VISTO, LIDO E OUVIDO

Publicado em Íntegra

circecunha@gmail.com; arigcunha@ig.com.br

Um ano de páginas novas

Distribuídos em alguns colégios públicos, os livros da editora Educar, DPaschoal são para fazer pensar. Nada de lobo engolindo meninas ou caindo em caldeirão. As histórias se passam no Brasil, com mandacarus e rendas de bilro. A criançada é despertada ao conhecimento de nutrição, atitudes positivas, comportamento, regionalismos, reinserção na sociedade, problemas do preconceito.

Envolvidas em uma sociedade consumista, em que novelas e fofocas ocupam grande parte da vida de adolescentes, nada como tentar mudar pela leitura. Os mais novos que forem estimulados a ler só ganharão com isso. André Schmidt, aos seis anos, leu mais de 150 livros. Tainá Alves dos Santos de Catanduva, com 12 anos, da 6ª série, já tinha lido 230.

Uma criança reclamava da biblioteca da escola que não emprestava livros até que o aluno devolvesse o que tinha levado. O pequeno estava revoltado porque queria fazer comparações. Dizia que aquilo era uma injustiça. As ilustrações dos livros da Educar são atraentes e estimulam o apego às histórias. Em uma delas, Chapeuzinho de Palha aprende a ler e conta a história do seu primeiro livro.

O livro é um amigo que precisa ser conservado e passado para quem gosta da leitura. Na coleção “Para mudar o mundo”, a ideia é atravessar as paredes da escola e mostrar a cidadania no dia a dia dos professores, alunos lembrando a responsabilidade também dos pais.

As crianças estão expostas aos escândalos na política. Veem pela televisão autoridades se xingando no Supremo Tribunal. Envolvimento de políticos em corrupção. É preciso orientá-las sobre que é certo e errado. Há também as notícias de pessoas que devolvem o que encontram. É gente simples que teve berço. O mesmo que falta a tantos abastados.

Em outro livro, No duelo das fadas, as proteínas, carboidratos e fibras estão na berlinda. O desafio é descobrir quem é o melhor. Até uma cartilha de receitas é criada pelo leitor. Excelente ideia para um país entre a fome e a obesidade. O Fome Zero tiro tirou muitos brasileiros da situação de miséria. Mas falta educação para aproveitar o alimento regional. A desnutrição é do tamanho do alimento desperdiçado.

Fadas e borboletas foi feito em parceria com o Instituto CF-Brasil. No livro, Angelina vive nas ruas e todo o seu sentimento é segredo. Não porque ela queira, mas porque ninguém queria saber. Até que algo acontece. Quem vive na rua diz que o mais doído é a falta do olhar. As pessoas passam e ignoram a presença do mendigo ou até mesmo do trabalhador mais simples. São incapazes de dar nem que seja um sorriso.

Voltando às escolas, ao fim das leituras, os professores devem explorar o assunto com a janela da leitura, dramatização, gravações, em que a criançada recapitula e apreende tudo o que foi apresentado sobre o tema. O fantasma dos vaga-lumes é uma chamada à cidadania, conscientização e educação.

É próximo às crianças de Brasília. Ricos de um lado e pobres de outro. Do Varjão aos condomínios, do Setor de Mansões do Lago ao Paranoá e Itapuã. Isso em uma cidade criada com o princípio do socialismo, onde todos deveriam ocupar o mesmo espaço. Na verdade, foram para o espaço, bem longe, nas cidades satélites. Depois de ter devorado o livro durante as aulas, há discussões, vídeos, teatrinho, dinâmicas, sarau literário e por aí vai.

O Pneu chorão é imperdível. Lembra o volume do contêiner despachado para o Brasil cheio de lixo. Desperta para a importância do progresso limpo. Uma lição de reciclagem e conscientização ambiental contamina também a família dos garotos. As mães são estimuladas a separar o lixo e reaproveitar tudo o que for possível. É interessante observar a animação da criançada. E assim a sociedade se transforma.

Os títulos também são atraentes. A semente da verdade trabalha ética e atitude. A criança que fizer nascer de uma semente morta a planta mais linda reinará com o poder de ser sempre boa. As professoras mostram as vantagens da determinação e da verdade. São livros que, semeados nas mentes em crescimento, ficam arraigados para sempre. Quem sabe tenham o poder até de criar pessoas melhores, governantes mais honestos. Um povo mais educado, com certeza. Alice queria sempre coisas novas e não dava importância ao que já tinha. O consumismo insano também é trabalhado no livro O sapo e o jardim florido. Sandra Aymone, Patrícia Secco e Luís Norberto Pascoal são a comissão de frente na escrita dos livros infantis.

(Coluna originalmente publicada em 1º de janeiro de 2010)

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