Novos tempos novos modos de consumo

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Arte: terracoeconomico.com

 

         Novos tempos requerem novas formas de pensar. É com esse mote que muitos países desenvolvidos estão hoje direcionando suas economias, buscando otimizar, ao máximo, o uso de seus recursos naturais, reduzindo o consumo de matéria-prima virgem e conferindo prioridade aos insumos duráveis, recicláveis e renováveis.

         Esse pensamento se estende também à produção de energia, matéria-prima fundamental para qualquer projeto de desenvolvimento. De fato, o mundo se acha hoje numa encruzilhada que coloca, num mesmo ponto, a superpopulação do planeta, frente ao esgotamento cada vez maior dos recursos naturais da Terra. A questão aqui é como compatibilizar crescimento geométrico demográfico e escassez de alimentos e outros itens necessários e vitais à sobrevivência da espécie humana. Cabe aos seres humanos resolverem, o quanto antes, os problemas criados por eles mesmos, sobretudo no que diz respeito às velhas relações econômicas, baseadas, desde sempre, na produção e no consumo em larguíssima escala. Trata-se de um problema de dimensões planetárias e que agora está a exigir mudanças do tipo revolucionárias, a começar pela reeducação de cada indivíduo, colocando-o realisticamente diante da dupla opção: ou mudar a forma e sua relação com o mundo, ou buscar viver em outro planeta distante.

         O esgotamento dos recursos naturais é uma realidade inconteste e da qual não há fuga ou plano B, pelo menos por enquanto. O consumo diário e crescente de mais de sete bilhões de indivíduos tem exigido, cada vez mais, o uso de recursos naturais que vão muito além da capacidade do planeta em prover. O resultado dessa descompensação pode ser evidenciado não apenas no grande número de conflitos armados e nas grandes levas de pessoas que migram em busca de oportunidade e alimentos, mas, sobremaneira, pela transformação paulatina do equilíbrio ecológico, com a advento do aquecimento global, escassez de água e poluição em níveis alarmantes de todo o ecossistema.

         Mais do que em qualquer outra época na história da humanidade, estamos postos agora diante de uma grande encruzilhada. Essa é, por exemplo, a questão dos lixões a céu aberto e os aterros sanitários e que, recentemente, vêm preocupando autoridades e a comunidade aqui no Distrito Federal. Na busca de uma solução adequada para o descarte de tamanha quantidade de lixo e outros dejetos, temos que reformular o problema em sua origem, mudando nossa forma de produzir e de consumi-los. Dentro dos modelos que temos atualmente de consumismo desenfreado, feitos a qualquer preço, é óbvio que não poderá existir solução definitiva para as montanhas de lixo produzidas diariamente. Algum dia, toda essa sobra acabará por engolir a todos nós.

         Com a economia compartilhada, em que o indivíduo divide o uso dos bens econômicos duráveis, dispondo para todos o que antes pertencia apenas a uma só pessoa, surgiu também, e vem ganhando cada vez mais adeptos, a chamada economia circular. Inscrita dentro do desenvolvimento sustentável, é também conhecida como ecologia industrial e propõe, basicamente, que os resíduos da indústria sirvam para o desenvolvimento de novos produtos, dentro de um ciclo de reaproveitamento dinâmico e constante, mantendo esses resíduos dentro de um modelo circular positivo ou quase infinito.

         Em seu aspecto prático a economia circular propõe o prolongamento máximo da vida útil dos produtos, objetivando “manter componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor o tempo todo”. Dentro desse novo modelo, são privilegiados a mobilidade sustentável e o transporte público, entre outras medidas racionais de uso e desuso. Seus princípios são basicamente a preservação e o aumento do capital natural, a otimização na produção de recursos, o fechamento dos ciclos da economia, onde o desperdício não mais existe, os bens são reparados e reutilizados, com as matérias-primas vindas da reciclagem e não mais da extração direta da terra.

         Além desses princípios, contam também a promoção de um novo paradigma social, em que as relações sociais entram, transformando o consumidor em utilizador do produto, partilhando em vez de acumulando bens. Dentro dessa nova forma de pensar a economia e o planeta, será importante também, na eficácia do sistema, reduzindo danos a produtos e serviços necessários aos humanos como alimentos e habitação.

         Da economia compartilhada poderá nascer um homem novo ciente de suas responsabilidades com a preservação do planeta e da espécie. Existe ainda uma saída para esse impasse, que é o uso inteligente daquilo que a Terra provê a todos. Mas uma revolução como essa exigirá também um novo relacionamento com o planeta, por meio de longo processo de educação da sociedade, capacitando os novos habitantes da Terra a utilizarem, com parcimônia científica e metódica, os bens naturais que são de todos.

A frase que foi pronunciada:

“A reciclagem é mais do que uma resposta à crise ambiental e assumiu um papel simbólico no início da mudança da natureza das sociedades ocidentais e da cultura do consumo. De fato, muitos ambientalistas supõem que haverá uma mudança inevitável de nossa sociedade “descartável” para uma sociedade pós-industrial de “reciclagem” do futuro.”

Matthew Gandy

Matthew Gandy. Foto: matthewgandy.org

História de Brasília

Uma pessoa nossa conhecida pediu a substituição de um fusível, e o DFL cobrou 130 do fusível, 45 de mãe de obra, e 700 cruzeiros de transporte. Nem de taxi, meu Deus. (Publicada em 14.03.1962)

Os desafios do crescer e multiplicar

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Ilustração: Arthimedes / Shutterstock.com

 

Em 2023, a população mundial atingirá a surpreendente marca de 8 bilhões de pessoas. Segundo os cientistas que analisam os impactos que uma massa humana dessa magnitude provoca sobre o ambiente, esse número é demasiado para o planeta, que vai experimentando o fim progressivo de seus recursos naturais. Ao mesmo tempo em que a taxa demográfica mundial explode, a população vai migrando para os grandes centros urbanos.

Até 2030, a maioria da população mundial estará se concentrando nos centros urbanos, aumentando, assim, assustadoramente, as emissões na atmosfera de gases de efeito estufa como o carbono. Com isso, haverá a necessidade, cada vez maior e até vital, em tornar as cidades mais sustentáveis e mais adequadas aos novos desafios ecológicos exigidos por num mundo densamente povoado e complexo. Até 2030, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a população deve chegar em 8,5 bilhões. Nessa mesma época, o Brasil deve atingir, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), seu pico de crescimento demográfico, ficando com, aproximadamente, 207 milhões de habitantes.

