Desmatamento

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Carlos Fabal/AFP – 25/08/19

 

         Entra governo, sai governo e o velho e conhecido problema ambiental da destruição irreversível de nossos biomas persiste, ora aumentando, ora diminuindo, mas nunca deixando de acontecer. São centenas de milhares de quilômetros quadrados que vão desaparecendo a cada ano, seja pelo fogo, seja por meio de máquinas, mas sempre por ação humana direta, deixando claro, não só para aqueles que acompanham de perto essa tragédia diária, mas para a maioria dos brasileiros, que esse parece ser um problema nacional sem solução definitiva. Ao menos é o que temos assistido até aqui.

         De nada adiantam discursos e medidas midiáticas, apenas para o público ou para os países que ainda investem bilhões em ações de preservação do meio ambiente. Não há solução à vista, isso é um fato. Já deu para perceber que tanto governos de direita como de esquerda não entendem a questão e, pior, fingem que entendem, anunciando sempre, com pompa e muita propaganda que esse é um problema resolvido.

         Há, por detrás dessas destruições, interesses de toda a ordem, inclusive relativos ao próprio governo. São múltiplos também os atores que concorrem, direta e indiretamente, para que esses desflorestamentos persistam por anos e anos, deixando, como saldo, regiões imensas, maiores que muitos países do planeta, transformados em verdadeiros e inóspitos desertos. Nesse balaio de formigas saúvas, estão misturados ONGs, mineradoras, o agronegócio, madeireiros dentro e fora do país, índios, políticos, multinacionais e uma infinidade de outros sujeitos, todos com sua devida parcela de responsabilidade.

         A situação é tão surreal e tamanha que chega ser estranho que ainda não exista, de forma objetiva e atuante, uma bancada do meio ambiente dentro do nosso parlamento. Trata-se, como já deu para notar, de um problema que, mesmo por suas dimensões e consequências futuras, não é tratado com empenho por nenhum governo, seja ele local ou nacional.

         Ao contrário do que ocorre com outras ações do governo, mais visíveis e com maiores ganhos eleitorais imediatos, não se vê, em parte alguma, campanhas institucionais alertando para o tema da destruição de nossas riquezas ambientais. Todos temos parcela e responsabilidades por essa tragédia. Questões como o aquecimento global, redução dos recursos hídricos, esgotamento e empobrecimento do solo e desertificação parecem não incomodar as autoridades desse país e muito menos a população, que segue desinformada sobre as sérias consequências que essas catástrofes acarretarão para toda a humanidade.

         Nas escolas, o problema da destruição contínua de nossas riquezas, causas e consequências também não são abordadas, quando são, de forma transversal. Para os brasileiros que estão mais ligados nesse tema, o resultado de todo esse lento e crescente desmatamento já pode ser percebido com o aumento da temperatura, a baixa na produção das terras, no desaparecimento de cursos d’água, alguns outrora com grande vasão, o desaparecimento de vida silvestre, o prolongamento de secas e seu inverso, com chuvas torrenciais que destroem tudo e lavam o solo, e toda uma reviravolta da natureza que vai, a cada dia, tornando o próprio planeta um ambiente hostil para os humanos.

          Em nosso caso particular, já que a capital do país fica encravada bem no centro do Cerrado, cercado de vastíssimas lavouras, onde se pratica, intensamente, a monocultura de espécies transgênicas, todas voltadas para o mercado externo, a questão do desmatamento repercute e traz preocupações para todos. Apenas nos últimos quatro meses, a destruição do Cerrado apresentou um crescimento de mais de 17%, atingindo uma área de, aproximadamente, 2.133 Km², um recorde.

         Por se tratar de uma região cujo equilíbrio ecológico é um dos mais delicados do mundo, essa é uma notícia ruim para os brasilienses e para o Brasil. Os responsáveis maiores, nesse caso, são os empresários da agropecuária, quer não têm respeitado os limites de desmatamento, criando o gado e expandido suas atividades Cerrado adentro. Fazem isso com a certeza de que as punições não virão. Se mesmo os gigantescos tsunamis de poeira, com o prolongamento das estiagens, aumento significativo da temperatura e desaparecimento de rios não assustam essa gente, que dirá da fiscalização do governo, sempre falha e inócua.

         Pudesse toda essa questão ser trabalhada sem interferências políticas ou ideológicas, entregando todo esse problema nas mãos de técnicos ciosos de sua função, com suporte de autarquias, infensas as ações dos governos de plantão, funcionando ininterruptamente sem intromissões e com recursos próprios, talvez o tema do desmatamento seria minorado e deixaria de aparecer nas manchetes dos noticiários do país e do mundo.

A frase que foi pronunciada:

“Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros.”

Voltaire

Foto: reprodução da internet

 

Momento difícil

Nossos sentimentos à família de Orlando Rosa, cinegrafista da TV Brasília, falecido em acidente.

Orlando Rosa. Foto: Arquivo pessoal

 

Lei Seca

Uma medida tão simples reduziria o número de mortes e acidentes. O álcool é o grande responsável pelas consequências desastrosas na cidade e entorno.

