Enquanto o Brasil descia a ladeira

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Ninguém se iluda. O governo Dilma também faz parte do retrovisor

Os números divulgados ontem pelo IBGE sobre a recessão de 2016, uma queda de 3,6% do PIB, mostram o tamanho da desaceleração da economia no governo Dilma. Ao contrário do que apregoam os adeptos da narrativa do golpe, que querem atribuí-la ao impeachment, a recessão poderia ser ainda maior caso a petista não tivesse sido afastada do poder, pois em 2015 chegou a 3,8%. Experiências voluntaristas no comando da economia costumam causar grandes danos. Foi o que aconteceu na União Soviética com as “coletivizações forçadas” de Stálin, na década de 1930, e na China de Mao, com o “Grande salto para a frente”, na década de 1950. Desabastecimento e fome mataram milhões de pessoas.

O Brasil não chegou nem perto disso, apesar dos 13 milhões de desempregados, mas poderia ter afundado ainda mais, se não fosse o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A recessão atual é a pior da história, maior até que a de 1930 e 1931, quando as retrações foram de 2,1% e 3,3%, respectivamente. Pela primeira vez desde 1996, todos os setores da economia registraram taxas negativas, com exceção do agronegócio. “Se a gente olhar o biênio, a retração foi de 7,2%. A gente nunca teve um biênio com uma queda acumulada dessas”, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

A economista Monica Baumgarten de Bolle, no livro Como matar a borboleta-azul — Uma crônica da era Dilma, demonstra que, do primeiro dia do primeiro mandato da petista até o afastamento, imposto pelo processo de impeachment, a gestão da economia foi irresponsavelmente voluntarista. Compara a gestão dela à política de combate a uma praga de coelhos que ameaçou destruir as plantações em fazendas no interior da Inglaterra, nos anos 1970. A solução encontrada pelo governo foi espalhar um vírus que dizimou os coelhos. A diminuição da população de coelhos provocou o aumento das ervas daninhas, que, por sua vez, destruíram a grama que alimentava as formigas. As formigas protegiam os ovos da borboleta-azul: sem formigas, a espécie desapareceu. A metáfora resume os erros e desacertos da presidente.

Os números assustaram o mercado. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, bem que tentou minimizar o impacto do resultado negativo. Reiterou que a economia deve crescer pelo menos 0,5% neste ano, e ultrapassar os 2% em 2018. O “olhar no retrovisor”, expressão usada pelo ministro, porém, embaçou o vistoso programa de concessões de R$ 45 bilhões lançado ontem pelo presidente Michel Temer. Mas ninguém se iluda. O governo Dilma também faz parte do retrovisor. O Planalto precisa injetar ânimo no mercado, o que é difícil com a taxa de juros correndo atrás da queda da inflação, que pode ficar bem mais baixo do que o centro da meta, de 4,5%. Além disso, existe a Operação Lava-Jato, que domina a cena política toda vez que surge uma acusação contra o governo Temer. A dimensão do escândalo só aumenta.

Bilhões e bilhões
O ex-responsável pelo Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht Hilberto Mascarenhas, que movimentava os recursos de caixa dois para as campanhas eleitorais, revelou em seu depoimento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que foram repassados pelo esquema, entre 2006 e 2014, US$ 3,370 bilhões. No Brasil, a propina representava 20% desse total de recursos. Nas eleições de 2014, foram gastos US$ 450 milhões. Mascarenhas confirmou o repasse de $ 16 milhões para a mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura.

Ontem, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no âmbito da Operação Lava-Jato. Acusado de ter recebido propina de R$ 500 mil por meio de doação oficial para sua campanha ao Senado em 2010, é o segundo político com mandato que vira réu; a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), fiel escudeira da ex-presidente Dilma, foi a primeira.

Para obter doações eleitorais, o senador do PMDB teria pedido ajuda ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que acionou o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. O doleiro Alberto Yousseff teria viabilizado a doação por meio da empreiteira Queiroz Galvão, que mantinha contratos com a Petrobras. O dinheiro desviado da estatal teria sido “lavado” por meio de duas doações ao PMDB de Rondônia. A aceitação da denúncia não caracteriza culpa de Raupp e outros acusados, mas, se a ligação entre o dinheiro desviado da Petrobras e as doações legais se confirmar, a jurisprudência criada na Segunda Turma jogará por terra toda a estratégia de defesa dos partidos que alegam ter recebido doações legais da Odebrecht porque “esquentaram” o dinheiro da propina.