O teto ruiu

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Que triste! Milhares de fiéis saíram de casa. Era domingo, dia de se encontrar com Deus. Seguidores da Renascer foram ao templo da Lins de Vasconcelos. Lá rezaram, agradeceram, fizeram pedidos e promessas. Na saída, ops! O teto desabou. Nove pessoas morreram. Mais de 100 se feriram. Seis estão internadas em estado grave.
  Feito o estrago, vieram questões. O prédio tinha alvará? Os responsáveis faziam a manutenção do imóvel? De quem é a culpa? Enquanto as respostas não vêm, um verbo veio à tona. Com ele, dúvidas e dúvidas. Trata-se de ruir. Como conjugá-lo? A forma “eu ruo” parece pra lá de esquisita. Ela existe? Usa-se? Eta linguinha sofisticada.
  Ruir joga no time dos preguiçosos. Defectivo, só se flexiona nas formas em que o i ou o e seguem o u. Não tem, pois, a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo (eu ruo). Em consequência, não dá à luz o filhote, o presente o subjuntivo (que eu rua). No mais, é moleza: rui, ruímos, ruem, ruí, ruiu, ruíram, ruía, ruía, ruíamos, ruíam, ruirei, ruirás, ruirá, ruiria, ruirias, ruiria, ruísse. E por aí vai.
Eu ruo? Que eu rua? Nem pensar. Melhor buscar alternativa. Que tal desabar? Ou desmoronar? Despencar também serve. Basta escolher. E acertar.
 
Você sabia?
A fundadora da Renascer em Cristo é Sonia Hernandes. Ela e o marido, Estevam Hernandes, faziam os primeiros cultos em casa. Depois, transferiram-nos para uma pizzaria. Foi a primeira sede da igreja. Hoje, a Renascer conta com 2 milhões de fiéis e 1.200 templos. Sonia virou bispa. É aí que a porca torce o rabo. Bispa é o feminino popular de bispo. No duro, no duro, bispa é episcopisa.
 
Por falar em fiéis…
A reforma ortográfica pôs o acento do ditongo aberto ei pra correr. Ideia, assembleia, alcateia perderam o agudo. Mas fiéis, papéis, coronéis o mantêm. Por quê? A mudança só atingiu as paroxítonas. As oxítonas, as proparoxítonas e os monossílabos tônicos continuam como sempre estiveram — ostentam o agudo com muito orgulho sim, senhor.