Dia Mundial da Língua Portuguesa

Publicado em português

Hoje se comemora o Dia Mundial da Língua Portuguesa. O português nosso de todos os dias cultiva mitos. Outras línguas também. Quer ver?

As línguas têm mitos. Para os muçulmanos, o árabe é a língua de Deus. Entre 6.800 idiomas, o Senhor escolheu o deles pra ditar a mensagem divina. O recado encontra-se no Corão, joia da literatura mundial. Só se pode lê-la no original. As traduções não são o livro do Todo-Poderoso. São interpretações. Quem quiser ouvir a palavra do Criador só tem uma saída – aprender o árabe.

Para os nascidos na terra de Goethe, o alemão é sinônimo de precisão. O inimigo da ambiguidade não tem alternativa. É estudar alemão, ou estudar alemão. Por isso nove entre 10 filósofos escrevem no idioma que tem declinações e montões de palavras coladas umas nas outras.

Os franceses se consideram donos da clareza. Montaigne, há 400 anos, disse que o estilo tem três virtudes – clareza, clareza e clareza. Parisienses & cia. afirmam que o estilo francês tem quatro – clareza, clareza, clareza e… clareza. O privilégio tem explicação. Chama-se escola de qualidade.

E o português? O idioma de Camões cultiva vários mitos. Um deles: língua linda, mas muito difícil, ninguém consegue dominá-la. Verdade? Não. As línguas de cultura apresentam dificuldade. O chinês, por exemplo, desafia os chinesinhos a interpretar 68 mil ideogramas. O árabe fala uma língua e escreve outra. Sai-se bem em ambas. O segredo? Seriedade e dedicação. O português também exige empenho pra revelar os mistérios. Quanto mais se aprende, mais se sobe na escala do conhecimento. E mais liberdade se ganha.

A língua é um sistema de possibilidades. Dominá-lo significa ampliar o leque de escolhas. Exercitar a liberdade. A criança se vira muito bem com a palavra casa. À medida, porém, que descobre as nuanças de lar, residência, domicílio, morada, moradia, habitação, pousada & cia., comunicar-se-á com mais precisão e consciência. Voará mais alto. E ultrapassará obstáculos. Embora pequenos, tropeços em crases, preposições, concordâncias e outras manhas da língua causam estragos. Evitá-los é possível. O texto agradece.