Fernando Cesar

“Sabemos que estamos em ano de eleição e que haverá ataques aos cofres públicos”, diz delegado-chefe da Cecor

Publicado em CB.Poder

Bruno Lima

A Polícia Civil do Distrito Federal criou, nesta sexta-feira (19/01), uma a coordenação de combate ao crime organizado, contra a administração pública e a ordem tributária. A ideia é evitar o retrabalho de esferas da corporação, integrar as investigações e dar mais celeridade aos processos. À frente da coordenação especializada, batizada de Cecor, está o delegado Fernando César Costa, até então comandante da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF).

 

O novo núcleo reúne grandes investigações, como a Drácon, que apura a concessão de emendas parlamentares em troca do recebimento de propina, e a Panoptes, a qual desarticulou um esquema de venda de aprovações em concursos públicos e vestibulares. O time conta com o delegado Wenderson Souza e Teles à frente da Divisão de Repressão aos Crimes contra a Administração Pública (Decap); Adriano Valente na Divisão de Repressão ao Crime Organizado (Deco); e Virgilio Agnaldo, responsável pela Divisão de Repressão aos Crimes contra a Ordem Tributária (Dicot).

 

Ao todo, atuarão na Cecor  70 a 80 agentes, 10 a 11 delegados, além de 10 a 11 escrivães. Ao Correio, o chefe da Coordenação disse conhecer as dificuldades e a magnitude do desafio, mas classificou a nomeação como “um momento único”. “Encaro como uma oportunidade de trabalhar em parceria com o Ministério Público e com o poder Judiciário na construção de uma Brasília melhor”, ressaltou. Confira a entrevista completa.

 

Como a união das estruturas de três delegacias reforçará as investigações de cada uma delas?

Acontecia, muitas vezes, de uma delegacia fazer um trabalho que impactava na investigação de outra unidade. Isso gerava um retrabalho, um conflito entre essas unidades durante investigações. Trazendo para o mesmo guarda-chuva da coordenação, vamos evitar isso e tratar de uma forma mais eficiente a repressão a esse tipo de conduta (crime organizado), sem contar na possibilidade de uma mobilização de efetivo. Vai dar mais agilidade às investigações.

 

Em ano eleitoral, as investigações envolvendo agentes públicos serão intensificadas?

Nós sabemos que estamos em ano de eleição e que vai haver ataques aos cofres públicos, visando um aparelhamento para o pleito. Sabemos que, possivelmente, vá haver uma arrecadação de recursos não contabilizados, também pensando nas próximas eleições, independentemente de partidos e candidatos. Isso, sem dúvida nenhuma, vai ser alvo de monitoramento por conta da nova coordenação.

 

Como avalia a resistência que parte da corporação tem mostrado em relação à mudança?

Essa resistência é, sobretudo, daquelas pessoas que têm algum receio de acabarem sendo alvo das investigações que serão feitas por essa nova unidade. É a única leitura que eu consigo fazer. Não houve impacto financeiros, não houve prejuízo para as unidades de polícia circunscricional. Nós estamos somando esforços para combater a corrupção e permitir, com isso, que o Estado tenha melhores condições de atender a sociedade. Quem se opõe a isso é quem tem algum interesse não republicano.

 

De onde virão os recursos da coordenação?

Nós estamos incrementando a capacidade de investigação dessas unidades sem gerar despesas para o governo com criação de cargos. Isso é muito importante, estamos otimizando estruturas de investigação. Cada uma das divisões contava com uma unidade de investigação específica. Com o novo formato, a Decap e a Deco passam a contar com três seções de investigação. Triplica a capacidade sem aumento de despesa do governo. É uma questão de realocação dos recursos e da estrutura.

 

Como você encara esse desafio?

Esses seis em que eu estive à frente da DRF permitiram trabalhar com investigações complexas. Eu já tive uma experiência anterior na divisão de repressão ao crime organizado como diretor-adjunto. Passei quatro anos lá. Conheço as dificuldades, sei que é um grande desafio, mas sei que é um momento único. Encaro como uma oportunidade de trabalhar em parceria com o Ministério Público e com o poder Judiciário na construção de uma Brasília melhor.