Ufanismo versus complexo de vira-lata

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Diferentemente do que muitos possam pensar, a distância a separar o ufanismo, que seria segundo os dicionários, uma espécie de orgulho exagerado pelo país de origem, e o chamado vira-latismo, que seria seu oposto, ou seja, um complexo de inferioridade sentida pelos brasileiros com relação a outros países, sobretudo os mais desenvolvidos, é mínima, quase fronteiriça.

Ambos são descritos pela Psicologia como complexos, ou seja, ligados ao inconsciente humano e possuem o mesmo ponto de partida que são os sentimentos de inferioridade. Enquanto o ufanista projeta seus sentimentos de inferioridade em outrem, criando para si uma posição ilusória de superioridade, o portador do chamado complexo de inferioridade busca se tornar superior ao outro pela busca de compensações ou comportamento antissocial e excêntrico.

Tanto o ufanista como o portador do complexo de vira-lata comungam uma espécie de inferioridade cultural. O dramaturgo, jornalista e escritor Nelson Rodrigues (1912- 1980) foi o criador da expressão “Complexo de vira-lata”. Ao observar em artigo publicado naquela ocasião que a derrota da Seleção Brasileira de Futebol para o Uruguai em 1950, em pleno Maracanã, provocara uma espécie de desalento traumático e de catarse de tal ordem na população, que tal fato teria se convertido numa espécie de vira-latismo coletivo, com os cidadãos reclamando não apenas contra a ilusão do futebol, mas principalmente associando essa derrota com as precárias condições de vida, social, política e econômica dos brasileiros em geral.

Em sua definição, tal fenômeno tinha uma explicação: “Por “complexo de vira-lata” entendo eu, a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.” Nesses setenta anos que nos separam daquele momento raro de introspecção histórica e coletiva, com relação a esses tipos específicos de complexos, é possível afirmar que pouca coisa mudou desde então no subconsciente do brasileiro. Apenas o futebol deixou de ser a pátria de chuteiras, passando a ser uma indústria semelhante ao Show Business, com os jogadores suando a camisa ou despencando campo adentro apenas por dinheiro.

No campo social, político e econômico, o país permanece o mesmo, com as desigualdades históricas de sempre, com os políticos mais caros e mais corruptos do planeta e com um cenário econômico onde as melhorias alcançadas em muitos setores, resultam em enriquecimento e maiores concentrações de renda para poucos. O complexo de inferioridade ou de vira-lata ainda persiste como uma característica cultural marcante, devido justamente a essa ausência de pretextos ou de esteios históricos que induzam a nação à autoestima.

O uso do futebol como instrumento de “ufanização”, como feito por muitos governos, já não funciona como antes. Há até quem argumente que a derrota de 7 x 1 para a Alemanha na Copa de 2014 marcaria, de forma sombria, o início da derrocada do governo de esquerda, prenunciando o que viria a ser, do ponto de vista político, e principalmente no aspecto financeiro, um período marcado pela maior e mais devastadora depressão econômica da história.

Perto da catarse coletiva de 50, que levou Nelson Rodrigues a cunhar a expressão de “complexo de vira-lata”, a derrota da seleção, sessenta e quatro anos depois, no estádio do Mineirão, por um placar humilhante, serviu não apenas para reafirmar a tese do dramaturgo, ainda não integrada aos compêndios da Psicologia, como desmascarou e pôs abaixo todo um cenário armado ardilosamente pela elite política para esconder o Brasil real sob o tapete de grama dos campos de futebol.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A primeira riqueza natural, sendo mais nobre e vantajosa, torna a população descuidada, orgulhosa e dada a excessos; ao passo que a segunda riqueza, a adquirida pelo trabalho, desenvolve a vigilância, a literatura, as artes e as instituições políticas.”

Thomas Mun (1571-1641), escritor inglês de economia.

Imagem: beforeeconomics.wordpress.com

 

 

Bom para o BR

Será lançado, ainda esse ano, pela editora RIBA, o livro de Edward Barsley, Retrofitting for Flood Resilience: A Guide to Building & Community Design, voltado para construtores, financiadores, arquitetos e engenheiros. Veja, no link Building a flood resilient future, que trabalho espetacular para defender a comunidade acostumada com enchentes.

 

 

 

Em paz

São muitos os envolvidos nesse projeto para que tudo dê certo, mas dois nomes se destacam: Larissa Polejack e Ileno Izídio. Trata-se de um trabalho da UnB que reforça ações para uma qualidade de vida melhor voltada tanto para a comunidade quanto para os funcionários da própria universidade, tanto da saúde física quanto mental. A UnB faz parte da Rede Brasileira de Universidades Promotoras de Saúde (Rebraups). Veja a matéria completa de Serena Veloso a seguir.

 

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O serviço telefônico de Brasília, contra o qual nós sempre reclamamos, já é um dos melhores do Brasil, e, embora não autorizado a publicar, não se surpreendam, vocês, se em breve as ligações para o Rio forem feitas pelo próprio assinante, com a ligação de um número a mais para o circuito com a Guanabara. (Publicado em 15/12/1961)

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