Colarinho encardido

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br

A divulgação do esquema do Ministério dos Transportes reconduziu um tema às manchetes. Trata-se da corrupção. O assalto aos cofres públicos é como o diabo. Não tira férias. E, à semelhança do demo, está infiltrado em toda a administração pública. União, estados e municípios abrigam gatunos profissionais. Com costas quentes, recebem cargos que lhes asseguram crachá de autoridade, carro, motorista e livre trânsito pelos meandros do poder. Eles não deixam por menos. Abusam.

Escolhem as pastas com os maiores orçamentos. Tubarões abocanham educação, saúde, transportes, previdência. Bagres e bagrinhos se contentam com as demais. Uns e outros fazem a festa. Promovem licitações dirigidas, superfaturam obras, contratam o mesmo serviço várias vezes, mudam a destinação dos recursos. Etc. Etc. Etc. O preço da farra? Segundo a AGU, varia de R$ 45 bilhões a R$ 70 bilhões anuais.

Em português claro: os brasileiros trabalham três meses e meio por ano para pagar impostos. A montanha de dinheiro, em vez de ser devolvida à sociedade em forma de educação, saúde, transporte e segurança, encontra outro destino. Engorda patrimônio e contas bancárias de corruptos. Os colarinhos encardidos embolsam mais, muito mais que reais, dólares e euros — embolsam o futuro ou a vida de milhões de adultos e crianças.

O Código Penal classifica os crimes segundo o perigo que representam. No topo do ranking, estão os hediondos. Entre eles, tortura, estupro, latrocínio, homicídio qualificado, extorsão mediante sequestro. Minha proposta: acrescentar o de corrupção — sem direito a benefícios.

Os ladrões do erário tiram comida da boca de crianças, furtam aposentadorias dos idosos e remédios que salvam vidas, roubam oportunidades de afastar jovens da criminalidade, de formar cidadãos, de promover a ascensão social. Pra quê? Primeiras-damas municipais de Alagoas respondem. Elas trocavam verba da merenda por uísque, bonecas, compras em supermercados e ração pra cachorro.