Politicamente incorreto: paraíba & cia.

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O presidente Bolsonaro chamou os governadores nordestinos de paraíbas. Eles não gostaram. Escreveram carta de protesto. O Planalto não respondeu. Mas uma questão ficou no ar: paraíba, no sentido de nordestino, é politicamente incorreto? É. Paraíba, como cabeça-chata, exprime preconceito. Xô! Identifique o estado de origem com precisão — maranhense, paraibano, pernambucano, cearense.

Há palavras e palavras. Algumas informam. Outras emocionam. Há as que mobilizam para a ação. Todas têm hora e vez. Cuidado especial merecem as que ofendem ou reforçam preconceitos. Grupos organizados — movimento negro, movimento gay, movimento feminista – estão atentos aos vocábulos politicamente incorretos.  Recomenda-se cuidado para não ofender nem agredir as pessoas.Como?

1. Alto, baixo, gordo, magro, grande, pequeno são relativos. Alguém pode ser alto pra uns e baixo pra outros. Diga a altura, o peso, o tamanho: 1,95m, 50kg, 300km.

2. Negro é raça. Nessa acepção, use-o sem pensar duas vezes. Pelé é negro. Não é escurinho, crioulo, negrinho, moreno, negrão ou de cor.

3. Evite o adjetivo em expressões de conotação negativa. Em vez de nuvens negras, prefira nuvens pretas ou escuras. Em lugar de lista negra, fique com lista dos maus pagadores.

4. Apague denegrir de seu dicionário. Prefira comprometer. Elimine também judiar. Substitua-o por maltratar.

5. Quer indicar cor? O preto está às ordens. Gordão? Nem pensar. Diga o peso. Bicha, veado, sapatão? Xô! Fique com homossexual, gay, lésbica.

6. Diga chinês, coreano, japonês (não: japa, china, amarelo); idoso (não: velho, decrépito, gagá, pé na cova); lésbica (não: sapatão, pé 44); pobre, pessoa de baixa renda (não: pobretão, pé de chinelo, ralé, mulambento, raia miúda, povão); pessoa com deficiência (não: portador de deficiência, deficiente físico, deficiente mental); religioso (não: papa-hóstia, igrejeiro, carola);  travesti (não: traveco, boneca, bicha).

Atenção

Não e exagere. Cabeleireiro é cabeleireiro, não hair stylist. Costureira é costureira, não estilista de moda (outra especialidade). Manicure é manicure, não esteticista de unhas. Empregada doméstica é empregada doméstica, não secretária do lar. Dona de casa é dona de casa, não do lar ou especialista em prendas domésticas. Cego é cego, mudo é mudo, surdo é surdo, surdo-mudo é surdo-mudo. Pessoa com deficiência nem sempre tem a precisão desses termos. Quando necessário, use-os sem constrangimento.

Curiosidade

O radialista Airton Medeiros estava entrevistando ao vivo a presidente de uma associação de cegos em programada da Rádio Nacional. Tratava-a de cega o tempo inteiro até receber um papelzinho com a recomendação de que a tratasse como “portadora de deficiência visual”. Antes de obedecer à ordem, perguntou se deveria continuar tratando-a de cega ou de portadora de deficiência. Ela aproximou as mãos do rosto dele até tocar os óculos. Então afirmou: “Portador de deficiência visual é você, que usa óculos. Eu sou cega”.