Foto: Divulgação/CBMDF

 

História de Brasília

Assim, vejamos: o arroz de 35 cruzeiros o quilo, é revendido a 75; o leite, de 30 cruzeiros, é revendido a 35, e o azeite, de trezentos e poucos cruzeiros, custa, fora, mais de 400 cruzeiros. (Publicada em 18.03.1962)

O avanço da poeira

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Foto: Carlos Fabal/AFP – 25/08/19

 

         Marchamos a passos acelerados, movidos por cega ganância, por um caminho que, inevitavelmente, irá nos conduzir a um novo e vazio Planalto Central. Tomado pela aridez do deserto, esse imenso território, varrido por ventos escaldantes e pela poeira fina, está agora todo coberto com o farrapo branco da morte.

         O horizonte em volta daquela região central do país, que um dia foi o berçário das águas e da vida, está hoje irreconhecível. Assim como a outrora moderna e pujante capital do país, cercada e inviabilizada pelo deserto que avança intrépido por ruas, avenidas e monumentos, cobrindo tudo com o pó fino das areias.

         Entre julho e setembro, o céu se fecha com a cortina espessa e escura das nuvens de poeira, que aos poucos vão soterrando Brasília e o entorno. Tal como um coveiro lança terra sobre os mortos, a natureza, indiferente, vai sepultando tudo em volta, cobrando seu preço por décadas de destruição dos campos do Cerrado.

         Eis aí um vaticínio certo e seguro, que mostra como será, num curto espaço de tempo, o Centro Oeste do Brasil, caso prossigam na mesma rota suicida substituindo a vegetação local por monoculturas transgênicas, implantadas em imensos latifúndios e destinadas à exportação e ao lucro de poucos. O Cerrado, como tem alertado os ecologistas e cientistas do meio ambiente, está agonizando à vista de todos, por conta do agronegócio e da expansão desenfreada da monocultura.

          Somente o setor agropecuário, que coloca o Brasil como o país com o maior rebanho bovino do planeta, já tomou conta de mais de 45% de toda a área do bioma Cerrado. É o lucro feito a qualquer custo e tem sido denunciado aqui, neste mesmo espaço, para a contrariedade daqueles que acreditam ser possível lucrar com a destruição irreversível. O Cerrado, como tem alertado a doutora em Antropologia Social e assessora do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), Raisa Pina, está pedindo socorro e exigindo medidas urgentes para conter o desmatamento. Sobretudo agora, às vésperas das eleições gerais, quando esse importante tema deverá ser incluído ou, ao menos, citado entre os diversos programas de governo apresentado pelos candidatos. Por enquanto, esse tema delicado, por se tratar de um setor com grande poder de lobby e com uma expressiva bancada no Congresso, ainda não veio à tona.

         Falar de forma negativa do agrobusiness, quer apresentando verdades incontestes ou elencando seus efeitos deletérios, mesmo em se tratando de um setor superavitário e incensado pelos políticos, desperta paixões e, não raro, termina em confusão e pressões indesejáveis. É, sem dúvidas, um assunto delicado, mas que não deve ser evitado, sob pena de comprometermos, severamente, o futuro das próximas gerações de brasileiros, que irão colher os frutos amargos de ações impensadas e baseadas apenas na ideia de lucro imediato.

          Atrás do processo dinâmico do desmatamento, vem o agronegócio, de olho na expansão insana da produção. Quem, por acaso, duvidar desse processo de destruição acelerada basta verificar o que mostram os números e dados fornecidos pelos cientistas que monitoram esse território.

         Raissa Pina chama a atenção para o fato de que mesmo os chamados desmatamentos legais são irregulares e trazem enormes prejuízos a todo esse Bioma. A controversa política de Estado, baseada no desmatamento em favor do aumento de produção do agronegócio, só faz legalizar uma atividade que vem destruindo, sistematicamente, o Cerrado. Essa história de que o agronegócio preserva não passa de propaganda falsa, feita para iludir consumidores, principalmente na Europa, onde aumentam os embargos a produtos, fruto de destruição do meio ambiente.

         A cada avanço das fronteiras agrícolas e do aumento de produção, sempre anunciados com estardalhaço, aumenta, em maior proporção, a destruição do meio ambiente, a expulsão dos povos autóctones e a decadência da agricultura familiar e da produção de grãos sadios. Para se ter uma ideia do avanço do agronegócio sobre o Bioma Cerrado, apenas entre 2010 e 2020, o Cerrado perdeu mais de 6 milhões de hectares de vegetação nativa, lembra a pesquisadora. Não se trata de uma área qualquer, já que o Cerrado ocupa quase um quarto do território nacional e responde sozinho por mais de 5% de toda a biodiversidade do planeta.

         O desaparecimento desse delicado bioma trará impactos profundos em toda a Terra. Como dizia, com muita propriedade, o pensador austríaco Karl Kraus: “O progresso é o avanço inevitável da poeira”.

 

A frase que foi pronunciada:

“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”

Nicolas Behr

Nicolas Behr. Foto: correiobraziliense.com

 

Emboulos

Uma faixa na igreja universal afirmando apoio, postagem nas redes sociais e milhares de visualizações. O candidato pelo PSOL teve essa ideia para angariar mais eleitores. O caso foi parar no TSE, já que a instituição negou, veementemente, apoio a Boulos. Por muito menos, há candidatos que perderam a chance de concorrer às eleições deste ano. Vamos acompanhar o desenrolar dos fatos.