Parte do mundo, inclusive o Brasil, já se prepara para essa nova realidade. Para isso, foi criado, no ano de 2015, a Cúpula das Nações Unidas, reunindo 193 países que decidiram, em comum acordo, estabelecer uma mega agenda de compromissos com 17 objetivos ambiciosos a serem conquistados até 2030, subdivididos em outras 169 metas, a fim de superar os desafios de um novo desenvolvimento, todo ele voltado para o crescimento sustentável global.

Na linha de frente, ficaram os desafios sociais e ambientais, guiando o restante, todos eles interdependentes e caminhando juntos. Desse modo, foi decidido que os países que celebraram esse acordo teriam, em outros desafios, que erradicar a pobreza; implementar uma agricultura sustentável e que acabe com o flagelo da fome, propiciando a chamada segurança alimentar para todos; assegurar saúde e bem-estar para todos e para todas as idades; promover uma educação de qualidade inclusiva e universal. Dentre esses objetivos, inclui-se ainda medidas que, para muitos, ainda são polêmicas como a garantia de igualdade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas; garantir também a disponibilidade de água potável e saneamento básico para todos; assegurar o acesso à energia limpa, renovável e barata para todos; promover o crescimento econômico com trabalho decente e inclusivo para todos; construir infraestrutura resiliente e promover a industrialização sustentável, com fomento para a inovação; redução, das desigualdades dentro dos países; tornar as cidades comunidades sustentáveis e seguras; assegurar padrões responsáveis de consumo; tornar urgente o combate às mudanças climáticas; conservação dos oceanos e dos recursos hídricos; proteção e recuperação da vida terrestre com a preservação de florestas e combate a desertificação; promoção de sociedades pacíficas, com acesso à justiça; e, por fim, o fortalecimento das parcerias para a revitalização global.

Para os cientistas e pesquisadores que estão envolvidos nesses projetos, os desafios a serem enfrentados são imensos e não terão um término para sua execução total, ainda mais quando se sabe que, até pelo menos o ano de 2100, a população continuará aumentando. Com isso, fica claro que, até 2100, o crescimento populacional será o maior de todos os desafios enfrentados pela humanidade.

 

 

A frase que foi pronunciada:   

“Nos próximos dez anos, prevejo, o convencional movimento ambiental que reverterá sua opinião e ativismo em quatro áreas principais: crescimento populacional, urbanização, organismos geneticamente projetados e energia nuclear.”

Stewart Brand

Stewart Brand. Fotografia: Larry Busacca/Getty Images

Realidade

Nessa semana, duas mangueiras foram derrubadas na 305 sul, em nome da segurança e estética. Aquela superquadra traz um silêncio assustador. Nos primeiros anos da capital da República, o barulho da meninada brincando era música constante. Bicicleta, patins, futebol, não faltava diversão. Hoje, a violência, o medo, os perigos iminentes não permitem mais o direito de ir e vir das crianças. As experiências da infância estão diretamente ligadas a computadores e tablets. Não foram só as mangueiras que morreram.

Inauguração da praça 21 de_Abril, na Asa Sul DF 1993. (Foto: Arquivo Público do Distrito Federal/Fundo Novacap)

Fica esperto!

Um anúncio chama a atenção mundial. A iniciativa do ministro Oliver Dowden, do Parlamento Inglês, faz o globo terrestre ficar atento. O governo britânico deu ordem para a retirada de todas as câmeras de vigilâncias chinesas que estejam em edifícios que estejam relacionados com a segurança do país.

Oliver Dowden. Reprodução: news.sky.com

História de Brasília

É lamentável que o plano educacional de Brasília, em tôda a sua plenitude, não seja seguido, mas já que está assim, ninguém pode deixar ir tudo de águas abaixo. É preciso haver uma solução, e esta, pelo menos, foi a apresentada. (Publicada em 13.03.1962)

Soberania pela posse efetiva

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Foto: BBC

 

        Na realidade, o mundo tem os olhos postos muito mais sobre a região da Amazônia Brasileira do que, propriamente, sobre os brasileiros. Interessam, aos estrangeiros, os destinos da Amazônia, como floresta tropical que abriga a maior biodiversidade do planeta. Nesse conjunto de interesses, há também um olhar, um tanto exótico e romântico, sobre os povos indígenas da região, descartando tudo mais que possa existir naquela parte do Brasil. Com isso, os estrangeiros que vêm a turismo para essa região ficam surpreendidos ao encontrar ali metrópoles imensas, com tudo que há em cidades de grande porte, sobretudo, milhões de não indígenas que ali vivem, em meio às turbulências de uma grande área urbana.

Fosse a Amazônia apenas uma grande e inexplorada floresta, sem a presença de outros brasileiros que ali nasceram, por certo, essa região tão rica e variada estaria nas mãos desses novíssimos defensores da natureza, descartando essa parte do país do restante e impondo sobre ela uma soberania estrangeira de fato, com regras próprias, e exigindo passaporte aos cidadãos brasileiros que desejassem visitar esse santuário natural.

O que tem impedido o avanço dessas forças alienígenas sobre essa área é justamente a presença, in loco, de milhões de brasileiros, que ali vivem com suas famílias há várias gerações. O que temos nessa questão de soberania sobre a Amazônia é dada pela população urbana que lá está e não pela presença de autóctones, erroneamente chamados de indígenas. A defesa dessa imensa porção de terras é feita por brasileiros, fardados ou não, e que ali estão em nome do restante da população.

Temos muito que investir nessa parte do Brasil, levando o progresso que se vê no Sul e Sudeste para a região. De acordo com um dos últimos dados do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os estados da Região Amazônica têm os mais baixos níveis de qualidade de vida de todo o país.

