O estrangeiro

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: jornaldebrasilia.com

 

Repetia o filósofo de Mondubim que a diferença entre o remédio e o veneno está apenas na quantidade. Infelizmente o mundo moderno parece ter perdido essa e outras receitas, mergulhado que está num mar de excessos, vivendo numa espécie de abundância e exageros que fogem totalmente do que seja racionalidade.

O consumismo, que seria um fenômeno possibilitado pelo capitalismo, surge agora também como uma antítese à bonança, colocando em risco a existência do próprio homem. O problema é que o consumo não se restringe apenas a bens materiais, estendendo-se muito além dos desejos humanos.

O turismo, tal qual ele se desenvolve hoje em todo o mundo, parece ter rompido, definitivamente, as barreiras do que se pode considerar aceitável e positivo, transformando muitos países e regiões do planeta em lugares expostos a um grande e contínuo fluxo de visitantes, uma horda de estrangeiros que muitas vezes supera o número de habitantes locais.

Com isso, o cotidiano dos habitantes dessas áreas é radicalmente alterado, transformando cada dia dos moradores locais num verdadeiro inferno, onde tudo passa a ser disputado. Fenômeno idêntico, e talvez com maiores repercussões negativas, vem ocorrendo no caso particular do grande e crescente fluxo de imigrantes. Quer queira, quer não, o imigrante adulto já traz de seu país de origem toda a bagagem cultural que adquiriu ao longo da vida. Isso faz com que ele não se deixe integrar com facilidade aos costumes locais do novo lar. E isso é um problema que vem se agravando nos últimos anos, gerando conflitos que muitas vezes acabam resultando em mortes.

De certo modo, as previsões para os países que mais recebem populações de imigrantes não são boas. O aumento dos conflitos armados no terceiro mundo e as alterações bruscas trazidas pelo efeito estufa ao meio ambiente em todo o mundo têm forçado, cada vez mais, o deslocamento de populações inteiras pelo planeta. Os conflitos étnicos se espalham por toda parte. Na mesma direção, aumentam os casos de racismo e, principalmente, de xenofobia.

Relatos de intolerância contra os estrangeiros se multiplicam. Caso emblemático aqui, para ficar apenas na geografia dos países de língua portuguesa, é o de intolerância dos nativos de Portugal contra a imigração dos brasileiros que para lá foram se estabelecer; o que, à primeira vista, poderia parecer um ganho para a terra Lusa, já que o envelhecimento daquela população, juntamente com a queda acentuada de natalidade, vinha provocando um esvaziamento sério populacional do país. Aldeias inteiras, à semelhança do que ocorre também na Espanha e na Itália, estão hoje sem moradores. Mas, ainda assim, as populações desses países estão cada vez mais insatisfeitas com o fluxo imigratório.

No caso de Portugal, segundo pesquisa e depoimentos de brasileiros residentes lá, a xenofobia cresceu nos últimos anos mais de 830%, o que é um percentual altíssimo, e que não deixa de surpreender, já que muitos brasileiros possuem a noção de que a terrinha distante, antiga colônia, é um lugar acolhedor para aqueles que falam o mesmo idioma e possuem pontos históricos coincidentes. Nada mais enganoso.

Em lugares como Lisboa e Porto os casos de maus tratos aos brasileiros se sucedem. Estima-se que mais de 400 mil brasileiros vivam hoje naquele país, o que perfaz cerca de menos de 8% da população lusa. Na verdade, a presença de brasileiros em solo português é, para os locais, cada vez mais incômoda.

Também a noção histórica distorcida e passada aos portugueses, desde os primeiros anos de ensino, tem mostrado que a colonização foi excepcionalmente benéfica aos brasileiros, sendo os colonizadores formados por pessoas do mais alto grau de humanismo, todos eles devotados ao bem-estar das populações submetidas. Também os livros de história de Portugal mostram aquele país como uma nação muito superior à brasileira. Nada mais falso do que isso. Essa pretensa superioridade racial, repassada de geração em geração, faz com que os portugueses se sintam na condição de humilhar os brasileiros que lá estão, com piadas xenófobas e mesmos discursos diretos do tipo: “Fora brazucas”, “vão para sua terra”, “não queremos vocês aqui”.

Essas e outras ofensas são ditas com frequência e mesmo pichadas nos muros das casas dos imigrantes. Brasileiros, com descendência portuguesa e que procuram a embaixada de Portugal e os consulados espalhados pelo país, em busca de cidadania, vão na ilusão de que em Portugal serão bem recebidos por todos, afinal são dois países irmãos. Assim que chegam a Portugal, ficam sabendo que a coisa não é bem assim. São maltratados desde o desembarque. Na condição de estrangeiros, não são bem-vistos em parte alguma daquele país. Por mais que se esforcem, ficarão sempre na condição de estrangeiros, apartados do convívio dos nativos, xingados e mesmo expulsos de muitos lugares.

Os portugueses possuem a noção falsa de que estão trabalhando para sustentar os imigrantes idos do Brasil. Em 2020, os brasileiros contribuíram com mais de 350 milhões de euros para a segurança social portuguesa. Em 2021, esse número saltou para mais de 414 milhões de euros. Ou seja, dinheiro pago ao sistema de apoio aos trabalhadores imigrantes e que incluem também os portugueses. A questão toda está no dilema vivido hoje por uma multidão de brasileiros que ruma para Portugal: ou ser cidadão de segunda e terceira classe num Brasil dominado pelo ódio de uma esquerda míope, ou ser eternamente estrangeiro e escorraçado além-mar, tratado como perigoso por uma malta de saloios iletrados, que acreditam ser cosmopolitas.