Imagem: universal.org

 

História de Brasília

Talha logo, perde. Mas crianças do “Gavião” não precisam tomar leite. Um frigorífico não é para ser usado no “Gavião”. E fica o bairro sem leite, depois das nove horas. (Publicada em 10.03.1962)

Nosso futuro Saara

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Foto: Andre Penner/AP

 

Como país que possui a maior parte do seu território inserida entre as linhas imaginárias dos Trópicos de Câncer e Capricórnio, o Brasil e outros na mesma situação geográfica experimentarão, nas próximas décadas, um escalonamento progressivo nos níveis de temperatura, que tornarão a vida nesses locais, para dizer o mínimo, um martírio. Sobretudo, as regiões ao Norte, que incluem os estados do Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins.

As temperaturas nesses locais, por volta da virada do século, poderão aumentar, em média, até 12 graus centígrados, aproximadamente, o que tornará a permanência de populações nessas áreas, um risco sério para a saúde. Esses efeitos catastróficos se estenderão também para todos os países da América Latina situados próximos a essa latitude, o que pode gerar um fluxo nunca visto de migrações em massa de populações para outras partes do planeta.

O problema é que o tempo na natureza não é o mesmo que reconhecemos nos relógios. Além disso, a natureza não tem qualquer compromisso com a sobrevivência da espécie humana, a partir do ponto em que passamos a romper, unilateralmente, os códigos naturais que ordenam o respeito total ao meio ambiente e a sua preservação. Sem a preservação do meio ambiente e de todos os biomas conhecidos, a vida sobre o planeta será tão limitada e complexa como é hoje viver sobre o planeta Marte ou outro do nosso sistema solar.

Cavamos, por nossa incúria e ambição, a sepultura dos futuros habitantes desse planeta, sem qualquer arrependimento, cometendo uma espécie de crime premeditado contra a humanidade, que faria o Holocausto, com todo o respeito e dor, parecer uma travessura de criança. O desmatamento que segue acelerado em toda a área da floresta Amazônia, e que já consumiu também boa parte do Cerrado brasileiro, é a prova de que não apenas somos cúmplices desse genocídio, como deixamos todos os vestígios desse crime à mostra.

Seguidamente, os alertas científicos têm sido ignorados, quando não ridicularizados por nossas autoridades em conluio com os mais poderosos e gananciosos grupos empresariais que praticam, em larga escala, a produção de grãos de carne bovina para o mercado externo.

Os bois e as monoculturas avançam florestas adentro, trazendo, atrás de si, as motosserras os tratores que cuidam de “limpar” a área para nova produção, enquanto o Sol, inclemente e impassivo em sua posição perpendicular ao solo, cuida de calcinar o campo descoberto, provocando primeiro um processo de savanização e depois o deserto com suas areias escaldantes e áridas.

A floresta amazônica e o Cerrado representam o nosso Saara do amanhã. De acordo com estudos elaborados e publicados pela Communications Earth & Environment, e que contou com a colaboração de cientistas brasileiros da Fundação Oswaldo Cruz no Piauí, o desmatamento e a degradação do meio ambiente acelerada e sem contenção alguma tornarão as regiões do Norte do Brasil intoleráveis para a presença humana, Desidratação, cãibras, hipertermia e morte são os sintomas que aguardam aqueles que permanecerem nessas localidades, quando o forno da natureza for aceso de modo irreversível e avassalador.

Por enquanto, são apenas previsões, mas que já se anunciam no dia com o aumento paulatino das ondas de calor. Moradores antigos dessas regiões lembram que, a cada nova estação do ano, os fenômenos anormais de cheias e enchentes, seguidos de ondas de calor insuportáveis, acontecem em ritmos cada vez mais intensos, prenunciando o pior que está por vir, se nada for feito de imediato não apenas no combate ao desmatamento, mas em projetos de reflorestamentos emergenciais.

Notem que, no atual estágio de degradação ambiental que estamos, já não adiantam medidas contra o desmatamento que não acontecem, mas é preciso ainda um largo e lento processo de reflorestamento dessas áreas desmatadas, pra recompor, ao menos, parte dos estragos já feitos. Mesmo assim, os cientistas acreditam que todo esse processo de reverter o que foi destruído ao longo dos anos já se tornou uma tarefa muito além da capacidade humana, sobretudo quando se sabe que todo esse esforço para impedir o pior ainda é um sonho de ambientalistas e sequer passa na cabeça daqueles que estão nas altas esferas do atual governo e entre os poderosos empresários do agrobusiness.

Em breve, todos esses senhores da morte estarão lavando as mãos para essas consequências deixadas para trás, sendo toda a culpa, pelos crimes ambientais, depositado nas contas do pequeno agricultor da região que vivia do extrativismo artesanal da castanha do Pará.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Você tem cérebro em sua cabeça. Você tem pés em seus sapatos. Você pode se orientar em qualquer direção que escolher.”

