões e palpites   Será que na sua lista estão as palavras:bom-dia,boa-tarde, com licença, por favor e obrigada? Elas fazem falta no dia-a-dia!   Laina Medeiros

 

A respeito de sua mensagem para a Dad, que tal “incluir”uma das palavras mais “excluídas” atualmente, trata-se da palavra “diferente”. Desde que “inventaram” o tal de “diferenciado” nada mais é diferente ou distinto. Agora é TUDO diferenciado. Jogador de futebol, então, nem se fala. O que há de jogadores “diferenciados” é uma barbaridade!

Renato Navarro Guerreiro

Paulo, peço sua autorização para publicar seu texto “Paulo José Cunha procura” na página de opinião deste nosso O Dia. Obrigada pelo texto…. Elizângela Carvalho

Resposta do Paulo José: Menina de Deus, você é doida! Doida que nem a Dad, a minha querida amiga que recebeu o e-mail e do mesmo jeito que recebeu postou no blog dela .

Era só um e-mail!
 

E a maluca adorada tascou no blog e criou uma confusão monumental e na-cio-nal! (se você entrar no blog dela vai ver o tamanho da repercussão).

 

Mas fique à vontade, a casa é sua. Dad já escancarou a porta, agora o que vier é lucro. Ainda bem que a causa é boa.

 

 beijo. Estarei aí no dia 23, volto dia 28. Reserve capote no arroz e paçoca de Campo Maior, que estou com uma fome nor-des-ti-na!  

 

 Caro Poeta,

 
gostei do humor e da sutileza com que você tratou um assunto tão grave.
 
Um abraço,
 
 tita lima

Professor Paulo José Cunha,
Parabéns pelo belo texto! Não só o “off” tem invadido nosso idioma mas a invasão do estrangeirismo é um negócio revoltante. Basta darmos umas voltas pela cidade e percebe-se o lixo visual que nos impoem, e o pior, tudo em inglês, e você fala alguma coisa e já te soltam DEIXA DE SER BABACA, FALO INGLÊS NA HORA QUE QUISER!!!!!
Mais uma vez parabens e um grande abraço.

Meu caro Paulo, uma delícia seu (con)texto. Se não me levar a mal, se não me ‘inclusuir’ na lista de seus desfeto (que deve estar desabilitada desde sempre), digo-lhe que (o texto) me lembrou as cartas à mãe, do Henfil. Mas é isso: cultivemos essas palavrinhas delicadas. De vez enquando, aqui, no Piauí, com meus alunos, eu desentero algumas. Um abraço. Ernâni Getirana (Pedro II, PI)

 

Mau Caro Paulo Jota. Qua bpom ver que você escreve vocalmente. São poucos e caros os amigos com tal habilidade. Faz, ou dá, gosto ouvir seu texto. Por falar em nossa salvavidas do idioma, eu certodia me atrevi a dizer à propria que ela é a única pessoa qua nasceu alfabetizada e gramaticalizada… Devia, quando muito pequena chorar com ponto paragrafo, vírgula, exclamação e tudo mais que ela não aprendeu, já nasceu sabendo. Um abraço semi-alfabetizado Pedro Jorge.

 
Adorei! É uma coisa que sempre digo por aí. Substituem as palavras por outras inexplicáveis.

Você se esqueceu da palavra “diferenciado” (a). Qualquer coisa, hoje em dia, é diferenciada. Do que, não sei. Outro dia estava eu no shopping vendo uns sapatos e eis que o vendedor me disse: São lindos! Diferenciados! Que merda é essa? Diferenciados de que? A palavra está na moda e usam-na como querem.

Ora bolas!

Quanto aos e-mails de remédios infalíveis, pasme, eu também os recebo. Pode? E não é só para manter ereções, mas para aumentar o pingolim também…

Como vc diz,

Quá!

Bjs,

ML

Grande Paulo José,

Maravilha de texto, desses que dá prazer em ler. Estou fazendo circular.

Por que você não faz uma crônica sobre as palavras intrometidas, salientes, que tentam se infiltrar ali onde não são chamadas? Quer um exemplar? “Perpassar”. Odeio as pessoas que vivem perpassando. Só de lembrar, me “perpassa” um frio pela espinha.
Grande abraço do seu fiel e agradecido leitor
Ribamar Bessa