Na Terra do Nunca

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Infográfico do G1 (06/10/2020)

Das muitas lições que podem ser aprendidas com as últimas eleições municipais, nenhuma outra é tão importante quanto aquela que demonstra a necessidade urgente de se imprimir uma verdadeira reforma na vida política do país. Os números estratosféricos relativos ao total de abstenções, dos votos brancos e nulos somados, mais do que alertam para essas mudanças; eles servem como um sinal a indicar que a nossa jovem democracia parece ter entrado numa espécie de estado de anemia crônica, perdendo seu viço e entusiasmo precocemente.

Quando aproximadamente um quarto da população deixa de comparecer às urnas, mesmo diante da obrigatoriedade do voto, fica patente que nosso sistema eleitoral, pela atuação de seus atores e pelo protagonismo de suas respectivas legendas políticas, não empolga nem motiva os cidadãos a participarem do pleito. O cansaço do eleitor, diante de um modelo de representação em que o cidadão só é chamado a participar de quatro em quatro anos, assim mesmo de forma transversal, diz tudo.

A verdade é que, passados os momentos de euforia com o retorno da democracia, a sensação experimentada pela população é que ela embarcou num canoa furada, com os políticos e partidos avançando, ano a ano, sobre os recursos públicos, criando uma casta privilegiada de cidadãos blindados e divorciados do restante dos brasileiros, centrados apenas em seus próprios interesses.

Diante de uma situação tão bizarra em que os cidadãos não se veem representados dignamente, não surpreende que seja a Justiça Eleitoral, um organismo exótico criado justamente para impor uma certa disciplina e ordem nessa dissintonia representativa, a principal protagonista dos pleitos bianuais. Nessas ocasiões, são os magistrados, e não os políticos, que se colocam diante dos holofotes para certificar a correção das eleições. Mas o que ocorre, por detrás dessa encenação toda, é que a cada pleito, de maneira até monótona, repetem-se as inscrições de candidatos fantasmas, principalmente mulheres, para justificar, falsamente, os altos gastos com as campanhas, por meio de notas frias e outros malabarismos malandros, sempre trazidos à tona pela imprensa investigativa.

Muitos desses candidatos do além não chegam a receber um voto sequer, nem mesmo da mãe. O mais incrível é que todos sabem que a contabilidade dessas e de tantas outras eleições, apresentadas por cada um dos mais de trinta partidos político ao TSE, e que são turbinadas com os bilhões de reais dos cofres públicos, encontram, por ocasião dos pleitos, a oportunidade certa para se transformar em pó, nos desvãos da burocracia das legendas, indo engordar o patrimônio das elites partidárias que encontraram nessas siglas um negócio de ouro, melhor até que o das inúmeras igrejas neopentecostais que dominam o ambiente dentro e fora do parlamento.

A mercantilização da política, e sua apropriação por partidos e por figuras demasiadamente conhecidas da população, vai, a cada eleição, perdendo o sentido e se transformando numa espécie de jogo interno, envolvendo apenas as legendas e seus acólitos, com a população vendo tudo de uma arquibancada distante, indiferente ao que se passa alhures, na Terra do Nunca.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado.”

Orson Scott Card, escritor de ficção científica e fantasia norte-americano.

Foto: Orson Scott Card at BYU Symposium 20080216

 

Popular

Google mostra que os Correios estão na 28ª posição de busca dos internautas, com 9 milhões de pessoas acessando a Internet querendo informações sobre a empresa. Para se ter uma ideia, a Mega Sena tem o mesmo número de acessos

Foto: L.C. Leite/Folhapress

 

Real vs Virtual

Ginastas do DF, que penam por patrocínio, conseguiram espaço para treinar. O Parque de Exposição do Parque da Cidade vai se transformar num ginásio para as modalidades artística, rítmica, acrobática, aeróbica e de trampolim. Falta só atualizar a página da Federação Brasiliense de Ginástica.

Foto: fbginastica.com.br

 

Solidariedade

Talvez por falta de comunicação, mas o container onde ficam os alimentos não perecíveis arrecadados pelo Serviço Fraterno Santa Dulce dos Pobres está praticamente vazio. O Santuário São Francisco de Assis, na 915 Norte, está se mobilizando para ajudar na campanha. Veja mais detalhes no link @sfSantaDulcedosPobres.

 

Vai entender

A Agência Brasília divulga que o GDF está pronto para enfrentar uma possível segunda onda do Covid, decretando, inclusive, o fechamento de eventos e atividades culturais à partir das 23h. Mas a Secretaria de Turismo quer turbinar a chegada de turistas, o que, convenhamos, não é o ideal no momento.