A questão é curiosa já que se trata de uma região onde estão concentradas as maiores fontes de recursos naturais de todo o Brasil. Recursos abundantes como água, minérios diversos, madeira, produtos extrativos, ouro, nióbio, terras raras e diversos outros bens naturais de grande valor comercial em nada têm contribuído para fazer, das populações locais, cidadãos com uma razoável qualidade de vida. Pelo contrário: quanto mais essas regiões são exploradas e exauridas de seus bens, mais a população se vê na condição de pobreza e de esquecimento.

A questão central que pode explicar, em parte, essa contradição na qual brasileiros em situação de miséria caminham sobre as maiores riquezas naturais do país, pode ser entendida muito além do chamado determinismo geográfico, que coloca populações em regiões distantes do poder central, às margens do desenvolvimento. É fato que, por séculos, a Região Amazônica vem sendo deixada de lado por todos os governos, não apenas da esfera federal, mas, inclusive, pela maioria dos próprios governos locais.

Segundo o Fundo das Nações Unidas pra a Infância (Unicef), a Região Amazônica, onde vivem cerca de 9 milhões de crianças, é um dos piores lugares de todo o continente para a infância. Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Roraima, Rondônia, Amazonas, Pará, Amapá e Acre, estados que formam a grande Amazônia Legal, possuem praticamente os mesmos índices de desenvolvimento humano, carecendo de moradias, sistema de educação e saúde regular, saneamento, atendimento adequado aos direitos das crianças. Nessas regiões, a existência do trabalho infantil é uma constante em grande parte dos municípios. Esses brasileiros do Norte, deixados à própria sorte por séculos, sabem que agora o mundo todo está de olho da Amazônia, não exatamente em sua população, que continua explorada por nacionais e estrangeiros, mas em suas abundantes riquezas.

O avanço da morte

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Foto: Divulgação/CIMI

 

           Enquanto avança na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei de autoria do governo (PL191), também conhecido de PL da mineração, vai levando, em seu encalço e cada vez mais, uma multidão de garimpeiros e aventureiros de toda a ordem e de todos os cantos do país para dentro das terras indígenas. O tal projeto que, obviamente tramita em regime de urgência para não dar tempo para que a sociedade acorde para mais esse absurdo, regulamenta, em sua ementa, o § 1º do art. 176 e o § 3º do art. 231 da Constituição: “para estabelecer as condições específicas para a realização da pesquisa e da lavra de recursos minerais e hidrocarbonetos e para o aproveitamento de recursos hídricos para geração de energia elétrica em terras indígenas e institui a indenização pela restrição do usufruto de terras indígenas.”

        Traduzido numa linguagem clara e direta, o que o PL autoriza é a marcha da insensatez e até mesmo do que seria um genocídio anunciado e autorizado pelo Estado contra os povos indígenas, apenas para atender a sanha e o desejo de uma minoria política e econômica que exerce preponderância dentro do atual governo. Depois do PL do Veneno, aprovado, chega a vez agora desse monstrengo, liberando, legalmente, a invasão das terras e reservas indígenas. Nossa fotografia de momento perante um planeta que luta para sair do impasse do aquecimento global nunca esteve tão manchada.

        Os relatos assustadores, que chegam a todo o momento, de diversos povos, sobretudo dos Yanomanis, mostram as consequências dessa infâmia a chocar os brasileiros e o mundo. Trata-se aqui de mais um episódio a macular nossa história com as tintas indeléveis do sangue de inocentes. Acometidos por uma espécie de transe febril pelo ouro, um distúrbio psicológico e profundo conhecido a milhares de anos aqui e em outras partes, centenas de homens brancos, em busca de metais e pedras preciosas, vão deixando nas matas virgens uma longa trilha de crimes.

         É o que esses povos indígenas acreditam ser, dentro de sua cultura milenar, a maldição das pedras reluzentes a enlouquecer o homem branco, transformando-o em fera sem alma. Não só os garimpeiros parecem movidos por esse anátema, mas, principalmente, o próprio chefe do Executivo, que não esconde seu ódio pelos povos indígenas. Em várias ocasiões, esses povos vêm sendo atacados, inclusive perante a ONU, acusados de serem os responsáveis pelas queimadas na Amazônia, entre outros crimes.

        Em pronunciamento, ainda como deputado, Bolsonaro chegou a lamentar que a nossa cavalaria, à semelhança do que acontecera nos Estados Unidos, tenha sido incompetente ao não eliminar os nossos índios. “Não tem terra indígena onde não tem minerais. Ouro, estanho e magnésio estão nessas terras, especialmente na Amazônia, a área mais rica do mundo. Não entro nessa balela de defender terra pra índio”, disse em 2015. Segundo ele, as reservas indígenas sufocam o agronegócio. Conhecemos muito bem o resultado desse feitiço e o que essa busca desenfreada pelo ouro tem provocado ao longo do tempo. A lista com os resultados dessa atividade primitiva de extração é longa e repleta de crimes de tod o tipo.

        O que fica como subproduto dessa exploração são doenças, violência, assassinatos, estupros, muita miséria e devastação nas terras onde esses minerais ocorrem, sendo inexistentes quaisquer traços de progresso ou de melhorias, tanto para habitantes locais como para os forasteiros. Já vimos esse filme de horror em lugares como Serra Pelada. Sabemos também das consequências nefastas desse tipo de atividade. Mais do que isso, sabemos, muito bem, o fim dessa história e o rastro de destruição e de morte que deixa para trás.

        Então por que seguir nesses intentos, aprovando, a toque de caixa, projetos como o PL 191, do Executivo? Caso venha a ser aprovado, como crê o governo e sua bancada de apoio, não será surpresa que em mais essa façanha, contra o bom senso e a ética humana, venha a ser apresentada mais uma acusação contra o atual mandatário perante o Tribunal Penal Internacional. Os brasileiros, que nada parecem saber dessa história macabra, figurarão como coadjuvantes de mais esse atentado, quer queiram ou não. Afinal, todo esse massacre é feito em nome do progresso da nação. Um progresso que já não é apenas o avanço da poeira, mas como diria o filósofo de Mondubim: “o avanço da mulher da foice”.

A frase que foi pronunciada:

Nunca tratei de lobby e nem tampouco articulei qualquer reunião com lobistas. Trabalho em favor da legalização da atividade, em áreas legais, permitir a atividade em áreas que possam ter atividade econômica. Dentro de rigores técnicos e licenças ambientais, somente em áreas permitidas”.

