Marcha para a ditadura

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Arquivo O Globo

 

Em continuidade ao que foi apresentado ontem, aqui neste espaço, sob o título “O uso do santo Nome em Vão”, a pretexto de se mostrarem como legítimos representantes de Deus na Terra, vangloriando-se de uma iluminação divina que, absolutamente, não possuem, muitos indivíduos chegam ao paroxismo de ameaçar seus semelhantes, mesmo que essa atitude contrarie tudo o que está expresso nas escrituras sagradas.

Não se furtam ou se avexam em se proclamarem ungidos, sobretudo quando encontram abrigo e proteção junto aos poderosos. Durante a década de hegemonia do chamado lulopetismo, que viria a findar com a deposição da tresloucada presidenta Dilma, o capelão, que fazia o ligamento entre o mundo espiritual e temporal, despachando diretamente de dentro do Palácio do Planalto, era o Frei dominicano Carlos Libânio Christo ou, simplesmente, Frei Betto. Era ele quem orientava o então presidente Lula, sabidamente um fariseu materialista nas coisas do céu. Lula fingia que ouvia e seguia a pregação, até para mostrar algum traço de caráter piedoso para a população. Obviamente que era tudo uma grande e vazia encenação. Pelo menos da parte de Lula, que depois da mosca azul, frei Betto desistiu.

Com a chegada inusitada da direita política ao Poder, o mesmo apelo oportunista e marqueteiro ao mundo espiritual foi novamente encenado diretamente do Planalto. Nessa oportunidade, em vez de um capelão, o chefe do Executivo se acercou do mais variado grupo de pastores neopentecostais. Hábeis e gananciosos, esses falsos profetas são, na verdade, proprietários de rendosos conglomerados de templos, rádios, redes de televisão, jornais e outros negócios, usando dessas igrejas para esquentar uma grande movimentação de dinheiro e para esfriar os ânimos da Receita Federal.

Por possuírem um grande rebanho de fiéis e doadores de dízimos, esses pastores, em pele de cordeiro, são hoje os legítimos guias espirituais de um presidente afoito e que é capaz de tudo para se reeleger. Num mundo ideal e banhado pela luz da ética, seriam como náufragos que se abraçam desesperadamente para não afundarem.

A cada visita desses magos à corte, algum milagre acontece. Da última vez que lá estiveram, conseguiram o perdão para R$ 1,4 bilhão em dívidas dessas igrejas junto ao fisco. Trata-se de uma façanha e tanto, impossível de ser obtida pelo crente comum. O uso de pseudo religiosos por políticos populistas sempre rendeu péssimos frutos para a sociedade.

Essa sexta-feira última marcou os 57 anos da realização da famosa manifestação, acontecida em 1964 em São Paulo, às vésperas do golpe militar. Intitulada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, esse movimento que chegou a agrupar entre 500 mil e 800 mil pessoas naquela distante tarde na Praça da República, deu como frutos 21 anos de ditadura. Talvez tenha sido um castigo pelo uso inapropriado do Santo Nome em vão.

 

A frase que foi pronunciada:

No princípio será o verbo ou a verba.”

Ministro Carlos Fernando Mathias de Souza. Magistrado federal aposentado e vice-presidente do Instituto dos Magistrados do Brasil.

Charge: latuffcartoons.wordpress.com

 

Segredo

Por falar em Carlos Mathias, aí vai um segredo: no dia 25 deste mês, ele troca de idade.

Carlos Fernando Mathias de Souza.                      Foto: institutoiib.org

 

E a contrapartida?

Pela Medida Provisória n° 994, de agosto de 2020, a Presidência da República abriu crédito extraordinário de um bilhão, novecentos e noventa e quatro milhões, novecentos e sessenta mil e cinco reais, em favor do Ministério da Saúde, com objetivo de garantir ações necessárias à produção e disponibilização de possível vacina segura e eficaz na imunização da população brasileira contra o Coronavírus (Covid-19). Verba não faltou.

Foto: Sérgio Lima/Poder360

 

Construcell

Falta muito para o governo brasileiro se atinar ao valor do filão da criatividade de cientistas brasileiros. Leia, a seguir, a saga de Reginaldo Marinho com a sua criação. Portas fechadas, janelas fechadas no Brasil, enquanto outros países avançam e ganham divisas. Outra cientista que pena com o descaso é Suzana Herculano-Houzel. Até vaquinha já fez para manter as atividades em laboratório.

