Bolsonaro, Mandetta e nós: os touros e as rãs

Publicado em português

O presidente de um lado. O ministro de outro. Cada um defende seu ponto de vista. Um se diz do lado da ciência. O outro, da política. No meio, os brasileiros atônitos diante dos horrores de uma pandemia. Milhares perderam o emprego. Centenas viram a vida esvair-se.  Coveiros se queixam de congestionamento de cadáveres. A história lembra a fábula dos touros e as rãs. Conhece?

Dois touros disputavam o pasto. Enfrentavam-se com ferocidade. Chifradas pra lá, coices pra cá, sangue pra todos os lados. Perto dali, rãs que observavam o confronto deliciavam-se com a violência dos ataques. Aplaudiam a queda de um ou de outro oponente. Torciam por golpes sempre mais cruéis. Era espetáculo de gladiadores que lembrava os velhos tempos da velha Roma. Uma rã velha assistia a tudo com apreensão. Questionada, respondeu:

—    Seja quem for o vencedor, sobrará pra nós.

Assim foi. O vitorioso não perdeu tempo. Levou a família, os auxiliares, os amigos, os puxa-sacos pro pequeno território. Os brutamontes pisavam sem olhar pro chão. As rãs se safavam como podiam. Muitas foram esmagadas. As sobreviventes viviam em pânico, cientes de que, cedo ou tarde, chegaria a vez delas. O touro derrotado fez as malas e se mandou. Fixou residência em Paris.