Deputado federal Joaquim Passarinho, autor do Projeto de Lei 6.432 de 2019, que facilita a venda do ouro.

Deputado federal Joaquim Passarinho. Foto: camara.leg

História de Brasília

Dá nesses vexames, as promessas que os candidatos fazem em nome da Prefeitura. A ligação da luz na Asa Norte não pode ser prometido por ninguém. É um problema técnico, e tem seu tempo. (Publicada em 21.02.1962)

Mais teatro nos bastidores que no palco

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Reprodução: g1.globo.com

 

          Terminada a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 26) , têm início o que seriam as primeiras consequências desse encontro. Para aqueles países, onde os governos ainda fazem pouco caso de assuntos dessa natureza, o que é o nosso caso, confirmado ainda pela ausência do chefe do Executivo à essa reunião, é sempre bom lembrar que as consequências, são tudo aquilo que vêm depois.

         Para o Brasil, assolado por um tipo bem particular e predatório de agronegócio, e que no atual governo, vem tendo amplo apoio, já que funciona como um salva-vidas para a economia estagnada do país, as novas diretrizes da União Europeia, proibindo a compra de commodities oriundas de áreas desmatadas representa apenas o primeiro passo para pressionar rebeldes como o Brasil e, especialmente o governo, para que coloquem um sério limite na expansão desenfreada do agrobusiness sobre as florestas. Não adianta espernear e fazer carinha de muxoxo. O que se seguirá, com esses boicotes iniciais, podem trazer prejuízos muito mais significativos para esse setor da economia, movido por interesses que, em alguns casos vão muito além até do que Estado pode regular. A União Europeia é um grande mercado para produtos como soja, café, carne bovina, cacau, madeira e óleo de palma, móveis e algumas outras mercadorias.

         Não adianta também esconder o avanço do desmatamento e toda a destruição que vem sendo permitida pelo governo, em nome, da balança comercial. As centenas de satélites, posicionados lá em cima, enxergam, noite e dia, o que se passa em regiões remotas, registrando, em tempo real, o avanço dessas monoculturas sobre o meio ambiente e o dispersar, displicente e intencional e das manadas de bovinos sobre a vegetação nativa, numa espécie de avanço da destruição.

         O desmonte dos órgãos de fiscalização do meio ambiente e o banimento de multas para os infratores que desmatam e queimam nossas reservas naturais, serviu como um sinal verde, dado por esse governo, para que os maus produtores rurais, aqueles que não produzem alimentos e sim lucros para si mesmos, avancem por cima da vegetação nativa, sem receios de retaliações oficiais. São, na verdade, todos cúmplices de um mesmo e continuado crime, embora a coragem que demonstrem para destruir o meio ambiente, lhes falte na hora de assumir as responsabilidades pelos maus feitos.

          O mais incrível é que a União Europeia pode estar agindo sim, por meio de um protecionismo comercial, disfarçado de preocupação ambiental. Os produtores de soja e criadores de gado se dizem vítimas de uma situação que eles mesmos criaram e propagam, de olho em lucros imediatos e com total desprezo para com as gerações futuras.

         É preciso entender que essas medidas contra a destruição do meio ambiente por produtores inescrupulosos, não parte apenas de governos dos diversos membros da UE. Parte significativa dessas medidas restringindo a compra de commodities produzidas em áreas nativas, vem da população desses países e de organizações que mantêm essas sociedades informadas e atualizadas sobre os crimes ambientais que vêm ocorrendo em nosso país, com a benção do atual governo.

         O consumo sustentável será um marco no século XXI, sendo que para isso será preciso afastar pessoas e práticas que ainda insistem na produção de bens a qualquer custo. A falta de clareza desse governo sobre o que está em jogo no mundo atual e sua alienação sobre os desafios dessa nova era, podem custar muito ao Brasil, um país já mundialmente desacreditado em questões ambientais.

         Essa estória de que nem o Brasil nem a União Europeia aceitam pressões é conversa pra boi dormir.  É preciso pousar a lupa em todo tipo de nacionalismo. Os que escondem a verdade e os que se escudam na falsa retórica.

A frase que foi pronunciada:

“Se um homem tiver sua garganta cortada em Paris, é um assassinato. Se 50.000 pessoas são assassinadas no Leste, é uma questão.”

Victor Hugo

Victor Hugo. Foto: wikipedia.org

 

Parque Nacional

Bonito de ver a alegria dos frequentadores se reencontrando nas piscinas da Água Mineral. Sol, amizade, água fria, saúde, lanche comunitário, tudo o que foram privados por quase dois anos.

Foto: EBC

 

Pare e pense

Como se não bastasse a cientificidade mutante em relação aos procedimentos, validades, intervalos e rotinas na vacinação, agora o Ministério da Saúde e a Anvisa desafinam nas recomendações. O mais estranho é a vacinação em massa e a obrigatoriedade do uso da máscara. Afinal, a vacina funciona ou não funciona?

Foto: reprodução

 

Consome dor

Reclamações dão conta de cobranças feitas pelo Serasa, que usa os Correios para enviar correspondência com aviso de débito em operadoras de celular ou na Caesb e Neoenergia. Dá o prazo para pagar, ameaça sobre uma possível inclusão que será prejudicial na análise de créditos. O interessante é que o telefone colocado à disposição do devedor, da Neoenergia, não funciona. Experimente você também: (61)3316 0196.

Foto: Ricardo Moraes/Reuters

 

História de Brasília

Estão querendo enganar o Professor Hermes Lima, a propósito do reinício das obras em Brasília. E o IAPFESP está à frente, sabotando o plano do govêrno. (Publicado em 15/02/1962)

É preciso abrir o verbo

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Foto: COP26

 

Uma das muitas dúvidas que aflige os chefes de governo presentes, na COP26 em Glasgow, é saber, ao certo e sem “pedaladas ambientais”, que rumos irá tomar o Brasil com relação à redução das emissões de gases de efeito estufa nesses próximos anos. O não comparecimento do presidente da República na COP26, ainda mais quando se verifica que ele próprio estava na Europa nessa ocasião, deixou, segundo observadores presentes na reunião, a má impressão de que a ausência do chefe de Estado nessa Cúpula sobre o clima pode ser usada como pretexto para não assumir pessoalmente qualquer compromisso taxativo diante de seus pares, que prejudiquem suas pretensões com relação às próximas eleições e, sobretudo, que venham comprometê-lo com seus apoiadores, no caso de um provável segundo mandato.