Charge do Duke

A centelha que faltava

Reginaldo Marinho

A coluna Essas Coisas do jornalista Carlos Aranha, de sábado 27/02/21, no jornal A União, de João Pessoa, único periódico impresso remanescente na Paraíba e único jornal estatal no Brasil, foi a centelha que explodiu a energia que estava concentrada em minha alma havia mais de duas décadas.

A coluna foi dedicada à resenha sobre o romance “A máquina de madeira” – referindo-se ao protótipo de madeira da primeira máquina de escrever – do escritor paranaense Miguel Sanches Neto sobre o paraibano Padre Azevedo, patrono de uma das cadeiras da Academia Paraibana de Letras e inventor da máquina de escrever.

Como uma coluna publicada em um jornal estatal que ninguém nunca havia prestado atenção, onde eu não era o foco, pode mobilizar-me tanto? Quando importantes matérias sobre a minha invenção já ocuparam generosos espaços de grandes jornais brasileiros – posso citar Jornal do Brasil (com chamada na capa), a coluna de Eliane Cantanhede dam Folha de São Paulo, Correio Braziliense, Diário de Pernambuco, Revista Nordeste, Folha do Meio Ambiente, Jornal do Confea e portais institucionais como do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, Confea e do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, CAU/BR – e algumas importantes reportagens para a TV Globo Nordeste, TV Bahia, TV Correio da Paraíba e TV Cabo Branco, cujos vídeos estão no link do Vimeo.

Nenhuma dessas matérias estimularam tanto a minha alma quanto a coluna de Carlos Aranha, simplesmente porque a história de Padre Azevedo me levou a uma viagem de duas décadas de fracassos, diante da poderosa inoperância da administração pública brasileira face às perspectivas tecnológicas.

O Correio Braziliense publicou uma página inteira com a matéria intitulada O PLÁSTICO “DO BEM”, a coluna do Ari Cunha, sob a coordenação da jornalista Circe Cunha, também do Correio Braziliense, escreveu parte de minha saga em “É preciso descobrir o Brasil”.

Quando eu conquistei a minha primeira medalha de ouro, a jornalista Eliane Cantanhede, que era colunista da Folha de São Paulo, escreveu o artigo intitulado “Invenção é coisa séria” dedicado à minha premiação, onde ela conclui assim: “Governo, iniciativa privada e jornalistas, como eu, pecamos pela omissão. Parabéns, Reginaldo Marinho! E mil desculpas para você e os pirados como você.” Quando o Padre Landell de Moura solicitou ao presidente Rodrigues Alves dois navios para demonstrar a transmissão do rádio em alto mar, um assessor palaciano disse: “Excelência, o tal padre é maluco.” A história se repete.

O então senador Lucio Alcântara não deixou por menos. O mesmo tom depreciativo foi usado por ele, na sessão da Comissão de Educação do Senado Federal, quando aprovou a instituição do Dia Nacional do Inventor e o meu nome foi o do único inventor citado naquela sessão: “Já o senador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) entende que a iniciativa deve ser apoiada, por se tratar de um estímulo aos inúmeros “professores pardais que existem por esse Brasil a fora. “Ele citou o exemplo de um rapaz, Reginaldo Marinho, um paraibano, que andava ‘pelos corredores do Senado’, pedindo apoio para uma invenção que acabou não sendo sequer examinada por nenhum órgão especializado no Brasil.

O jovem paraibano, conta o senador, acabou recebendo um grande prêmio internacional, depois de concorrer com inventores de mais de 30 países, em um concurso realizado mês passado na Europa.

O senador Lúcio Alcântara esqueceu de dizer que eu visitava os gabinetes parlamentares, como presidente da Associação Brasileira dos Inventores e da Propriedade Industrial, para tentar convencê-los de que o Brasil deveria adotar políticas eficientes de fomento ao desenvolvimento de tecnologias nacionais. As minhas sugestões foram nulas. Foram duas décadas perdidas. A linguagem do senador denuncia o desprezo que os políticos dedicam a quem atua na área de Ciência e Tecnologia. É uma tristeza imensa.

