Missão Cruls exaltava fartura de água na nova capital

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Integrantes da Missão Cruls cruzam rio no atual território do DF/ Foto de Henrique Charles Moriz
Integrantes da Missão Cruls cruzam rio no atual território do DF/ Foto de Henrique Charles Moriz

“É exuberante a fertilidade do solo; a salubridade, proverbial; grande abundância de excelente água potável; rios navegáveis, extensos planos sem interrupções importantes; soberbas madeiras de construção de suas grandes florestas; tudo, enfim, que tem as mais estreitas relações com os progressos materiais de uma grande cidade e com o bem-estar de seus habitantes.”

A constatação está no relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central. Com a Constituição Federal de 1891, foi instituída a Missão Cruls, que teve como tarefa fazer um estudo científico do Centro-Oeste e definiu uma área de 14 mil km² para abrigar a nova capital. Em sua investigação, os cientistas expedicionários registraram características climáticas, topográficas, hidrográficas, e também da fauna e da flora.

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O trabalho dessa comissão foi fundamental para a escolha do local onde está construída Brasília. A abundância de água era essencial na formação de uma metrópole. No entanto, 125 anos depois da Missão Cruls ter iniciado sua jornada pelo Planalto Central, a nova capital atravessa a sua pior crise hídrica. Córregos e ricos estão secando. Os mais de 2 milhões de moradores convivem com rodízio no abastecimento de água. Muito, por culpa da falta de planejamento e de políticas de conivência e incentivos a ocupações irregulares do solo.

Integrantes da Missão Cruls sobre o Rio Descoberto, no atual território do DF/ Foto de Henrique Charles Moriz
Integrantes da Missão Cruls sobre o Rio Descoberto, no DF/ Foto de Henrique Charles Moriz

Missão pioneira

No século 18, o governo português já cogitava a possibilidade de transferir a capital do Brasil para o interior — medida defendida em outros momentos históricos. Ainda no Império, o patriarca da Independência, José Bonifácio, defendia a transferência da capital para a mineira Paracatu. Na República, o artigo 3º da Constituição Federal de 1891 determinou a demarcação do território para construção da futura capital do Brasil.

Integrantes da Missão Cruls em cachoeira do Rio Cassu/ Foto de Henrique Charles Moriz
Integrantes da Missão Cruls em cachoeira do Rio Cassu/ Foto de Henrique Charles Moriz

Em 1892, o então presidente Floriano Peixoto instituiu a Comissão Exploradora do Planalto Central, por meio da Portaria 114-A. Chefiados pelo astrônomo e geógrafo belga Louis Ferdinand Cruls, integravam a equipe pesquisadores, geólogos, geógrafos, botânicos, naturalistas, engenheiros e médicos, entre outros. De 1892 a 1894, eles fizeram estudos científicos até então inéditos no Centro-Oeste, mapeando aspectos climáticos e topográficos, além de estudar a fauna, a flora, os cursos de rios e modo de vida dos habitantes. Cruls voltou à região no segundo semestre de 1894 para concluir alguns estudos e definir a região exata de Brasília dentro dos 14,4 mil km² demarcados pela comissão.

Quem foi Louis Cruls

Antes da missão ao futuro Distrito Federal, o astrônomo e geógrafo belga Louis Ferdinand Cruls dirigiu o Observatório Astronômico do Rio de Janeiro. Ele liderou outras expedições científicas importantes dos séculos 19 e 20, como a observação da passagem de Vênus pelo disco solar em 1882 e a conferência internacional que definiu o meridiano de Greenwich como referência para todas as nações. Nascido em Diest em 1848, Cruls morreu em Paris, a 21 de junho de 1908.