Por certo, o agronegócio, que apoia incondicionalmente seu governo, está comemorando esse desdém do presidente com a COP26 e uma possível restrição à expansão de seus empreendimentos no Brasil. Com sua decisão em não comparecer à COP26, quem perde é o Brasil, que passa a ser incluindo entre as nações com pouca ou nenhuma credibilidade perante o mundo, num momento delicado para o planeta e para o futuro da humanidade.

É preciso ter em mente que o problema ambiental, com todas as variantes climáticas que estamos assistindo no dia a dia, chegou ao seu limite extremo, não sendo mais toleradas indecisões com base em questões internas de cada país, muito menos questiúnculas do tipo eleitoral. É sabido que a maioria dos países desenvolvidos já vêm correndo contra o tempo e adotando, em ritmo acelerado, tecnologias que valorizam a produção de energia renováveis e limpas.

Com isso, já está previsto até uma queda surpreendente na demanda por petróleo, o que pode levar, empresas como a Petrobras e outras a se tornarem obsoletas e desvalorizadas em pouco mais de três décadas. A queima de derivados do petróleo está assinalada como uma das maiores inimigas do planeta.

A segunda maior ameaça vem por conta do desmatamento e da queima de vegetação nativa, questão que diz respeito direto ao Brasil. Embaixadas de todo o mundo, com sede em Brasília, enviam diariamente informações aos seus governos sobre a situação ambiental no Brasil, e sobre as medidas adotadas internamente nessas questões.

São informes, reforçados por imagens de satélites e por ONGs que atuam no Brasil, dando um quadro geral da situação do momento. Mentir em tentar apresentar dados falaciosos sobre a situação ambiental é desnecessário porque vai contra os fatos. Hoje já é possível dizer que, nessas questões, ninguém mente impunemente. Os dados de que dispõem os cientistas confirmam que o governo brasileiro vem dando informações diferentes, desde os primeiros encontros do clima, a não cumprir nem um terço dos acordos que vem estabelecendo.

É preciso entender ainda que a maior preocupação, não só do mundo como de muitos brasileiros que assistem essa destruição de perto, é com a Amazônia, com o Cerrado e com biomas como o Pantanal e a Floresta Atlântica. Trata-se aqui de um problema de todos os habitantes da Terra, porque, ao contrário do que acreditam governos mal informados e mal intencionados, a questão do aquecimento global, como o próprio nome diz, não conhece fronteiras, afetando igualmente países ricos e pobres, pretos e brancos, incluindo, nesse conjunto, governos negacionistas ou cientes do problema.

A frase que foi pronunciada:

O sistema de energia no DF piorou anos luz.”

Rosimeire Eloi Antunes

Foto: Renato Alves/Agência Brasília

Faz o que gosta

Celma Diaz é profunda conhecedora da arte, com um especial carinho pelos artistas da cidade. Na feira do Gilberto Salomão, que acontece no último final de semana de cada mês, lá estava ela. Explicando gravuras, pinturas, esculturas e biografias.

Celma Diaz. Foto: Blog do Ari Cunha

Esperança

Se as quadras de Brasília foram projetadas com comércio, escolas, postos de gasolina, esqueceram do apoio espiritual no Noroeste. Até hoje não há igreja naquela comunidade.

Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

Leia no link Santa Cecília, um texto histórico assinado por Laércio Silva Filho sobre a santa, a padroeira dos músicos, publicado no informativo da igreja Nossa Senhora do Lago.

Santa Cecília, Cândido Portinari, 1954. Uma releitura da clássica e sublime representação renascentista de Rafael.

História de Brasília

A Fundação Brasil Central acha, e com muita razão, que assistência médica a índio só se presta com remédio dado de graça. Alega, entretanto, que os altos encargos não possibilitam verba para isto. (Publicada em 13/02/1962)

Na COP- 26 o Brasil é a ovelha negra do mundo

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Foto: CHRIS J RATCLIFFE / AFP

 

Quem menos tem acreditado nas promessas, feitas pelos governantes, é a Terra, que segue em seu propósito firme de aquecimento global até que o último ser humano seja varrido para sempre da superfície do planeta. O tempo não espera por ninguém e muito menos o meio ambiente, agredido pela insana ação humana. Enquanto as conferências sobre o clima se sucedem no tempo e em diversas partes do mundo, o aumento da temperatura, dentro do qual o efeito estufa já é uma realidade, continua a surpreender e a estremecer nações.

O planeta já não é o mesmo e, possivelmente, jamais será como antes. O que fizemos com a nossa própria casa no espaço terá um preço a ser pago até mesmo pelos mais ardorosos e precoces ambientalistas. Enquanto isso, as conferências do clima seguem em seu processo de convencimento das nações de que o relógio do apocalipse já aponta para a hora fatal. Estamos já na vigésima sexta edição da Conferência das partes (COP-26) a ser realizada, desta vez, na cidade de Glagow, na Escócia, bem na undécima hora do tempo que nos resta. Os olhares do mundo estarão focados nesse encontro, para onde o Brasil enviará uma numerosa comitiva, composta apenas por personagens do segundo escalão do governo, já que, até o momento, o presidente Bolsonaro não deu mostras de que irá a esse encontro, que ele mesmo receia lhe ser bastante hostil, dentro e fora do pavilhão das reuniões.

Na verdade e por motivos diversos, o Brasil se tornou um pária nos assuntos envolvendo o meio ambiente, por teimosia, declarações infelizes e decisões contrárias à corrente mundial. Quando um chefe de Estado faz alguma afirmação fantasiosa sobre a realidade de seu país, principalmente aquelas que os milhares de satélites em torno do planeta veem a cada segundo, os governantes de todo o mundo já estão previamente abastecidos de todas as informações reais possíveis. Não adianta esconder florestas inteiras debaixo de discursos e frases de efeito. O mundo sabe muito bem em que condições estamos.

