Dignidade nos tempos do fio do bigode

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Foto: EPA/Joedson Alves

 

Antigamente, no tempo em que o fio do bigode servia como nota promissória e os acordos eram firmados com base na honorabilidade das pessoas, e em que as assinaturas tinham, por si só, a validade e fé dos documentos, o valor mais prezado entre os indivíduos, capaz de assegurá-los no topo da espécie humana, era a dignidade.

Essa qualidade moral e inegociável, capaz de elevar o indivíduo, dando-lhe reconhecimento e respeito público, estava entre os atributos morais mais perseguidos e preservados por muitos, capaz, inclusive, de diferenciá-los das demais espécies. Mesmo em situações extremas de aflição ou de posição e responsabilidade dentro da sociedade, jamais se abria mão da dignidade. Com o tempo e as mudanças no costume e nas relações humanas, reduziram essa característica moral a um velho acessório de vestimenta como fraque e cartola, empurrando-os para o fundo do baú empoeirado deixado às traças.

Nada mais antigo, pois, do que falar em dignidade, num tempo em que a necessidades em ter, possuir e conquistar, superam a vontade em apenas ser. Em poucos lugares, essa perda acentuada de dignidade é tão visível quanto no mundo da política e nas relações entre os poderes. O chamado jogo de cintura, uma situação demasiada elástica dos princípios morais, é, dentro do tipo de política que se pratica hoje no país, a condição sine qua non para a conquista de determinado objetivo, seja ele moralmente lícito ou não.

Negocia-se de tudo dentro da imensa feira dos acordos e conchavos, inclusive a própria dignidade. De outro modo, como entender as relações de política e poder, onde pessoas são publicamente humilhadas e rebaixadas diante de todos e mesmo assim seguem como se nada de extraordinário tivesse acontecido? Por nacos de poder se deixam ser vergonhosamente pisoteadas diante das luzes das câmeras. Alguns desses fatos ficarão para sempre na memória de muitos.

Depois de ser demitido por telefone, enquanto realizava viagem para o exterior, o primeiro ministro a ocupar a pasta de Educação do governo petista, foi flagrado dias depois sentado no sofá do Palácio do Planalto soltando baforadas de um charuto em companhia do chefão Lula da Silva, como se nada houvera ocorrido.

O mesmo se passava com o ministro das Relações Exteriores daquele governo. Comandado por um alienígena no posto de Assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, aquele chanceler engolia desaforos e contraordens das mais extravagantes sem franzir a testa e sem ficar com a face avermelhada.

O mesmo se repete agora não apenas com relação a todos os diplomatas de carreira, mas também com o próprio chanceler desse atual governo. Obrigado a ter que aceitar a indicação de um filho do presidente da República para ocupar o cargo de embaixador junto aos Estados Unidos, numa afronta direta contra todo o Itamaraty, esse novo chanceler foi publicamente humilhado pelo chefe do Executivo, que ameaçou demiti-lo, caso o Senado não aprove o nome de seu filho para o posto.

Em outros tempos, quando virtudes como a dignidade era comum, a esse tipo de desfeita e ofensa, o indivíduo apanhava seu chapéu, dava uma banana para o chefe, e ia cuidar da vida com a consciência tranquila. Mas esses eram outros tempos.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“É curioso que a coragem física seja tão comum no mundo e que a coragem moral seja tão rara.”

Mark Twain, escritor norte americano

Foto: cmgww.com

 

 

Descontraindo

Quando era a vez do senador Styvenson falar, ele deixou o microfone para a senadora Soraya Thronicke. Ela agradeceu dizendo que, daquele ambiente, ele era o mais cavalheiro de todos os senadores presentes. Vendo que perdeu a chance de protagonizar a cena, o senador Jaques Wagner soltou essa: “Também, grandão desse jeito, se não for um cavalheiro assusta!”

Foto: senado.gov

 

 

Medos

Noutro momento o senador Styvenson contou que o senador Plínio tem mania de enviar vídeos com rios perigosos, rios que estão morrendo, e contou um segredo. Ele disse: Deus me livre passar por um rio desses. Morro de medo de cobra e piranha. De bandido, não. Sou policial. Mas de piranha…

Foto: senado.gov

 

 

Tática

Paulo Paim também é mestre em descontrair reuniões. Contou que jogou em vários times da cidade em que nasceu e em outros times também, porém, quando viu que não saía do banco de reserva, resolveu ir cuidar da vida. Mas, antes disso, no time da Eberle, uma metalúrgica respeitada de Caxias do Sul, Paim era tão querido quanto péssimo jogador. Para sua surpresa, recebeu a oferta dos colegas para que saísse do banco para ser treinador. Reconhece que os amigos da época eram taticamente muito competentes.

Fonte: Senado.gov.br

 

 

Estranho

É do senador Ciro Nogueira, o Projeto de Lei que torna obrigatória a identificação dos ganhadores das loterias da Caixa Econômica Federal. O que não dá para entender é um projeto de lei prevendo que o ganhador do prêmio possa não ser o apostador e sugere que os dados devem ser enviados ao COAF. Sensato seria a Caixa só entregar o prêmio ao apostador identificado no momento do registro da aposta pelo CPF.

Foto: senado.gov

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Doutor Juscelino, Brasília está tomando novo impulso. É bom o senhor vir até aquipara ver. Deixe essa mania de viagem, que isto é pra quem tem terreno na rua Timbó, em S. Paulo. (Publicado em 26/11/1961)