 

A frase que foi pronunciada:

“Dino leva mais seguranças à Câmara do que à favela da Maré.”

Deputado Capitão Alden (PL-BA)

Deputado Capitão Alden (PL/BA). Foto: camara.leg

 

História de Brasília

O deputado Martins Rodrigues, líder da maioria, tem notado que ao contrário do que ocorre comumente, seus amigos o procuram mais de manhã cedinho, à hora do café, e não à noite, para um uísque e conversa política. (Publicada em 27.03.1962)

Dívida histórica

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Arte: todamateria.com

 

Que o Brasil é reconhecidamente um país onde as desigualdades econômicas e sociais estão entre as maiores do planeta, isso não é segredo para ninguém. No entanto, o que muita gente faz questão de não enxergar, até mesmo por um sentimento de culpa coletiva, é que esse fato esconde uma realidade ainda mais cruel e que está por detrás do enorme apartheid social motivado, em grande parte pela questão do racismo ou mais simplesmente pela cor da pele.

Obviamente que esse é um problema visto em muitos países do globo. Ocorre no Brasil, essa questão, decorrente da própria formação histórica do país, possuindo raízes mais profundas que remontam no tempo. Até pouco tempo atrás, essa era uma discussão que parecia não incomodar a sociedade, justamente por se acreditar ser esse um tema já superado pelo poder da miscigenação massiva da população.

Ocorre que essa dissimulação, um tanto quanto fantasiosa, servia apenas para esconder uma realidade presente em todos os aspectos da vida brasileira, quer nos romances, na poesia, no samba, nas novelas. O racismo em nosso país é um problema que vem nos acompanhando desde o período colonial, principalmente com a introdução da escravatura por meio do chamado comércio negreiro, entre meados do século XVI até fins do século XIX, época em que a decretação da Lei Áurea em 1888 pôs fim a esse sistema desumano de mão de obra.

De fato, como reconhecem os historiadores, os escravos eram os pés e as mãos dos senhores de engenho, o que significa que, sem essa força de trabalho, seria impossível todo e qualquer desenvolvimento durante, não apenas no período do Brasil colonial, mas, inclusive, no período posterior. Passados todos esses séculos esse ainda é um passivo histórico em aberto e que precisa ser quitado de forma justa e permanente.

Estudo elaborado há pouco pelo Google, em parceria com o Data Folha e a Mindset-WGSN, intitulado “Consciência entre urgências: pautas e potências da população negra no Brasil”, mostrou que o racismo institucional e estrutural é o segundo tema mais urgente para 44% dos 1.225 entrevistados de todas as classes sociais. “Sete em cada dez negros não se sentem representados pelos governos brasileiros, sendo que 68% não se sentem também representados pela publicidade em geral”, avaliam os entrevistadores, ao concluir que quanto menor a escolaridade, a idade e a renda, maior se mostra a urgência em debater temas como genocídio e feminismo negro.

Outro elemento levantado pela pesquisa mostrou que o ativismo e o engajamento das novas gerações, sobre esse e outros assuntos ligados à população negra, tem sido grandemente impulsionado pelas redes sociais da internet. No Distrito Federal, onde 57% da população se declara negra, o Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED) comandado pela promotora de Justiça Mariana Nunes, tem empreendido enormes esforços não só no combate ao racismo e à injúria, mas promovido projetos que viabilizam a reflexão e consciência por parte dos autores de crimes raciais, quer através do pagamento de pesadas indenizações por reparação de danos morais em favor das vítimas, quer obrigando os autores desses crimes ao comparecimento pessoal em juízo, periodicamente para informar e justificar suas atividades; proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização; participação em curso ou palestra sobre igualdade racial, além de outras medidas restritivas.

Nesse dia 20, em que se comemora o Dia da Consciência Negra, esse ainda é um tema a ser discutido em busca de soluções que diminuam esse hiato social/racial, de forma que o Brasil encontre um caminho que leve ao desenvolvimento verdadeiro, que é aquele construído pela inclusão e igualdade de oportunidades.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Não sou descendente de escravos. Eu descendo de seres humanos que foram escravizados!”

Makota Valdina, educadora, líder comunitária e ativista brasileira.

Foto: Divulgação.

 

 

Exagero

Ninguém compreendeu a exigência da comitiva chinesa. Bolquear o Royal Tulip, retirar todas as câmeras, até aí tudo bem. Mas pedir para eliminarem todo quebra-molas da redondeza foi um pouco demais.

Foto: crusoe.com

 

 

Um parque

Já está avisado. O governo federal anunciou que até dezembro venderá o terreno da Octogonal 3. Trata-se de um espaço cuidado pelos moradores que têm plantado árvores ao longo de uma década com a esperança que seja transformado em parque da região.

Foto: Divulgação/Facebook

 

 

Ponto final

Corre à boca miúda que já existe um projeto com 10 blocos com mais de 12 andares cada um. Imaginem o fluxo de carro naquela região para abrigar um condomínio desse porte. O protesto é organizado. Os moradores, gente antiga e poderosa da cidade, não vão deixar isso acontecer.

Foto: Divulgação/Facebook

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O presidente do Uruguai vai receber duas homenagens oficiais: uma, do presidente da República, em Brasília, naturalmente. Outra, do Primeiro ministro, no Rio, naturalmente. (Publicado em 06/12/1961)