Nem tanto ao céu nem tanto ao mar

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Arnaldo Jabor conta: “Há um tempo quebrei o braço. E, creio, meu pobre estilo melhorou, pois tinha de escrever com um dedo só e a dor me obrigava a períodos menores. A frase menor dói menos. Tirei adjetivos, não perfumei palavras.”
 
Ele aprendeu com dor lição que vem de lonnnnnnnnnnnnnnge. Montaigne, há 400 anos, ensinou: “O estilo deve ter três virtudes — clareza, clareza e clareza”. Como chegar lá? Há saídas. Uma delas: fugir das frases quilométricas, as que se perdem no caminho e se esquecem de termimar.
 
 Vinicius de Moraes deu a receita. “Uma frase longa”, disse ele, “não é nada mais que duas curtas.” É isso. Transforme as frases compridas em curtas. Como? Use pontos. Eis duas dicas: 
 
1. Substitua o gerúndio por ponto
 
A Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal se desentenderam na operação que pôs Daniel Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta & cia. na cadeia tornando públicas, com o bate-boca, as desavenças entre as instâncias.
 
Ponhamos em prática a dica:
 
A Justiça Federal e o Supremo Tribunal Federal se desentenderam na operação que pôs Daniel Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta & cia. na cadeia. Tornaram públicas, com o bate-boca, as desavenças entre as instâncias.
 
2. Troque a oração coordenada por oração absoluta
 
Cheguei, tarde da noite, à pousada que havia reservado, meio de improviso, com ajuda da agência de viagem; vi hóspedes meio estranhos que trocavam sinais por meio de olhares, fiquei assustado e caí fora.
 
Venham, pontos:
 
Cheguei, tarde da noite, à pousada que havia reservado, meio de improviso, com ajuda da agência de viagem. Vi hóspedes meio estranhos que trocavam sinais por meio de olhares. Fiquei assustado e caí fora.
 
Só frases curtas têm vez? Claro que não. Prefira as curtas. Mas não casse as longas. Como diz o outro, nem tanto ao céu nem tanto ao mar. Fique com a coluna do meio.