Dr. Seuss

Imagem: brasilsemmedo.com

 

História de Brasília

Adjubei, genro de Kruchev, depois de visitar Brasília, disse que tivera, ao conhecer Oscar Niemeyer, maior emoção do que quando conhecera seu sôgro. (Publicada em 10/02/1962)

O Distrito Federal não é uma ilha

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Foto: brasil.gov.br

 

Com apenas 5.801,9Km², o Distrito Federal se apresenta como um pequeno quadrado instalado bem no coração da vasta região Centro-Oeste. Por isso, no nosso caso específico, vale o dito: geografia é destino e, também, fatalidade. O que vier a acontecer na região central do Brasil terá reflexos diretos em Brasília, ditando inclusive a sua viabilidade futura como capital. Dessa forma, fica mais do que evidente que os esforços no sentido de debelar, de modo satisfatório, a atual crise hídrica, tem, necessariamente, que ser estendidos a toda a região circundante, num esforço conjunto, persistente e de longo prazo. Sem isso, não há solução para o problema crescente de falta de água.
Ambientalistas brasileiros e internacionais, que bem entendem do problema, são unânimes em reconhecer que a região Centro-Oeste e, principalmente, todo o bioma cerrado estão na iminência de vir a se transformar, em pouco tempo, num grande e árido deserto por conta da ganância humana desmedida e inescrupulosa. Observando o que vem se passando, num raio de pouco mais de 500km em torno da capital, é possível, agora, ter uma ideia mais precisa dos seríssimos problemas que, há anos, vem ocorrendo e se acumulando em toda região, e que mesmo a despeito dos seguidos alertas feitos, não foram enfrentados de forma pronta e responsável pelas autoridades. Nos últimos anos, centenas de pequenos riachos e afluentes de rios caudalosos simplesmente deixaram de existir. O mesmo fenômeno vem acontecendo com nascentes e lagoas: a maioria está em avançado processo de desaparecimento.
O que ocorre na região Centro-Oeste se repete no restante do país. Dados divulgados pelo Observatório do Clima mostram que, no Brasil, as emissões de gases de efeito estufa aumentaram em 8,9% no ano passado e deverão seguir a mesma tendência este ano. É o nível mais alto desde 2008 e a maior elevação vista desde 2004. No ano passado o país emitiu 2,278 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (CO2e), o que coloca o Brasil como a sétimo maior poluidor do planeta. Pior é que esse aumento de poluição se deu em meio à maior recessão econômica da história do país, o que equivale a dizer o Brasil aumentou os índices de poluição sem gerar riqueza alguma para os brasileiros.
O aumento de poluição se deu, exclusivamente, por conta do desmatamento, de mudanças de uso da terra e em consequência das seguidas queimadas. “Temos, hoje, a pior manchete climática do planeta: aumento de emissões em razão de desenfreada destruição florestal e totalmente dissociado da economia. Não vai adiantar o governo e os ruralistas dizerem lá fora que o agro é pop; não vão convencer a comunidade internacional e os mercados de que está tudo bem por aqui”, diz Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima.
No caso da região Centro-Oeste, que nos interessa mais particularmente, estudos demonstram que, entre 2013 e 2015, 18.962km² de cerrado foram destruídos, o que equivale à perda de uma área equivalente à cidade de São Paulo a cada dois meses. Este ritmo de destruição torna o cerrado um dos ecossistemas mais ameaçados do planeta. Todos os ambientalistas envolvidos com essa questão concordam que a expansão do agronegócio é a principal causa desse problema. “A exemplo de compromissos assumidos por empresas na Amazônia para eliminar o desmatamento de suas cadeias, é fundamental que um passo na mesma direção seja dado para o Cerrado, onde a situação do desmatamento é muito grave”, afirma Cristiane Mazzetti, especialista em desmatamento zero do Greenpeace Brasil.
Os cientistas lembram que o cerrado abriga as nascentes de oito das 12 regiões hidrográficas brasileiras e responde por um terço da biodiversidade do Brasil, com 44% de endemismo de plantas. Por outro lado, a redução desse bioma alterará os regimes de chuvas, impactando não só o agronegócio, mas a existência da própria capital do país. Essa situação é ainda mais calamitosa no Norte de Minas Gerais, que pode, em menos de duas décadas, se transformar em deserto, inviabilizando economicamente mais de um terço de todo o estado.
O desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva, em conjunto com as condições climáticas adversas, já levaram a pobreza e a miséria a mais de 142 municípios mineiros, o que já afeta mais de 20% da população desse estado. É preciso que todos compreendam que o que garante de fato a produção agrícola e a pecuária no Brasil é o equilíbrio ambiental. Sem ele, não há formação de chuvas por evapotranspiração e, por conseguinte, não há água para plantas e animais, inviabilizando absolutamente tudo. A destruição do bioma Cerrado trará repercussões catastróficas para o país.
Segundo alguns cientistas que a décadas estudam o cerrado, nessa região, as raízes atuam como uma gigantesca gigantescas esponjas, absorvendo as águas das chuvas e levando-as a recarregar os aquíferos, favorecendo a maioria dos grandes rios da América do Sul. São as águas desses aquíferos, como Guarani, Urucuia e Bambuí, que alimentam desde as represas de São Paulo, como o próprio Rio São Francisco. Especialistas alertam, inclusive, que o incêndio que devasta agora o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, considerado o maior de todos os tempos, trará sérias consequências para o abastecimento dessas reservas subterrâneas.
O caminho das águas vai das raízes esponjosas para os lençóis freáticos e, desses, para os aquíferos, num ciclo sem fim. Neste caso, e mais uma vez, os cientistas estão de acordo com a sentença: a destruição do cerrado, significa a destruição dos rios num curto espaço de tempo, sendo que a reposição da vegetação original e diversa é tarefa das mais impossíveis. A destruição da vegetação levou ao desaparecimento de abelhas e vespas nativas, fundamentais para o processo delicado de polinização das plantas do cerrado, impedindo sua reprodução.
Esta situação alarmante teve início ainda nos anos setenta com a expansão das fronteiras da agropecuária sobre o cerrado. No caso da crise hídrica que afeta o Distrito Federal, a utilização das águas subterrâneas para a irrigação da lavoura no entorno da capital vem prejudicando enormemente a recarga desses aquíferos, o que agrava, ainda mais, o problema da escassez de água na capital. Como na natureza tudo parece estar interligado dentro um sistema harmônico, a insuficiência na recarga de águas dos aquíferos acaba prejudicando as próprias nascentes que começam a desaparecer, uma a uma, num efeito em cadeia, o que acaba por comprometer gravemente o abastecimento de córregos e rios.
A cada ano aumenta o número de municípios pelo interior que declaram situação de emergência por conta da falta de água. Este ano, foram 872 nesta condição. O que os latifundiários do agronegócio ainda não compreenderam ainda é que, com a destruição do bioma cerrado, toda a atividade agropastoril desaparecerá junto. Nem a criação de caprinos será viável neste cenário de destruição. Estamos todos, conscientemente, destruindo o chão sob nossos pés. O aumento da população e do consumo, a destruição do meio ambiente, concomitante aos efeitos do aquecimento global. A poluição crescente e o descaso das pessoas e dirigentes, tudo leva a crer que entramos num ciclo descendente que parece preparar nosso próprio fim.
História de Brasília
O serviço de comunicação do Ministério da Fazenda está pior que o DCT e a culpa disso é o abandono a que está relegado no Rio. Um telegrama remetido pelo diretor-geral no dia 26 somente hoje chegou em nossas mãos. O mesmo telegrama passado também pelo DCT chegou no mesmo dia em outra instituição. (Publicada em 08.02.1962)

