Palavras com duas e três caras

Publicado em português

Jano é um deus pra lá de poderoso. Mais poderoso que Superman, Batmam, Fantasma, He Man, Jaspier e Power Ragers juntos. Tão poderoso que se tornou dono do tempo. Vê tudo o que passou. E tudo o que vai passar. Como? O poderoso senhor tem duas caras. Uma olha para trás. Vê o passado. A outra olha pra frente. Enxerga o futuro.

Quando termina o ano, com uma cara ele mira dezembro. Faz-lhe reverência. Despede-se. Fecha a porta do ano velho. Com a outra cara, observa as mil e uma possibilidades do porvir. Abre a porta. Entra. E deseja feliz ano-novo para todos.

Na língua como no Olimpo, há seres com duas faces. Generosos, eles deixam o freguês escolher. Uma e outra estão corretas. Questão de gosto. Ou de conveniência. Há duplicidade na concordância, na regência, na pronúncia, na colocação dos termos no período. A grafia não fica atrás.

Quatorze ou catorze? Tanto faz. Porcentagem ou percentagem? As duas. Ouro ou oiro, louro por loiro? Você escolhe. Cota ou quota? Ambas. Camionete ou caminhonete? A que você preferir. Diabete ou diabetes? Não faz diferença. Caminhante ou caminheiro? Uma e outra põem o pé na estrada.

Algumas chegam ao exagero. Têm três caras. É o caso de enfarte, enfarto ou infarto. Ninguém pode com elas. Outras enganam. Fingem ter duas grafias. Mas não têm. Vale o exemplo de cinquenta. Desavisados pra lá de confiantes escrevem “cincoenta”. Bobeiam. A trissílaba, morta de rir, sai por aí cantando: “Enganei o bobo na casca do ovo”. Cruz-credo!