O todo e as partes

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    Agradar a gregos e troianos, eis a filosofia do verbo. Sempre que pode, o malandro joga nos dois times. Há casos complicados, em que os sujeitos exigem que o verbo concorde com eles. Ele, subserviente, cede. “Para que brigar?”, pensa o

comodista. Afinal, a língua é um sistema de possibilidades.

 

    Na concordância, então, é um festival de vale-tudo. Ou quase tudo. Há uma regra básica, que não pode ser esquecida. O verbo concorda com o sujeito em pessoa e número. Sujeito no singular, verbo no singular. Sujeito no plural, o verbo vai atrás: O turista morreu no confronto. Os turistas morreram no confronto.

   

 

   

Vale tudo

 

    Quando você estiver diante de um dilema de concordância, essa regra o ajudará a pensar. Grave-a.

   

    Vamos ao vale-tudo, situações em que o verbo acende uma vela para Deus e uma para o diabo. Depende da pressão do mais forte. É o caso do partitivo.

 


    Expressões que indicam quantidade (grande número de, pequena quantidade de, a maioria de, a maior de, uma porção de, metade de) seguidas de substantivo plural deixam o verbo à vontade. Ele pode concordar com o núcleo do sujeito (número, quantidade, porção, parte, metade) ou com o complemento.

   
    A maioria dos participantes (dançou ou dançaram) em torno da fogueira. (Dançou concorda com maioria, núcleo do sujeito. Dançaram, com participantes, complemento.)
   
   Uma porção de panfletos (apareceu ou apareceram) na gaveta do secretário.
   
   A maior parte dos sem-terra (concentrou-se ou concentraram-se) à entrada da fazenda.
  
   Só uma pequena quantidade de policiais (saiu ou saíram) antes das quatro horas.


 

   É isso. Diante do partitivo, você escolhe. Fica com o núcleo do sujeito ou com o complemento. Acertará sempre.

 

 

Ênfase

 

    O que aqui se faz aqui se paga. A escolha não é inocente. Se você optar pelo singular, dará ênfase ao conjunto, à unidade. Se preferir o plural, estará de olho nas partes.

 

    Compare:

 

    Metade das laranjas apodreceu. (O verbo no singular dá o recado. O autor mirou o conjunto.)

 

    Metade das laranjas apodreceram. (O verbo no plural não disfarça. O falante deu ênfase às laranjinhas, uma por uma.)