Um futuro que infelizmente chegou

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O então presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976) e o arquiteto Lúcio Costa (1902-1908) em visita ao local onde seria construída a Avenida Monumental de Brasília, em 11 de novembro de 1956. Posteriormente, a via foi batizada de “Eixo Monumental”. Foto: Arquivo Público Nacional

 

Quando decidiu pela mudança da capital, no final dos anos cinquenta, Juscelino Kubistchek, seguindo os passos de José Bonifácio e, posteriormente, da Missão Cruls, não fazia a mínima ideia de que o interior do país, nomeado de Planalto Central, onde deveria ser fixada a nova capital, era em sua totalidade, formado pelo mais delicado e sensível bioma de todo o continente. E mais ainda: era nessa região que se formavam as principais bacias hidrográficas do país, responsável pela maior parte do abastecimento de água do Brasil e reconhecida hoje como o berço das águas ou a caixa d’água do Brasil.

Das oito bacias hidrográficas do país, essa região é responsável pelo abastecimento de nada menos do que seis bacias, ou seja, sua importância num mundo que parece caminhar para a escassez de água é vital para os brasileiros. Obviamente que, naqueles tempos, não havia nem a discussão de temas ambientais, nem tampouco preocupação com o fim dos recursos naturais. Eram tempos de otimismo e de apelo exacerbado ao progresso, além de outros temas inerentes daquele período, como o da integração nacional, capaz de reduzir as desigualdades regionais, que, naquela ocasião, já era o grande gargalo a impedir o desenvolvimento do país continental.

Por outro lado, havia ainda a questão de segurança da sede administrativa do país, que seria amenizada com o afastamento do litoral. Nesse quesito, contava ainda a importância que traria, para todos, o estabelecimento de uma capital num ponto equidistante em relação ao país. Em suma, eram essas questões que guiavam a decisão que tornou inquestionável a transferência da capital.

No início da segunda metade do século XX, a ecologia e as preocupações com o meio ambiente não eram sequer sonhadas. Mesmo que fossem aventadas sua existência naquele ambiente, o apelo pelo progresso era mais intenso e decisivo que tudo. Hoje é possível reconhecer que foi justamente graças ao total desconhecimento de questões relativas ao meio ambiente – e mais especificamente ao Cerrado, considerado hoje como o segundo maior bioma brasileiro em tamanho, sendo também a mais rica savana do mundo em biodiversidade –, que foi possível estabelecer a capital nessa região.

A movimentação de centenas de milhões de metros cúbicos de terra, nos processos de terraplanagem, a abertura de estradas e vias e infinitas obras de infraestrutura, para o estabelecimento daquela que seria a mais moderna capital do país, fez desaparecer, num curto espaço de tempo, toda a vegetação que havia nas áreas de construção de Brasília, com o assoreamento de diversos córregos e veios de água e de nascentes.

Com essa “limpeza” do canteiro de obras, muitas espécies de animais também foram mortos ou rumaram para outras áreas. Comum naquela época era considerar as áreas ocupadas pela vegetação nativa como campos feios e sujos e, por isso mesmo, passíveis de uma “limpeza” ou substituição daquelas espécies por outras mais vistosas do ponto de vista de um paisagismo artificial e importado de outras regiões.

O avião de Brasília, representado pelo desenho urbano e revolucionário de Lúcio Costa, ao pousar no coração do Planalto Central, trouxe para esse sítio, além do progresso que desejavam os políticos e estrategistas daquele período, uma intensa e paulatina interferência em todo o bioma da região, num processo que foi se intensificando ao longo dos anos, conforme era consolidada a nova capital, com a ocupação de áreas sensíveis ecologicamente.

