Língua: o melhor e o pior

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Esopo era grego. Virou escravo em Roma. Culto, autor de fábulas como “A raposa e as uvas”, ganhou o posto de mordomo na casa de uma das pessoas mais importantes do Império Romano. Um dia, recebeu esta incumbência:

— Vou receber o imperador, os governadores de província, os generais do exército. Prepare um banquete com o que há de melhor: as melhores carnes, os melhores legumes, as melhores bebidas. Não precisa economizar.

Na noite da recepção, Esopo serviu um único prato. De entrada, língua. Prato principal, língua. Sobremesa, língua. O dono da festa, indignado, pediu satisfação. A resposta:

— Obedeci à ordem. O senhor me pediu que servisse o que há de melhor. O que existe melhor do que a língua? É com a língua que educamos nossos filhos, conquistamos amores, fazemos amigos, conversamos com Deus.

Balançado mas não convencido, o homem mandou que fizesse um jantar com o que houvesse de pior. Esopo repetiu o cardápio. Questionado, explicou:

— Obedeci à ordem. O senhor me pediu que escolhesse o que há de pior. Não há nada pior que a língua. É com a língua que caluniamos, insultamos, desfazemos amizades, rompemos casamentos, brigamos com os filhos, condenamos à morte.

É isso. A língua é flexível como o arbusto. Presta-se para o bem e para o mal. A escolha é nossa.