Nessas duas décadas de silêncio, as pautas das matérias publicadas sobre a minha invenção apenas tangenciaram o verdadeiro problema, que é o boicote sistemático ao desenvolvimento nacional, pela via tecnológica.

Eu falo de uma tecnologia brasileira premiada com medalhas de ouro em salões internacionais de invenções e novas tecnologias realizadas em Genebra e Londres. O sistema construtivo Construcell, além das medalhas de ouro, foi classificado em primeiro lugar (nota média 9,05), num edital do Ministério da Ciência e Tecnologia para apoiar startups, obtendo nota DEZ em Grau de Inovação, que introduz dois paradigmas à engenharia: primeira estrutura do mundo em resina plástica e primeira construção que pode ser totalmente transparente e receber uma placa fotovoltaica em cada módulo e transformar a construção em uma usina solar.

Eu fiz a inscrição no Edital Prime – o primeiro do governo federal para apoiar inovação – porque eu queria uma avaliação oficial do Ministério da Ciência e Tecnologia, pois conversa com ministros não me levaram a nada. Mesmo assim, a decisão não foi imediata, por causa do objeto contraditório do edital. Como o primeiro edital para apoiar inovação poderia ser para a contratação de consultorias? É como se você começasse a casa pelo telhado. A Finep prometeu financiar cada tecnologia aprovada no ano seguinte à execução do programa. Não cumpriu. Eu tentei inscrever a invenção no PRÊMIO FINEP DE INOVAÇÃO, mas a Finep só aceita inscrições de empesas com mais de três anos de sucesso financeiro. Aí, eu pergunto. COMO SE PODE COMEÇAR A INOVAR NO BRASIL?

O engenheiro Argemiro Brito da Franca, um dos mais desafiadores calculistas do Brasil, autor do cálculo estrutural da maior estátua católica do mundo, a Santa Rita de Cássia, com 50 metros de altura, quem introduziu o EPS nas estruturas e criou as vigas bidirecionais; ele declarou em entrevista ao programa Correio Espetacular (veja Vimeo) que a tecnologia Construcell tem grau de inventividade do nível criativo de Leonardo Da Vinci e de Pier Luigi Nervi.

Foi o próprio engenheiro Argemiro Brito da Franca quem elaborou o cálculo estrutural para o protótipo de uma cobertura com 10 metros de raio e 30 metros de comprimento.

Construcell é uma tecnologia desenvolvida no passado para resolver problemas do presente e do futuro, absolutamente comprometida com a SUSTENTABILIDADE.

Concretamente, Construcell oferece uma oportunidade única de transformar o lixo de todas as garrafas PET do mundo em belíssimas construções sustentáveis, que poderão ser usadas em ginásios poliesportivos, viveiros para agricultura, armazéns, galpões industriais, escolas, espaços culturais e outras aplicações comerciais, civis e militares.

Um dos tantos crimes praticados contra a nossa tecnologia ocorreu no Ministério da Agricultura, após uma reunião com o ministro, em audiência com o secretário de Agricultura do Distrito Federal, com a solicitação de recursos para a construção de um protótipo da nossa tecnologia, haja vista a elevada demanda histórica para cobrir o déficit de armazenagem, que alcançou o déficit incompreensível de 81 milhões de toneladas com previsão de ultrapassar 100 milhões/ton na próxima safra. O processo recebeu um parecer favorável da equipe técnica do ministério e, no ano seguinte, o referido processo foi subtraído do banco de dados do Ministério da Agricultura.

O meu nome foi incluído numa lista de 60 Grandes Brasileiros, elaborada pelo professor Moacyr Costa Ferreira da Universidade de Guaxupé/MG e publicada na Central de Mídia Independente. A tecnologia Construcell foi publicada em The Eco-Design Handbook de Alastair Fuad-Luke.

A tecnologia Construcell foi o objeto da tese de mestrado da Professora Isabel Joselita Barbosa da Rocha Alves, foi avaliado como Produto Verde e gerou dois artigos no Laboratório de Estudos Contemporâneos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. A publicação destes dois artigos, sobre a mesma matriz do conhecimento, evidencia a prática acadêmica que ficou conhecida por “ciência salaminho”, onde o resultado de uma pesquisa é fatiado em vários artigos. Isto não é uma boa prática, gera apenas uma quantidade maior de artigos publicados, que não aferem o desenvolvimento científico de uma nação. É uma técnica semelhante ao rebaixamento do nível de avaliação na escola para aprovar mais alunos.