Todo esse processo de ocupação ganhou ainda mais intensidade com o passar dos anos, sendo enormemente acelerado a partir da emancipação política da capital, quando o Distrito Federal foi, de certa forma, abduzido pela esperteza de políticos locais com a ajuda de empreiteiros gananciosos, formando uma turma que tem cuidado, nas últimas décadas, de dilapidar o que resta de patrimônio ecológico do quadrilátero da capital, sob a égide ainda de um progresso que nada mais é do que o avanço perpétuo da poeira.

Toda essa situação ganhou ainda mais impulso com florescimento intenso do agrobusiness, que, ao expandir sua produção de monoculturas pelos campos cerrados, literalmente, vem devastando todo o bioma em torno da capital, para a produção de transgênicos destinados à exportação e obtidos com largo emprego de pesticidas e outros venenos, muitos deles proibidos no exterior, contaminando o solo e a água dessa caixa d´água do país cada vez mais seca.

O que se vê hoje em torno da capital, que se pretendia exemplo para todo o mundo, é a desolação de descampados, com rios de pouca vazão, emoldurados pelo fogo, que nas épocas de seca, transformam-na numa região que arde e que vai sendo encoberta pelo pó e pela fumaça, o retrato acabado de um futuro que infelizmente chegou.

A frase que foi pronunciada:

As trevas não podem expulsar as trevas: só a luz pode fazer isso. O ódio não pode expulsar o ódio: só o amor pode fazer isso.”

Martin Luther King

Foto: Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis nos EUA e Nobel da Paz | Arquivo (blogs.oglobo.globo.com)

De olho

Jornal Contábil chama a atenção dos cardiopatas. O Instituto de Previdência Social atende pessoas nessa situação de saúde com auxílio-doença, aposentadoria por invalidez ou até Benefício de Prestação Continuada. No link Benefícios do INSS para quem sofre com doenças do coração, a matéria completa.

Foto: @freepik / freepik

Sällbo

Imagine uma Casa de Repouso, onde jovens que precisam de moradia compartilham o espaço com idosos deixados lá pela família. Tudo começou na Suécia e está cada vez mais popular. Compartilhar o espaço foi além das expectativas. Ao assinar o contrato, tanto idosos quanto jovens se comprometem a socializar por, pelo menos, duas horas por dia. O sucesso é tão grande que muitas vezes esquecem da hora.

História de Brasília

O PSD de Pernambuco está brigando com o PTB por causa de um cargo, e como bode expiatório surge o nome de Alfredo Ramos Guarda Mot da Alfândega de Recife. Noticiário pré-moldado foi distribuído a toda a imprensa. (Publicado em 04.02.1962)

Repetindo o passado

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Foto: brasil.gov.br

 

É sabido, por aqueles que se dedicam ao estudo da história, que a condenação de atos do passado não possui a força necessária de fazer reverter o presente. Portanto, nada mais inócuo do que julgar fatos históricos. No entanto, ao analisar racionalmente o passado, com os olhos do presente, é possível empreender uma correção de rumos, capaz de mudar o que seria a história futura.

O problema com esse refazer de caminhos acontece quando não aprendemos com as antigas experiências, principalmente, aquelas que nos conduziram a perigosas encruzilhadas. Esse parece ser o caso do despertar do interesse nacional pelas áreas do interior do Brasil, fato esse catalisado pela transferência da capital para o Centro-Oeste nos anos 1960.

O que, a princípio, mostrou-se uma empreitada de absoluto sucesso estratégico, capaz de tornar realidade a posse efetiva do país pelos brasileiros, voltando os olhos da nação para as imensas riquezas e possibilidades do cerrado, parece que vai se transformando numa espécie de pesadelo a ameaçar a existência desse que ainda é o segundo maior bioma nacional. Depois da Amazônia, nada se compara ao cerrado em biodiversidade.

A questão central com o Cerrado é que nosso conhecimento sobre esse delicado e complexo bioma ainda é incipiente, o que é um perigo dadas as atuais extensões de áreas já efetivamente desmatadas para as atividades agrícolas e pecuárias, comandadas pelas forças pantagruélicas do agronegócio. Essa região, que abrange quase um quarto do território brasileiro, está, em sua maior parte, assentado sobre as maiores bacias hidrográficas do país, constituindo-se no principal responsável pelo abastecimento desses aquíferos. Em outras palavras, o que já se sabe é que, sem a cobertura preciosa da vegetação do Cerrado, toda uma imensa área de mais de 2. 036.448km2 pode virar deserto, afetando igualmente outras regiões do país.

Na realidade, o fenômeno da desertificação dessa área já é um fato e, pior, irreversível. Nos últimos 50 anos, coincidentemente depois da transferência da capital, 50% do Cerrado virou cinzas por conta da intensa produção de proteína animal para a exportação e de grãos, na maioria transgênicos, também destinado ao mercado externo. De fato, o Cerrado tem sido derrubado impiedosamente ao longo das últimas décadas, numa progressão criminosa e ignorante que segue ainda num crescendo alarmante, mesmo em decorrência das significativas alterações climáticas que vem se intensificando diante de todos. A cada ano, mais e mais riachos vão desaparecendo, deixando um rastro de areia e pedras no leito seco. Para se ter uma ideia, de agosto de 2019 a julho de 2020, o desmatamento desse bioma atingiu a marca de 7,3km2.

