Inconsistência no Enem? É erro

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O Enem divulgou as notas. Ops! A meninada, que testou tim-tim por tim-tim cada questão, questionou o resultado. Com razão. O Inep trocou os gabaritos. Ao anunciar o fato, disse tratar-se de “inconsistência”. Recorreu ao eufemismo. Erro ganhou nome mais leve — inconsistência.

Eufemismo é isto: adocicamento do termo. Em vez de usar palavra que choca, causa dor ou provoca imagens desagradáveis, apela-se para outra, mais branda.

Há exemplos pra dar, vender e emprestar. Bolsonaro, quando baixou o decreto que libera a posse de arma, deu lição de eufemismo. No pronunciamento, cumprimentou deputados da Bancada da Bala. São parlamentares que defendem o direito de o cidadão ter em casa revólver & cia. Sua Excelência, em vez de Bancada da Bala, chamou-a de Bancada da Legítima Defesa.

Muitos não gostam de pronunciar a palavra morte. Sentem medo. O que fazem? Pedem ajuda aos eufemismos. Manuel Bandeira chamou-a de “a indesejada das gentes”. Outros dizem passamento, falecimento, viagem, ida para a companhia do Senhor, passagem desta pra melhor, espichar a canela, vestir paletó de madeira, bater as botas. E por aí vai.

Diabo não fica atrás. A língua oferece mil artimanhas para fugir do coitadinho: demo, bicho, anjo rebelde, anhangá, beiçudo, canhoto, cão, coxo, coisa ruim. Vade retro, satanás!