Menos é mais

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    Dad Squarisi // dad.squarisi@correioweb.com.br  
O ano começa sob o signo da incerteza. Nem a bola de cristal de Raul de Xangô é capaz de revelar o tamanho da crise. Ou a duração. Ou o que emergirá no fim do túnel. Em contexto tão instável, um verbo se impõe. É equilibrar. Meio murista, ele se opõe a polarizar. Diz não aos extremos. Sim à moderação. Nem tanto ao céu, nem tanto à Terra. A sabedoria reside no movimento em direção ao centro.    
Olho nos excessos. O desnecessário sobra. Fará falta lá na frente a água que jorra do chuveiro no banho demorado ou da torneira enquanto escovamos os dentes, lavamos a louça, a roupa, o carro, a calçada. Por que não fechar a vazão enquanto ensaboamos o corpo, o prato, a cerâmica, ou higienizamos a boca? Não é questão de poder ou não poder pagar. É questão de poupar um dos bens mais escassos da humanidade.    
Também fará falta a energia esbanjada pelas lâmpadas acesas em ambientes desocupados. Ou pelo ferro elétrico ligado, mas sem uso, ali, no descanso. Ou pela tevê sem telespectadores e pelo rádio sem ouvintes. Ou pelos freezers vazios, mas conectados na tomada. Ou pelo fogo alto depois de a água ter fervido. Ou pelo carro sem caronas.    
Menos é mais. Menos sal na comida, menos açúcar nas bebidas, menos gordura nos ingredientes, menos sobras no prato, menos alimentos nas despensas e geladeiras abarrotadas são sinônimo de mais saúde e elegância. Menos roupas no armário, menos sapatos nas prateleiras, menos bolsas nas cômodas, menos jóias nos cofres significam mais espaço para o novo. Diante do cenário de loja sem clientes mas abarrotada de estoque, conjugue o verbo desapegar.    
Doe a quem não tem. Se não vir ninguém por perto, lembre-se de instituições sérias que precisam de ajuda pra atenuar o frio, a fome, o desabrigo, a desesperança, a dor, as enfermidades dos desamparados de Deus e dos homens. Há muitas. Que tal a Comunhão Espírita? A Aldeia S.O.S.? O Lar dos Velhinhos? A Abrace? “Quem dá aos pobres empresta a Deus”, diz o povo sabido. Generoso, o Senhor paga com juros. Dá-nos a sensação de sermos mais gente. De sermos também Deus ao atendermos a prece do outro. Chega-se lá sem sacrifício. Exige-se só uma dose da generosidade que não é só divina. É também humana. Menos egoísmo é mais amor.