No final do século passado, a revista Veja publicou a matéria intitulada “Ganhou e não levou”, de Sérgio Ruiz Luz, na qual ele relata as dificuldades de outros grandes inventores brasileiros para serem reconhecidos no Brasil por suas invenções que ajudaram a mudar o mundo, como: Alberto Santos Dumont, o próprio Padre Azevedo, o Padre Landell de Moura e o franco-brasileiro Hercules Florence. São relatos deprimentes.

É sobre esse Brasil que eu sei falar. Aprendi duramente a conviver com o pensamento anacrônico que engessa o nosso desenvolvimento. Não dá mais. Chega. Foram anos perdidos de propostas, de conversas com ministros, governadores, prefeitos, senadores e deputados federais.

Em 1999, eu fui ao gabinete do então ministro Rafael Grecca, do Turismo, para apresentar a minha invenção, que poderia fazer o sucesso na Exposição Universal de Hannover, Expo2000. Uma Exposição Universal é o palco apropriado para as nações exibirem para o mundo os avanços da Ciência e Tecnologia de cada país, a cada quatro anos.

Eu já havia realizado duas conferências na Universidade de Brasília: uma no Mestrado em Estruturas e outra na Pós-graduação de Arquitetura, apresentei-me ao Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, que me encaminhou para expor a minha invenção para os membros de uma câmara dedicada a novos materiais e inovação. Os engenheiros e arquitetos foram surpreendidos com a qualidade da tecnologia apresentada e, após a apresentação, fui direcionado para a assessoria de imprensa do órgão, para fazermos a primeira matéria sobre o meu invento, no Jornal do Confea.

A Expo 2000 seria uma chance única para o Brasil atrair as atenções do mundo para a condição pioneira e desafiadora da engenharia nacional, num período tão emblemático da transição milenar, particularmente, sendo esse desafio uma edificação de luz.

O ministro não se encontrava e fui atendido por um arquiteto, no próprio gabinete ministerial, ele informou não ter visitado ainda o local da exposição e após a visita entraria em contato comigo; imediatamente, pediu que eu fizesse um ofício dirigido ao ministro Rafael Grecca. No ofício, eu descrevi a tecnologia e informei que, com ela, poderíamos construir uma lâmpada gigante para funcionar como pavilhão brasileiro, pois os módulos podem ser tamponados e lacrados para receber a injeção de gases que se iluminam como as lâmpadas fluorescentes. Ninguém se interessou e sequer respondeu. Fiz um e-mail para o presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que também não respondeu.

Quando faltava um mês para a inauguração, eu já estava na Europa, recebi um e-mail de uma assessora do secretário-executivo do Ministério da Agricultura e comissário-adjunto da delegação brasileira para a Expo2000, oferecendo o estande brasileiro para que eu exibisse uma maquete da invenção. Ela disse que estava fazendo aquele contato por determinação do comissário-chefe brasileiro da Expo2000 Paulo Henrique Cardoso. Eu estava na Europa e em 30 dias nada mais podia fazer.

Meses antes, eu fizera um contato com o diretor industrial Wolfgang Knobloc da matriz da Osram – uma das maiores fábricas de lâmpadas do mundo, sediada em Munique –, que ficou entusiasmado com a ideia que apresentei, a de construir uma lâmpada gigante – uma cobertura cilíndrica com dez metros de raio – e ele me convidou para uma reunião com outros três diretores na sede da corporação, às margens do rio Izar. Os executivos da Osram ficaram encantados com aquela possibilidade, mas informaram que um desafio daquela dimensão ficaria inviável por causa do elevado custo. Quanto seria esse valor? Foi dito que ficaria próximo de um milhão de dólares.

Eles não imaginariam que o Brasil estava gastando10 milhões de dólares no estande brasileiro da Expo2000 e que esteve ameaçado de ser interditado até o último momento, pelo Ministério Público Federal. “O relatório enviado pelos organizadores ao MPF descreve alguns objetos, como 500 bonecas produzidas pela Associação dos Produtores de Arte Zabelê, 50 almofadas de algodão cru com enchimento com flores de macela, da Gondwana Produtos Artesanais Ltda, 1.500 bonecas de pano do Conselho da Comunidade Solidária da Paraíba e obras de arte de artistas como Elisa Bracher, Sérgio Camargo e Amílcar de Castro. FSP 10/06/2000.”