O agronegócio avança sobre essa vegetação em busca de lucros e, para isso, conta com o apoio incondicional do atual governo, numa situação que faz com que ambientalistas de dentro e de fora do Brasil considerem catastrófica, a ponto de comprometer o futuro dos brasileiros. Refém da bancada do agronegócio, o atual presidente tudo tem feito para desmontar os órgãos de fiscalização e para confeccionar legislações que abrandam as possíveis e raras punições.

Os conflitos sociais por disputas de terras e de água, antes inexistentes e inimagináveis, agora, são uma realidade. As commodities, vendidas em dólar e inacessíveis aos brasileiros comuns, ao mesmo tempo em que destroem a terra, assoreiam e envenenam os rios, vão deixando atrás de si uma região em franca evolução para um bioma do tipo caatinga, antes de se transformar, finalmente, num imenso e árido deserto.

Não aprender com erros de um passado recente parece ser o destino desse país, incapaz de evoluir do estágio colonial de cinco séculos, produtor de monocultura e mão de obra, ainda vivendo em condições análogas à escravidão.

 

 

 

A frase que foi pronunciada
“A força fez os primeiros escravos, a sua covardia perpetuou-os.”
Jean-Jacques Rousseau, filósofo, teórico político, escritor e compositor autodidata genebrino

Jean-Jacques Rousseau. Imagem: wikipedia.org

 

Repaginar
Ideia do ex-senador Cristovam Buarque de usar, no avanço da educação, verbas recuperadas pela Polícia Federal em operações contra a corrupção trouxe uma análise interessante. De um lado, o aluno recebe mais estímulo para se tornar um homem de bem e, de outro, o sistema educacional poderia ser dependente dessa verba, o que é uma incoerência.

Caricatura: carlossam.blogspot.com.br

 

Infeliz ano velho
Causa estranheza essa viagem do ex-presidente Lula à Cuba. O que deveria ser segredo, por uma postagem nas redes sociais, virou um escândalo. É acompanhar para ver onde isso vai parar.

 

História de Brasília
A operação-mudança está se fazendo sob o comando do sr. Hermes Lima e do sr. Felinto Epitácio Maia. O chefe da Casa Civil da Presidência da República está dando o máximo de importância ao assunto e o seu trabalho está sendo incessante para que venham novos Ministérios. (Publicado em 23/01/1962)

Um passivo de morte para as próximas gerações

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Foto: blog.aegro

 

Quem quer se iludir e se encantar com os pretensos lucros imediatos que o agronegócio tem trazido para a tão festejada balança comercial pode seguir tranquilo em seu delírio. O que não se pode, em hipótese nenhuma, é destruir e comprometer irremediavelmente o bioma brasileiro, como se tem visto até aqui, às custas de monoculturas para a exportação, que remete o Brasil ao período colonial, a cinco séculos atrás, quando nosso país se inseriu, como economia complementar da metrópole, dentro do que preconizava o capitalismo mercantilista.
Esse tempo, que se pensava ter ficado num passado longínquo e que tanto exauriu nosso país em troca de lucros, que também se desmancharam no ar, está de volta. Dessa vez, potencializado por máquinas gigantescas, que aceleram o processo de degradação e de contaminação do solo. Vivemos uma revolução agrícola às avessas, com todos os malefícios que essa atividade pode render num futuro que vai chegando de mansinho, encoberto pelo manto mágico dos agrodólares.

Tão enorme quanto esse apetite pela produção agrícola são os meios usados para que essa atividade não sofra processo de descontinuidade. Na mídia, no parlamento, no governo e em praticamente todos os canais institucionais existentes, inclusive nos diversos órgãos de controle do país, todos os esforços são empreendidos para que esse tipo de agricultura arraste terras, prossiga sua marcha.

O lobby é poderoso e desafia qualquer um. A censura e a repressão contra aqueles que ousam protestar em nome do futuro são pesadas. Cientistas e pesquisadores renomados, que, há anos, estudam esse fenômeno de pauperização da nossa biodiversidade, são publicamente enxovalhados. O desmantelamento dos órgãos que poderiam fiscalizar de perto todas essas atividades perversas foi feito dentro de um plano preestabelecido para ocultar as irregularidades que, seguidamente, aconteceram. Nunca, em tempo algum, a indústria de pesticidas e de produção de espécies transgênicas, lucraram tanto.

Biomas, como é o caso do cerrado, onde o agronegócio reina absoluto, impávido e intocável vão virando cinzas. O conhecido cientista Carlos Afonso Nobre, especialista nos fenômenos do aquecimento global, há anos, alerta para o processo de savanização de extensas áreas do cerrado e das bordas da região amazônica. Segundo ele, estamos há menos de duas décadas de distância para que isso ocorra, de forma irreversível e descontrolada.

As estações secas vão se prolongando cada vez mais, com o clima úmido dando lugar ao clima de savanas e a extinção das espécies da Amazônia. “Já desmatamos 1 milhão de metros quadrados na Amazônia, cerca de 800 mil quilômetros e a região tem uma produtividade que é 1/4 a 1/5 da produtividade de um estado como São Paulo”, alerta o cientista, ao acrescentar que 70% das emissões de CO² do Brasil vem do desmatamento e do agronegócio. Estamos em rota direta contra uma tragédia anunciada.