Antes mesmo que a comissão brasileira chegue a Glasgow, os governos dos países desenvolvidos, muitos deles parceiros do Brasil, já estão informados de que a Amazônia, segundo os cientistas, já emite mais CO² do que absorve, configurando um fenômeno jamais imaginado em toda a história humana. A razão dessa inversão, que afetará todo o mundo, está no desmatamento e nas queimadas, que nos últimos anos atingirão níveis surreais. Isso significa, para muitos, que a Amazônia já não pode ser mais considerada como o pulmão do mundo. Morreremos asfixiados pela falta de oxigênio, como dezenas de pacientes na cidade de Manaus durante o pior período da Covid-19.

Com relação ao assunto pandemia, que também deixa consequências na própria COP-26 e o mundo em geral, quando a comitiva do Brasil chegar para os primeiros dias de debates na Escócia, já estarão devidamente disseminadas entre os participantes de todo o mundo as informações sobre o relatório final da CPI da Covid-19. Não bastassem os fatos reais e imaginários que depõem contra o próprio país e os brasileiros, o Brasil é, segundo relatório elaborado pela ONU, o país que mais regrediu em suas pretensões de reduzir as emissões de gás carbônico (CO2), entre todas as nações com presença na COP-26. Ou seja, já chega ao encontro como sendo um país rebelde e rotineiramente contrário às preocupações reais da humanidade. Preparem a pipoca para esse encontro na Escócia!

A frase que foi pronunciada:

Retirem a riqueza do subsolo amazônico e o mundo perderá o interesse por ela.”

Dona Dita, pensando enquanto tricota

Foto: BBC

 

Honra ao Mérito

Bem lembrado pelo deputado Leandro Grass. O GDF recebe da União verba que deve ser repassada para instituições como o CEAL. Até agora, a instituição pena com a falta da assinatura do convênio, arriscando parar as atividades deixando mais de mil pessoas, a maioria crianças e adolescentes surdos, altistas e com dificuldades de aprendizagem, sem assistência. Se o Ceal faz tanto pela população, o mínimo que se espera do governo é a contrapartida como reconhecimento ao trabalho sério de profissionais que se dedicam com afinco.

Excesso

Espalhando excrementos e carrapatos por onde passam, as capivaras continuam reinando na capital federal.

Foto: Gabriel Luiz/G1

 

Agito

Sociedade brasiliense de olho no Chá da Lasthênia, tradicional em Brasília. Surgiu na década de 60 por iniciativa de Lasthênia Tourinho de Almeida, esposa do então ministro do Superior Tribunal Militar, General de Exército Reinaldo Mello de Almeida, quando um grupo de voluntárias amigas fez as primeiras reuniões para arrecadar recursos para instituições de caridade de todo o país.

Chá da Lasthênia. Foto: Noticiário do Exército

História de Brasília

Não é verdade o que têm dito sobre cristais de Murano, prataria inglesa, porcelana inglesa e tapetes persas. É mentira. Os cristais são Padro, a prataria é Wolf, a porcelana é de Santa Catarina e os tapetes são de São Paulo. (Publicada em 13/02/1962)

O agronegócio é um luxo só

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Charge do Cerino

 

Que relações poderiam existir entre o agronegócio e a indústria de artigo de alto luxo? À primeira vista, tendo como imagem os antigos fazendeiros e produtores de alimentos e sua vida de simplicidade, avessa aos luxos e ao conforto das cidades grandes, não parece haver nenhuma ligação entre o materialismo consumista dos cidadãos urbanos e a vida bucólica e despretensiosa do homem do campo.

Até pouco tempo, essas eram realidades bem distintas, sendo fácil identificar e diferenciar o indivíduo do campo e o da cidade. Nas últimas décadas, contudo, essa realidade mudou muito, principalmente, à medida que o agronegócio firmava o pé pelo interior das terras brasileiras.

Hoje, os produtores das chamadas commodities — milho, soja, algodão e alguns outros produtos como carne bovina, suína e frango — vivem cercados de todo conforto e luxo que o dinheiro pode trazer. Ciente dessa nova realidade, a indústria de artigos de luxo também fincou pé em regiões interioranas que, até pouco tempo, só conheciam esses produtos por meio das imagens de TV.

Cidades do Centro-Oeste, como Goiânia, Rio Verde, passaram a experimentar, agora, uma grande e variada oferta de artigos e serviços de luxo, exclusivos para esses novos clientes de alto padrão econômico, que vão surgindo na esteira do agronegócio. São aviões, carros esportivos de última geração, imóveis de altíssimo padrão, joias, restaurantes, hotéis estrelados e outros mimos a que somente os muito endinheirados têm acesso.

Obviamente que toda essa bonança assistida em algumas regiões interioranas está circunscrita a um pequeno número de indivíduos, proprietários de enormes latifúndios, onde as monoculturas de soja, milho e algodão são cultivadas de forma mecanizada, à base do uso intensivo de muito defensivo agrícola e de agrotóxicos, muitos dos quais já banidos em outros países há anos. O que se produz nessas terras não pode ser classificado diretamente como alimento humano e, principalmente, para o consumo dos brasileiros, já que essas commodities se destinam à exportação para países como a China.

O aumento da riqueza nesses lugares trouxe consigo outros aumentos, como os do fosso entre ricos e pobres, da concentração de riqueza, do desemprego para trabalhadores pouco qualificados, dos preços nessas localidades, desde alimentos até moradias. Com isso, há registros de mais pobreza e do surgimento de áreas periféricas carentes, como encontradas nas grandes cidades. Mas o custo maior e até incomensurável de todo esse boom de riqueza e luxo nessas áreas recai mesmo sobre o meio ambiente.

De forma resumida, o que se pode afirmar, sem erro, é que, para que o agronegócio pudesse se firmar nessas regiões, enriquecendo uma parcela diminuta da população, foi necessário, antes, a dizimação quase completa do variado e outrora riquíssimo bioma do cerrado. Matas nativas foram derrubadas a correntes e queimadas, terrenos foram aplainados, rios pequenos e médios, assoreados, deixando apenas o rastro de areia pelo chão. Os mamíferos, aves, répteis, abelhas responsáveis pela polinização e outros simplesmente desapareceram.