Por esses 20 anos perdidos, eu desafio todos os engenheiros, arquitetos e gestores das instituições, que tiveram a oportunidade de conhecer a minha invenção, a justificarem porque a recusaram, como: Presidência da República, Ministério do Turismo, Ministério da Defesa, Ministério da Justiça, Ministério da Agricultura, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Ministério da Indústria e Comércio (que mudou tanto de nome), Ministério das Relações Exteriores, Comitê de Organização da Rio+20 Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, Governo do Estado da Paraíba, Prefeitura Municipal de João Pessoa, Governo do Estado de Pernambuco, Prefeitura Municipal do Recife, Prefeitura Municipal de Olinda, Governo do Estado de São Paulo, Prefeitura Municipal de São Paulo, Governo do Estado de Mato Grosso e Sebrae.

Precisamos restaurar o orgulho nacional.

Reginaldo Marinho

Publicado

Na capital de Honduras, Tegucigalpa, há algo estranho acontecendo no território da embaixada brasileira. Recebemos uma missiva dando conta de que a segunda secretária, Railssa Peluti, foi punida injustamente. Como temos apenas um lado da história, vamos aguardar a réplica.

Embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Foto: divulgação

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Hoje, com muito maior movimento, seus títulos enchem de descrédito o comércio do Distrito Federal, sem que a Interpol tome nenhuma providência, em defesa dos comerciantes de boa fé e honestos. (Publicado em 26/01/1962)

Deus nos livre

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Foto: Reuters / Nacho Doce

 

Ler nas entrelinhas é, talvez, o exercício mais preciso e eficaz para entender o que se esconde por detrás de cada declaração política e o que realmente pretende com elas os profissionais dessa arte da prestidigitação das palavras. O que parece, à primeira vista, ser um coelho saído da cartola é, na verdade, um gato que tenta escapar às pressas assim que vislumbra a chance. Os antigos gregos tinham uma palavra precisa para definir essa capacidade falaciosa de hipnotizar as orelhas: demagogia.

Unida à retórica do tipo popular, torna esse ator falastrão num verdadeiro lobo a conduzir ovelhas, capaz, como dizem os sulistas, de levar gato para nadar. É justamente essa capacidade que foi capaz de guindar, ao mais alto cargo do Executivo, um personagem como Lula.

Visto por trás dessa cortina de veludo espesso, trata-se de um personagem, ou como ele costuma repetir, uma ideia. A última proposição desse personagem, que já integra o rol da fama de indivíduos inscritos no folclore político nacional, foi a solicitação para que os petistas criem núcleos evangélicos na maioria dos estados brasileiros, como forma de atrair parte do eleitorado que hoje torce por Jair Bolsonaro.

Nesse ponto é preciso destacar aqui o que poderia ser o utilitarismo da fé, ou retira o que existe de prático no mundo do além. O fenômeno político atual que faz com que boa parte do Congresso Nacional seja dominada por bancadas de orientação religiosa, mormente pelos chamados neopentecostais, despertou no ex-presidiário e ex-presidente a ideia de que um possível retorno ao passado terá que ser necessariamente trilhado pelos caminhos da fé.

Não de uma fé em seu sentido espiritual, mas da fé no poder. Obviamente que essa não é uma ideia brotada originalmente em sua mente, mas possivelmente oriunda da cabeça de seu mentor e estrategista do caos, José Dirceu. Como justificativa de Lula para essa conversão aos caminhos laicos dessa fé, o petista disse: “é preciso aprender com os pastores, eles falam bem e o que as pessoas querem ouvir.”

Num país surrealista como o nosso, não seria extraordinário que Lula transformasse o partido que é seu numa espécie de nova igreja, onde ele seria, necessariamente, o pastor mor. Por certo, Lula e seus sequazes devem sentir uma tremenda inveja dos grandes pastores nacionais.

Milionários e cheios de seguidores, recebem a bênção do Estado, não pagam impostos, não justificam suas fortunas e até podem ser presenteados com isenção nas contas de luz e água, conforme deseja o atual governo.  Nesse país que, desde o ano de 1500, busca um rumo, a confusão agora entre religião e política, poder e fé, secularismo e espiritualismo, os horizontes que parecem se abrir à frente, em pleno século XXI, são de uma mistura letal entre igreja e Estado.