Foto: Bernardo Jr. / Agência Brasília

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Em geral, vocês sabem. Os chefes de serviço não querem, porque continuam recebendo “dobradinha” e morando no Rio, e morar no Rio com ordenado dobrado é muito melhor, mesmo com terremoto. (Publicado em 19/01/1962)

A inutilidade crescente dos partidos políticos

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ARI CUNHA – In memoriam

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

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Foto: g1.globo.com/jornal-nacional

Ainda está a carecer de análises sérias e desapaixonadas sobre os fenômenos que propiciaram a eleição acachapante de Jair Bolsonaro para presidente da República. Pelo menos para que os ditos analistas possam entender o ocorrido à luz da ciência política.

Do ponto de vista da população em geral, não há essa necessidade. Ali, os fenômenos dessa magnitude são encarados como decorrentes de forças naturais que simplesmente ocasionam desgaste de pessoas e ideias ao longo do tempo, o que acabam por favorecer candidatos fora do espectro tradicional. Contudo, para o cidadão mais escolarizado e ligado na intensa movimentação política que tem sacudido o país desde 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, esses novos fenômenos, de caráter social e global, necessitam ser melhor entendidos.

De saída sabe-se que muitas foram as causas que concorreram para a vitória de Bolsonaro, muitas, inclusive, já examinadas e reviradas por muitos analistas. Colocados sobre a mesa, os principais fatores que concorreram para a vitória de Bolsonaro podem ser reconhecidos a partir do grau de importância nessas eleições. Para surpresa geral, essa disputa eleitoral mostrou que grande soma de dinheiro, seja em malas, cuecas, apartamentos, caixa dois e outras modalidades ilícitas não tem o condão de se sobrepor à vontade livre das urnas. Outra constatação imediata advinda dessas eleições é que as televisões e os institutos de pesquisa de opinião perderam a antiga força de persuasão. Não se sabe ao certo ainda, mas, ao que parece, os bruxos do marketing político, que até aqui ganhavam fábulas de dinheiro fabricado em seus caldeirões políticos sob medida, estarão desempregados doravante.

De fato, o desencanto da população com os partidos e com a classe política atingiu níveis nunca antes experimentados, levando muitos brasileiros a optar por alternativas fora desses nichos tradicionais.

O que não resta dúvida é que foram justamente os partidos políticos, as instituições que mais perderam prestígio e poder nessas eleições. O motivo salta aos olhos. Transformadas, desde a redemocratização, em verdadeiras empresas do tipo “Tabajara”, os partidos políticos, nem de longe, conseguem atender hoje as demandas democráticas de uma sociedade que evolui muito mais veloz do que esses organismos monolíticos.

 

A frase que foi pronunciada:

“A ideologia instaura uma cisão entre a realidade e os conceitos, arranca as ideias de seu enraizamento orgânico na realidade, e assim petrifica o pensamento para controlar as pessoas.”

Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores

Charge: ouniversitario.saojeronimo.org

 

No mínimo

Ibram continua em silêncio em relação ao lixo do Paranoá Parque levado pelas águas da chuva até uma nascente no Setor de Mansões do Lago Norte. É preciso que o SLU amplie o projeto papa entulho naquela região para que os moradores descartem material em desuso em local apropriado.

 

Bem representado

Marcos Linhares, reconduzido na presidência do Sindicato dos Escritores de Brasília, vai criar o Instituto Distrital do Livro. Outra iniciativa é que escritores regionais sejam citados nas provas de vestibular. Há também a ideia de uma criação literária colaborativa na Biblioteca Maria da Conceição Moreira Salles. Veja as fotos da nova diretoria no blog do Ari Cunha.

 

Deu certo

Vale conhecer a simpática loja Bananika, na 205 Norte, bloco C, da arquiteta Priscila Martins Costa. Brinquedos inteligentes, ambiente agradável. O local abriga peças de diversos parceiros com venda colaborativa.

Fotos: facebook.com/lojabananika

 

Para inglês ver

Depois da urna eletrônica, o mais difícil de acreditar nas últimas eleições foi a cota para mulheres. Vale uma pesquisa acadêmica sobre a realidade do assunto. Os conchavos da base dos partidos e a vontade dos chefões das siglas se sobrepõem à qualidade dos candidatos.

 

De graça

Nessa sexta-feira, dia 23, por volta das 18h30, Oliveira das Panelas fará um show com entrada franqueada ao público na antiga Ascade, 610 Sul. A programação é do Sindilegis. O compositor, poeta, cantor e repentista será antecedido no palco por Nonato de Freitas, que fará um breve histórico sobre a cantoria: da Grécia à Serra do Teixeira, na Paraíba. Veja um pouquinho de Oliveira das Panelas no blog do Ari Cunha.

 

Greve

Alimentação dos alunos e limpeza das escolas comprometidas com a falta de pagamento. O GDF garante que o repasse foi feito e que o salário dos funcionários é de responsabilidade das empresas contratadas pelo governo.

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Brasília tem tudo para possuir um serviço exemplar de Correios. Basta que o DCT compreenda isto, aumente o número de agências, humanize o trabalho, higienize o ambiente, e modernize a compreensão que os funcionários têm sobre suas atividades. (Publicado em 05.11.1961)