O que se vê na paisagem são imensas plantações, identificadas com códigos formados por números e letras, mostrando aos entendidos que tipo de variedade geneticamente modificada é aquela. Com isso começou a formação de microclimas nessas regiões que jamais foram sentidos. Calor infernal, secas prolongadas, nuvens de poeira e poluição cobrindo tudo, secamento de poços artesianos e a lenta formação de imensas áreas em processo de desertificação, com a predominância de areia e pó.

Nos últimos 30 anos, houve uma triplicação da área plantada no Brasil, sobretudo no Centro-Oeste, o que equivale a dizer que houve, também, uma triplicação das áreas desmatadas para a formação desse tipo de plantio e para a formação de pastos. Passamos de 19 milhões de hectares plantados para 55 milhões de hectares, com a extirpação de área de igual tamanho das áreas nativas.

Trata-se de um crime, cujos responsáveis ainda se dão ao desplante de pousar como benfeitores, como se não existissem nem o amanhã nem as novas gerações que dependerão do meio ambiente e seus recursos para, ao menos, sobreviver no planeta. Desses 55 milhões de hectares, 36 milhões são de soja para exportação e engorda de porcos na China. Somente a soja ocupa cerca de 4,5% do território nacional, o que equivale a áreas de países como a Itália e outros pelo mundo. Em segundo lugar vem a monocultura da cana-de-açúcar, maior do que em todo o período do ciclo do açúcar, entre os séculos XVI a XVIII, e hoje avança com a soja sobre boa parte da floresta amazônica, deixando atrás de si areia e deserto escaldante.

Quem mais sofreu com toda essa expansão desordenada e apressada foi justamente o Centro-Oeste, onde esses novos fazendeiros encontravam até incentivos governamentais para desmatar. Ainda hoje o desmatamento é feito para a acomodação e expansão do agronegócio nessa região. A forte demanda, amparada por um poderoso lobby dos produtores e dos compradores internacionais, tem surtido efeito muito maior do que as reclamações dos ambientalistas, vistos ainda hoje como empecilhos ao avanço do agronegócio.

O que temos aqui é uma realidade que alguns tentam esconder sob o manto de números superlativos apresentados pela balança comercial. Por outro lado, o que se tem de fato é a destruição continuada da própria terra em troca de anéis de brilhante, carros importados e outros luxos consumidos por uma minoria que enriquece à medida que vai empobrecendo nosso meio ambiente, destruindo nossos preciosos recursos naturais em troca do vil metal.

 

História de Brasília
O turismo não pode organizar, porque o govêrno do dr. Jânio Quadros cortou tôdas as possibilidades. Foi construído o hotel, montado o hotel, está tudo comprado, abandonado, esperando o roubo, a destruição pelo tempo, a ferrugem. (Publicada em 13/02/1962)

Dialética destruidora

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Imagem publicada no perfil do Dino Freitas no Facebook

Quem viu as imagens mostrando gigantescas nuvens de poeira a tomarem de assalto muitas cidades do interior de Goiás, São Paulo e Minas Gerais, escurecendo o dia e cobrindo tudo com o manto sujo do pó e da fuligem, pode pressentir que algo extraordinariamente anormal entrou em cena. Pior para aqueles que sentiram na pele e nos pulmões o irrompimento do fenômeno macabro.

Para esses, ficou a certeza de que um novo e angustiante tempo foi inaugurado, como se alguém abrisse, de repente, uma fabulosa Caixa de Pandora e de lá emergissem os ventos de um inferno, cuidadosamente preparado desde o surgimento da primeira máquina a vapor. Para os céticos e todos aqueles que não se cansam de usar o cotidiano para chicotear a realidade corrompida pelas redes sociais, o que esses cumulus nimbus de poeira estão a anunciar é a chegada definitiva do progresso na agricultura, não um progresso qualquer, mas um tipo especial que veio de mansinho, como os políticos nacionais, prometendo fartura e lucros para todos.

Para que todo esse desenvolvimento se tornasse possível, seria preciso romper, de uma vez, com as antigas práticas da agricultura familiar e com os velhos ensinamentos adquiridos, por séculos, pelos camponeses. A começar pelo fim do respeito ao meio ambiente, à rotação das culturas e diversificação das espécies. Terminar com a ideia de que a manutenção dos veios d’água é necessária. Acabar com essa mania de produzir adubos a partir do que sobra na lavoura e dos excrementos dos animais. Dar um fim às práticas de manutenção de uma espécie de ciclo completo dentro da terra, aproveitando os resíduos, produzindo bens sem o envenenamento por pesticidas e outros produtos químicos. Enfim, se libertar do passado e abraçar a nova agricultura que já vem com o nome pomposo e estrangeirado de agrobusiness, com sementes geneticamente modificadas e adubos e defensivos proibidos noutros países, importados e que envenenarão tudo, mas que prometem colheitas nunca vistas.

Esse é o progresso brotando no campo e dando um chega pra lá nas modas antigas, trazendo máquinas gigantescas que irão “limpar” o horizonte do mato secular, plantando, em seu lugar, monoculturas a perder de vista, que poderão muito parecer com o antigo milho, mas que têm nome batizado por letras sem nexo e números, tudo num código estranho.

Quem pode admirar esses gigantes de poeira, e tem os olhos postos nos ensinamentos de um passado onde as ideias não envelhecem, mas que, pelo contrário, ganham força viva no presente, logo pode se lembrar da frase, um tanto enigmática, proferida por um pensador de nome Karl Kraus (1874-1936), que costumava dizer que o progresso vinha com o avanço inevitável da poeira, querendo com isso assinalar exatamente o que vem ocorrendo agora no interior do nosso país.

São as frentes de rajada, nome estranho para um fenômeno que veio anunciar a chegada de um tipo de progresso que vem ainda na esteira da Revolução Industrial, mas que coloca países como o Brasil na condição antiquada de colônia ou fornecedor de bens primários mesmo às custas da destruição completa de seu meio ambiente e que opera segundo as regras de um deus ex machina, que virá para resolver o impasse, a contradição entre a produção de bens pela dilapidação do meio que a possibilitou, numa espécie de dialética do mal.