Nesse novíssimo país, os cidadãos serão transformados em crentes, os governantes em pastores, as leis constitucionais em dogmas celestiais, criando assim um Brasil onde todas as faltas serão perdoadas e onde a nação deverá render louvores aos seus dirigentes, pois eles passarão a governar por desejo divino. Haverá assim uma direita e uma esquerda religiosa. Talvez até um Supremo celestial, que julgará os casos de heresia e outros atentados à fé cega no Estado. Deus nos livre!

 

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Em política, o único verdadeiro é o que não se vê.”

José Martí, poeta, ensaísta, jornalista, tradutor e professor cubano.

Imagem: reprodução da internet

 

 

Novidade

Senadora Leila Barros apresentou um projeto de Lei que altera o Código Penal que define como crime a prática de perseguição ou assédio de forma insistente, provocando medo na vítima e perturbando a liberdade. A pena que era de dois meses passa para três anos.

Foto: senado.leg

 

 

Ainda

Mesmo com alternativa de estacionar em local pago, os motoristas preferem parar ao longo do meio fio. A fila é grande e impede o uso das duas pistas.

 

 

Chuvas

Em dias de chuva, a engenharia do DER e Administrações precisam sair dos gabinetes para acompanhar os estragos feitos pelas águas. Falta de escoamento e rede pluvial, zonas de contenção de água e principalmente falta planejamento de apoio do governo.

 

 

Vale conhecer

Uma beleza a Casa do Cantador na Ceilândia. O prédio foi projetado por Oscar Niemeyer como homenagem aos nordestinos do DF. Conhecido como Palácio da Poesia, o lugar fervilha com a cultura dos cantadores.

Foto: Júnior Aragão/SECDF

 

 

Evasão

O capítulo final do “Setembro Amarelo Embuste” é que, por total falta de acolhimento, atendimento adequado e atenção profissional inexistente, uma das pacientes com potencial suicida do HRAN resolveu abandonar os pertences na ala 4, para nunca mais se lembrar daquele lugar, e fugiu pela porta principal, sem ser importunada ou interrompida. Pelo contrário, quando perguntou para a enfermagem o que aconteceria se ela saísse, obteve a seguinte resposta: “Ninguém vai te segurar aqui.”

Foto: gov.br

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O Serviço de Trânsito recebeu ordens para anotar os carros oficiais que transitam aos sábados e domingos, contrariando ordens do chefe da Casa Militar. Sessenta e dois carros foram anotados, muito embora as providências tomadas daí por diante sejam desconhecidas. (Publicado em 14/12/1961)

Fé no Estado laico

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Ilustração: paulopes.com

 

Pela atual Constituição Brasileira de 1988, em seu art. 19, fica proibido aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento, ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.” Quis a Magna Carta estabelecer, de forma legal e legítima, a separação entre a Igreja e o Estado, conforme, vinha sendo, inclusive, estabelecida, desde o Decreto nº 119-A, depois inserido na Constituição de 1891.

O Estado, dessa forma, é caracterizado como laico. Embora seja facultada a liberdade religiosa, o poder público deve manter equidistância e independência com relação a todos os cultos religiosos e igualmente a igrejas de qualquer credo. Sendo seu dever apenas proteger e garantir o livre exercício de todas as crenças. Essa separação, que de forma alguma significa uma cisão violenta, é garantida por uma espécie de muro legal e abstrato, que é o interesse público. Em outras palavras, isso significa que ao Estado é vedado qualquer tipo de subvenção ou auxílio com dinheiro público à toda e qualquer igreja, seja ela da preferência do presidente da República, dos governadores, prefeitos, deputados, senadores ou outro político no cargo ou função de Estado.

Na opinião de eminentes juristas essa é uma medida essencial e básica para a manutenção da própria democracia e pluralidade de ideias e opiniões. Infelizmente e diversas vezes esse importante quesito legal e constitucional vem sendo desrespeitado desde o primeiro dia da promulgação da Carta de 88, não apenas pelos presidentes, mas por governadores, prefeitos e pela grande maioria de parlamentares. A leitura enviesada e marota do preâmbulo da Constituição que invoca a proteção de Deus, não se refere à esse ou aquele Deus específico, seja de católico ou protestantes, mas ao Deus de todos os crentes.

