Arquivo Público tira sigilo de documentos da ditadura
Arquivo Público tira sigilo de documentos da ditadura Crédito: Arquivo CB/D.A Press. Arquivo Público tira sigilo de documentos da ditadura

Arquivo Público tira sigilo de documentos da ditadura

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Depois de quase três décadas de sigilo, o Arquivo Público abriu consultas ao acervo histórico de documentos da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. São quase 100 caixas de documentos com informações do período de 1963 a 1990, que estavam guardadas no órgão há 18 anos. A papelada inclui recortes de jornais, informações de investigação sobre movimentos políticos, reuniões e congressos estudantis, além de boletins de ocorrências e registros sobre manifestações populares. O grande interesse é em torno de bastidores da época da ditadura militar, mas também há informações de episódios como o famoso Badernaço – um grande protesto, realizado em 1986, contra o Plano Cruzado (foto).

Militares vigiavam UnB e assembleias de sindicalistas

As atividades do movimento estudantil da Universidade de Brasília ocupam boa parte do espaço. Mas há também informações de bastidores de encontros, como um movimento de taxistas, em 1978, para acabar com a exigência de uso de uniforme, ou uma reunião de moradores da Vila Planalto, em fevereiro de 1986. A Jornada Democrática por Eleições Livres e Diretas, organizada em outubro de 1978, foi monitorada e a documentação faz parte do arquivo. Há ainda detalhes sobre uma grande assembleia de sindicalistas, em agosto de 1980, que contou com as presenças do deputado Ulisses Guimarães, do senador Tancredo Neves e de Luiz Inácio Lula da Silva.

 

Imprensa sob controle na ditadura

Em 1983, os militares monitoravam de perto as ações da imprensa. Os documentos secretos da Secretaria de Segurança Pública revelam como, naquele ano, agentes seguiram os passos de repórteres da Veja, que apuravam informações nas residências oficiais. “O Serviço de Segurança do Ministro do Interior tomou conhecimento da presença de pessoas estranhas, provavelmente repórteres, nas cercanias da residência oficial do ministro, na Península Sul, nesta capital, toda vez que o lixo daquela residência era coletado”, diz um trecho do relatório.

 

“Recuperação de fatos históricos”, segundo Arquivo Público

Entre os brasilienses monitorados, cujos documentos acabam de ser liberados, está a deputada federal petista Érika Kokay. Ex-aluna da UnB, ela participou da luta estudantil e disputou o comando do DCE da universidade no início dos anos 1980. No acervo censurado também há informações sobre manifestações realizadas em 1990, por trabalhadores sem-terra. No fim do ano passado, o governo publicou edital reconhecendo os documentos da Secretaria de Segurança Pública como “necessários à recuperação de fatos históricos de maior relevância”. O GDF deu prazo de 60 dias para manifestações e, como não houve questionamentos, o acervo agora está digitalizado e disponível para consultas.