A redação do vestibular

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Os 10 mandamentos do estilo (1)

No vestibular, você vai escrever uma redação de 30 linhas. Como chegar lá? Há duas semanas, a coluna deu dicas de planejamento do texto. Hoje, vamos adiante. Nosso tema será o estilo — o recheio do planejamento. Montaigne, há 400 anos, apontou o norte. “O estilo”, disse ele, “deve ter três virtudes: clareza, clareza eclareza.”

Certo. Nós escrevemos para o leitor. Queremos que ele leia e entenda nossa redação. Mais: que aprecie a leitura, Com os dados à mão, objetivo definido e plano traçado, é hora de redigir. Como? Sem perder de vista o leitor. Seja natural. Imagine que ele esteja à sua frente ou ao telefone conversando com você. Fique à vontade. Espaceje suas frases com pausas e, sempre que couber, com perguntas diretas. Confira ao texto um toque humano. Você está escrevendo para as pessoas.

Não o canse. Vá direto ao assunto. Comece pelo mais importante. E comece bem, com uma frase atraente, que lhe desperte o interesse e o estimule a prosseguir a leitura. No final, dê-lhe o prêmio: um fecho de ouro, como inesquecível sobremesa a coroar um almoço de príncipes.

Os dados, o objetivo e o plano são os ingredientes. A forma de prepará-los é que dá o toque especial ao prato. Uma frase particularmente elegante, capaz de veicular com clareza e simplicidade a mensagem que você quer transmitir, é conquista pessoal, exercício diário de desapego, humildade e vontade de melhorar.

William Strunk Jr, professor de altos estudos da língua inglesa, costumava dizer: “A prosa vigorosa é concisa. A frase não deve ter palavras desnecessárias, nem o parágrafo frases desnecessárias, pela mesma razão que o desenho não deve ter linhas desnecessárias, nem a máquina partes desnecessárias. Isso não quer dizer que o autor faça breves todas as frases, nem que evite todo detalhe, nem que trate os temas só na superfície: apenas que cada palavra conta“.

Frase curta

Os segredos do estilo mais eficiente podem ser resumidos em 10 preceitos. Vamos ao primeiro. Nas próximas colunas, virão os demais.

1. Use frases curtas e incisivas. O leitor só consegue dominar determinado número de palavras antes que seus olhos peçam uma pausa. Se a frase for muito longa, ele se sentirá perdido, sem capacidade de compreender-lhe o completo significado. Por isso, use sentenças de, no máximo, duas linhas. Lembre-se de que uma frase longa nada mais é do que duas curtas.

Há formas e formas de encurtar a compridona. Em todas, a vedete é o ponto. O sinalzinho dá uma pausa ao leitor. Permite que ele respire e capte o que foi dito. Em suma: prepara-o para prosseguir. Onde usar o redondinho?

1. Transforme orações coordenadas em outro período:

Há quem leve a vida inteira a ler sem ter nunca conseguido ir além da leitura, ficam apegados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar à outra margem, a outra margem é o que importa.

Vamos aos pontos?

Há quem leve a vida inteira a ler sem ter nunca conseguido ir além da leitura. Ficam apegados à página. Não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio. Se estão ali é para que possamos chegar à outra margem. A outra margem é o que importa.


2. Substitua o gerúndio por ponto:

Alunos recém-aprovados no vestibular baterão às portas da universidade cheios de entusiasmo no início da nova jornada, podendo, porém, se decepcionar se não forem satisfeitas as esperanças que nutrem.

Venha, pausa:

Alunos recém-aprovados no vestibular baterão às portas da universidade cheios de entusiasmo no início da nova jornada. Poderão, porém, se decepcionar se não forem satisfeitas as esperanças que nutrem.

(Coluna publicada no suplemento Gabarito, que circula às segundas no Correio Brasiliense)