A experiência ao longo da história da humanidade tem mostrado que as teocracias, nas quais os governos são operados sob o argumento de que essa é a vontade divina e, portanto, indiscutível no plano terrestre e em que os chefes de Estado foram ou são representantes diretos da divindade, são estados ditatoriais e opressores. Nesses países, Estado e Religião formam um único corpo institucional. A cúpula do governo nesses Estados é formada por clérigos, que conduzem com mão de ferro a sociedade, impondo todo o tipo de opressão e sacrifícios, exceto para a alta cúpula, blindada por uma espécie de manto sagrado.

No dizer de Marx Weber, esse tipo de governo utiliza a chamada “ética da convicção” da verdade, contrariamente, as sociedades democráticas são orientadas pela “ética da responsabilidade”, onde toda e qualquer consequência dos atos, das pessoas e autoridades devem ser consideradas e julgadas.

Essas considerações iniciais vêm a propósito das seguidas manifestações do atual governo, que por suas deficiências de leitura da realidade ou do que dizem as leis, vem, em diversas ocasiões manifestando seu apoio, ou mais precisamente o apoio do governo federal à determinadas religiões. Ao afirmar que deseja para a próxima vaga do Supremo Tribunal Federal, “alguém terrivelmente evangélico”, o presidente incorre nesse caso de desobediência à Constituição.

Da mesma forma quando pretende elaborar um decreto concedendo subsídio na conta de luz para templos religiosos, mesmo com parecer contrário do Tribunal de Contas da União, o presidente incorre em descumprimento de preceito constitucional. Do mesmo modo e em igual gravidade, é possível declarar que a formação de uma bancada evangélica, dentro do Congresso Nacional, pressionando e orientando o governo a tomar certas decisões, é uma afronta a esses preceitos trazidos em nossa Carta.

Dizer que o apoio à essa igreja não passa de estratégia política para garantir governabilidade, em nada diminui essa transgressão. O poderio que algumas Igrejas de orientação neopentecostais vêm ganhando no Brasil, principalmente dentro da máquina do Estado, na atualidade, por si só, já deveria ter acendido a luz vermelha dentro do próprio Supremo ou dentro do Congresso, não fosse ele hoje dominado por essas correntes religiosas.

Mais do que fé, no seu sentido estrito, é preciso atenção e reflexão ao que vem acontecendo hoje no mundo em nossa volta. Na Europa, a entrada de grandes massas de refugiados muçulmanos vem acarretando sérios problemas de ordem religiosa, com os forasteiros impondo sua fé pela violência, numa espécie de cruzada às avessas. Muitas Mesquitas têm sido apontadas pelos órgãos de inteligência daquele continente, como sendo centros de treinamento e doutrinação anti Ocidente.

A confusão entre religião e Estado é perniciosa para a sociedade livre, gera conflitos sectários e só servem aqueles que buscam no caos um meio de controlar o Estado. Aqui mesmo no Brasil, a notícia de que o ex-presidente e presidiário Lula, está numa cruzada pelo país em busca de criar dentro das Igrejas evangélicas, núcleos petistas com vista à uma pretensa volta ao poder, revela o poderio dessas confissões religiosas no Brasil atualmente.

Repetia o filósofo de Mondubim: “Um olho no padre e outro na missa”, ou seja, ver e entender as coisas de Deus, mas com um olho no mundo dos homens, suas fraquezas e vícios. O próprio Jesus já ensinava, de forma didática e até profética, já percebendo a grande tribulação que era confundir o Céu com a Terra: à Deus o que é de Deus, e a César o que é de César.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A falsa ciência cria os ateus, a verdadeira, faz o homem prostrar-se diante da divindade.”

Voltaire, escritor, ensaísta, deísta e filósofo iluminista francês.

Foto: reprodução da internet

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Vendo esta discussão do sr. Adauto Lúcio Cardoso com o Prof. Hermes Lima, eu me lembrei de uma coisa. Vou perguntar ao dr. Hugo Mósca, que fim levou aquela representação do sr. Adauto contra o então presidente Ranieri Mazzilli e os ministros militares do sr. Jânio Quadros. (Publicado em 13/12/1961)