A frase que foi pronunciada:

O objetivo final da agricultura não é o cultivo de safras, mas o cultivo e o aperfeiçoamento dos seres humanos.”

Masanobu Fukuoka

Masanobu Fukuoka. Foto: greenmebrasil.com

Cidade fantasma

Lojas e mais lojas fechando. Pela W3, nas entrequadras, no Setor Comercial. A situação é grave!

Foto: Blog do Ari Cunha
Foto: Blog do Ari Cunha

Doação

Ainda dá tempo de doar lixo eletrônico para o colégio Maristinha. A intenção é consertar o material descartado para uso da meninada de baixa renda. Fale com a coordenadora do projeto Valéria Oliveira, pelo número 99231-1923.

Imagem: reprodução da internet

Sem política

Clubes da cidade têm visitantes indesejados que deixam para trás enorme quantidade de dejetos. Não é possível que essa situação perdure por muito tempo. Não há controle do animal, nem dos carrapatos que ele também espalha por onde anda.

Foto: Gabriel Luiz/G1

Criança

Iniciada a mobilização para o Dia das Crianças. Os batalhões da PM e algumas administrações da cidade começam a recolher brinquedos usados ou novos para distribuir para a meninada de famílias vulneráveis.

História de Brasília

O supermercado da 305 parou de nôvo. Cada vez que a gente dá uma nota, as obras reiniciam, e depois param outra vez. (Publicada em 10/02/1962)

Nosso futuro Saara

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Foto: Andre Penner/AP

 

Como país que possui a maior parte do seu território inserida entre as linhas imaginárias dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, o Brasil e outros na mesma situação geográfica experimentarão, nas próximas décadas, um escalonamento progressivo nos níveis de temperatura, que tornarão a vida nesses locais, para dizer o mínimo, um martírio. Sobretudo, as regiões ao Norte, que incluem os estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins.

As temperaturas nesses locais, por volta da virada do século, poderão aumentar, em média, até 12 graus centígrados, aproximadamente, o que tornará a permanência de populações nessas áreas, um risco sério para a saúde. Esses efeitos catastróficos se estenderão também para todos os países da América Latina situados próximos a essa latitude, o que pode gerar um fluxo nunca visto de migrações em massa de populações para outras partes do planeta.

O problema é que o tempo na natureza não é o mesmo que reconhecemos nos relógios. Além disso, a natureza não tem qualquer compromisso com a sobrevivência da espécie humana, a partir do ponto em que passamos a romper, unilateralmente, os códigos naturais que ordenam o respeito total ao meio ambiente e a sua preservação. Sem a preservação do meio ambiente e de todos os biomas conhecidos, a vida sobre o planeta será tão limitada e complexa como é hoje viver sobre o planeta Marte ou outro do nosso sistema solar.

Cavamos, por nossa incúria e ambição, a sepultura dos futuros habitantes desse planeta, sem qualquer arrependimento, cometendo uma espécie de crime premeditado contra a humanidade, que faria o Holocausto, com todo o respeito e dor, parecer uma travessura de criança. O desmatamento que segue acelerado em toda a área da floresta Amazônia, e que já consumiu também boa parte do Cerrado brasileiro, é a prova de que não apenas somos cúmplices desse genocídio, como deixamos todos os vestígios desse crime à mostra.

Seguidamente, os alertas científicos têm sido ignorados, quando não ridicularizados por nossas autoridades em conluio com os mais poderosos e gananciosos grupos empresariais que praticam, em larga escala, a produção de grãos de carne bovina para o mercado externo.

Os bois e as monoculturas avançam florestas adentro, trazendo, atrás de si, as motosserras os tratores que cuidam de “limpar” a área para nova produção, enquanto o Sol, inclemente e impassivo em sua posição perpendicular ao solo, cuida de calcinar o campo descoberto, provocando primeiro um processo de savanização e depois o deserto com suas areias escaldantes e áridas.

A floresta amazônica e o Cerrado representam o nosso Saara do amanhã. De acordo com estudos elaborados e publicados pela Communications Earth & Environment, e que contou com a colaboração de cientistas brasileiros da Fundação Oswaldo Cruz no Piauí, o desmatamento e a degradação do meio ambiente acelerada e sem contenção alguma tornarão as regiões do Norte do Brasil intoleráveis para a presença humana, Desidratação, cãibras, hipertermia e morte são os sintomas que aguardam aqueles que permanecerem nessas localidades, quando o forno da natureza for aceso de modo irreversível e avassalador.

Por enquanto, são apenas previsões, mas que já se anunciam no dia com o aumento paulatino das ondas de calor. Moradores antigos dessas regiões lembram que, a cada nova estação do ano, os fenômenos anormais de cheias e enchentes, seguidos de ondas de calor insuportáveis, acontecem em ritmos cada vez mais intensos, prenunciando o pior que está por vir, se nada for feito de imediato não apenas no combate ao desmatamento, mas em projetos de reflorestamentos emergenciais.

Notem que, no atual estágio de degradação ambiental que estamos, já não adiantam medidas contra o desmatamento que não acontecem, mas é preciso ainda um largo e lento processo de reflorestamento dessas áreas desmatadas, pra recompor, ao menos, parte dos estragos já feitos. Mesmo assim, os cientistas acreditam que todo esse processo de reverter o que foi destruído ao longo dos anos já se tornou uma tarefa muito além da capacidade humana, sobretudo quando se sabe que todo esse esforço para impedir o pior ainda é um sonho de ambientalistas e sequer passa na cabeça daqueles que estão nas altas esferas do atual governo e entre os poderosos empresários do agrobusiness.

Em breve, todos esses senhores da morte estarão lavando as mãos para essas consequências deixadas para trás, sendo toda a culpa, pelos crimes ambientais, depositado nas contas do pequeno agricultor da região que vivia do extrativismo artesanal da castanha do Pará.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Você tem cérebro em sua cabeça. Você tem pés em seus sapatos. Você pode se orientar em qualquer direção que escolher.”

Dr. Seuss

Imagem: brasilsemmedo.com

 

História de Brasília

Adjubei, genro de Kruchev, depois de visitar Brasília, disse que tivera, ao conhecer Oscar Niemeyer, maior emoção do que quando conhecera seu sôgro. (Publicada em 10/02/1962)