Fuel Age continua operação no DF; autoridades abrem investigação

Publicado em Consumidor, Sem categoria

Por Luiz Calcagno e Flávia Maia

Mais vítimas do suposto esquema de pirâmide financeira de combustíveis Fuel Age fizeram denúncias às autoridades. São, pelo menos, três representações só no Distrito Federal. O grupo de 22 pessoas esteve no Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) em busca de ajuda. A reclamação é de que os pagamentos prometidos com o investimento não foram efetuados. Além disso, os responsáveis pela empresa mudam de endereço e de telefone sem dar explicações. O órgão informou que deve repassar o caso para o Ministério Público do Estado de Goiás, pelo fato de a sede da companhia ficar em Goiânia. Mesmo com as investigações, o Correio apurou que os líderes do negócio continuam a recrutar mais pessoas em encontros previamente marcados.

Segundo informações repassadas na internet e pela Fuel Age durante as reuniões, são mais de 100 mil participantes. A empresa, no entanto, não tem autorização da Agência Nacional de Petróleo (ANP) para atuar no ramo de combustíveis. Dessa forma, operam a atividade ilegalmente no país. Uma mulher que preferiu se identificar se diz vítima do esquema. Ela investiu US$ 900 (R$ 3,1 mil, segundo a cotação do dia). Entre os benefícios de participar da pirâmide estava o retorno de até 200% e a possibilidade de usar um cartão para abastecer o carro na Rede Ipiranga. Porém, ao chegou ao posto, descobriu que o magnético era falso. A Ipiranga informou, em nota, que não tem nenhuma parceria com a Fuel Age.

Comunicado da ANP na página do Facebook

A mulher relatou, ainda, que sofre perseguição por levantar dúvidas sobre a idoneidade do negócio. “Estão me tirando dos grupos do WhatsApp e dizem que eu sou muito desconfiada. Além disso, insistem para eu colocar mais gente, mas eu não vou fazer isso”, comentou. Por falta de recebimento dos retornos prometidos e sem conseguir resolver a situação no DF, ela foi até a sede, localizada no Setor Marista, em Goiânia. Lá, atenderam apenas o interfone e não permitiram que ela subisse até o escritório. “Apenas disseram que a questão ia ser resolvida e me mandaram embora.” Segundo ela, na capital federal, os principais agenciadores são um pastor evangélico e um militar. As reuniões ocorriam em uma sala próxima à Praça do Relógio, em Taguatinga. Porém, mudaram de endereço.

A reportagem descobriu a localização do novo local e presenciou o último encontro, ocorrido na terça-feira. Havia cerca de 60 participantes na QC 6, no Riacho Fundo 2. Durou por volta de uma hora e meia. Inicialmente, havia sido divulgado que seria em uma lanchonete. Mas a apresentação aconteceu do lado de fora de um estabelecimento sem placa, que, entre os produtos vendidos, tinha remédio para emagrecimento, investimento em programas de compra da casa própria e equipamentos de filtragem de água de “fabricação japonesa” — esse último curaria a diabetes do tipo 2 após uma semana de uso.

O grupo, formado em sua maioria por gente humilde e homens, se reuniu a partir das 20h. Boa parte estava revoltada com a falta de informação e do retorno dos investimentos. Uma mulher comentou que pensou em investir R$ 600, mas decidiu por R$ 1,2 mil, para ter um ganho “mais rápido”. Ela disse, ainda, que entrou no esquema a convite de uma amiga, que disse receder muito dinheiro. Comentou estar constrangida por ter atraído outras pessoas. Uma senhora disse que viajou a Goiânia para reaver as perdas, mas não conseguiu. Poucos se mostravam conformados ou confiantes.

Ameaças

Por volta das 20h30, um homem identificado como Almir se apresentou como novo gestor do Fuel Age e iniciou o encontro dizendo que a situação da empresa era “delicada” e a prioridade seria pagar os investidores. Ele informou que as contas da companhia estão bloqueadas devido a problemas com uma terceira firma, que faz as movimentações financeiras. Negou que houvesse processos judiciais contra o grupo. E garantiu que tinha entregue uma “pilha” de notas fiscais para o Ministério Público Federal (MPF). Almir também criticou as pessoas que procuraram a Justiça, a quem chamou de desonestos e mal-intencionados. Segundo ele, elas queriam “sangrar a Fuel Age”.

Segundo Almir, a necessidade de dar respostas para o Ministério Público atrasavam os trabalhos e, consequentemente, a liberação das contas nos bancos e o pagamento dos “investidores”. O gestor prometeu resolver os problemas em menos de 50 dias. Mais tarde, entrou em contradição e negou que pudesse dar uma previsão. Por fim, sem dar certeza, mencionou a possibilidade de um novo encontro em 30 dias. Almir acrescentou que se encontrará na Bahia com um paquistanês chamado Salim. O empresário estrangeiro estaria interessado em colocar dinheiro na Fuel Age “em um nível superior” e poderia até inovar as possibilidades de investimentos e estendê-las ao mercado internacional.

Almir alegou que aguardava uma resposta dos bancos para cerca de 15 dias. Além disso, faria uma auditoria para identificar falsos investidores. Pediu que os presentes enviassem uma cópia da Carteira de Identidade, do CPF e de um comprovante de residência para o site do grupo, o que facilitaria o levantamento. No término da reunião, alguns que estavam mais temerosos decidiram continuar no negócio.

Investigações

O Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) informou que aguarda um parecer da Polícia Federal sobre a investigação criminal. Em relação a parte de crime contra o consumidor e a ordem econômica, o MPF-DF informou que elaborou um despacho declinando da competência e passando para o MPDFT. Este, informou que deve enviar as representações para o Ministério Público do Estado de Goiás. A PF limitou-se a dizer que segue com os trabalhos de investigação. O Correio tentou contato com os responsáveis pela Fuel Age, mas não conseguiu. O telefone da central de atendimento não atende, assim como o e-mail enviado não foi respondido.