Somados, o agrobusiness, os grileiros, os garimpeiros, os contrabandistas de madeira e minérios, juntamente com a cobertura política que recebem em várias instâncias do Estado, estão, segundo Carlos Nobre, propondo uma espécie de crime organizado que é hoje uma verdadeira potência, um “PCC Amazônico”. O pior, para esses malfeitores, é que os efeitos desse crime continuado por décadas não podem ser escondidos da população, que, todo ano, assiste ao aumento das queimadas e das ondas crescentes de calor e de estiagem.

O mais penoso é saber que esse tipo de crime ocorre, também, simultaneamente em todo o Brasil. No Sul, os vinicultores, que produzem vinhos finos, estimam em mais de R$ 200 milhões os prejuízos causados pelos defensivos do tipo 2,4-D, usados em larga escala nas lavouras da monocultura da soja e que envenenaram grande parte das parreiras naquela região, impossibilitando a produção de vinhos, justamente num momento em que aquelas áreas tinham obtido o certificado de região demarcada.

A expansão da soja na região, toda ela para exportação para a China, inviabilizou outras colheitas, o que depõe contra a qualidade dos vinhos do Sul, tornando o produto totalmente impróprio para o consumo, interno e externo. O produto final de toda essa incúria criminosa é que o aumento paulatino das ondas de calor, vai, mais e mais, conduzindo as terras brasileiras rumo a desertificação e a consequente perda de capacidade de plantio.

Quando isso ocorrer, os verdadeiros protagonistas internos e externos, terão garantido sua parte nos lucros e esse será um problema, sem solução, sine die e sem condenados, empurrado para as novas gerações como um passivo de morte.

 

 

A frase que foi pronunciada:
“Ninguém está qualificado para se tornar um estadista que desconhece totalmente o problema do trigo.”
Sócrates, pensador ateniense

Sócrates – A estátua de Sócrates na Academia de Atenas. Obra de Leonidas Drosis (d. 1880). Foto: wikipedia.org

 

História de Brasília
Era por isto: o “sindicato” da W-4 não dá guarida a ninguém que quer negociar a preços honestos. Eles fazem os preços, recebem verduras de São Paulo e desprezam o local para que, mantendo o comércio a preço alto, e sob regime de monopólio, possam sufocar os produtores locais. (Publicado em 20/1/1962)

Somos tão ricos e tão pobres

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Foto: Embrapa/Ronaldo Rosa

 

Uma nova economia tropical é possível para o pleno desenvolvimento do país. Para tanto, basta que o Brasil invista fundo no conhecimento de sua rica biodiversidade. Pouco foi feito nesse sentido. Um novo modelo de economia tropical deve ser baseado na ciência, na tecnologia e na inovação aplicada ao que os cientistas chamam de “ativos biológicos” naturais de nossas florestas. E não é só na Amazônia, que é a principal depositária dessa biodiversidade, mas em outros biomas também como a Mata Atlântica, e o Cerrado, onde essa diversidade biológica é enorme e em boa parte ainda desconhecida dos brasileiros.

Plantas e animais, toda essa diversidade é resultado de centenas de milhões de anos de evolução biológica da nossa natureza, e deve ser, por isso mesmo, considerada a nossa maior riqueza, nosso maior potencial. À medida em que avançarmos nas pesquisas sobre essa biologia complexa, descobriremos um potencial jamais imaginado que está ali, há séculos, bem debaixo de nosso nariz.

Sinal mais claro de que seria bom um programa nacional para conhecimento da diversidade biológica é o interesse estrangeiro. Não podemos proteger o que não é do nosso conhecimento. Somos o único país no mundo com essa diversidade biológica e isso vale muito mais do que qualquer gado, soja ou exploração de minérios. Durante o período militar, houve uma certa preocupação em tornar o Brasil um país economicamente independente não apenas na área energética, mas em outros setores. Naquela ocasião, foram construídas algumas hidrelétricas importantes, investiu-se no biodiesel, no etanol, com destaque também para a geração de energia elétrica em usinas nucleares.

Para o pesquisador Carlos Nobre, se naquela mesma época tivéssemos criado também a Embrabio, empresa brasileira de aproveitamento econômico da biodiversidade, o Brasil teria uma outra economia. “Nesse século XXI, o maior valor econômico não está mais centrado em bens materiais, nem energia, nem minerais, hoje o referencial de riqueza de uma nação é o conhecimento, afirma o cientista.

Ao insistir na importância do estudo de nossa biodiversidade, como ela interage e como a natureza resolveu alguns problemas, o cientista acredita que poderemos encontrar uma via que irá nos conduzir a uma nova economia, ou mais precisamente no que chama de bioeconomia. Os países desenvolvidos, alerta, já sabem que a bioeconomia será muito poderosa num futuro próximo.

A partir de 2030, a Alemanha já projeta que 25% de toda a sua economia estará centrada na bioeconomia, retirando, da biologia mais profunda, novas e inusitadas riquezas. Infelizmente, nós que temos a maior biodiversidade do mundo ainda não percebemos, de forma clara, todo esse potencial à nossa disposição.

Numa análise simples, é possível verificar que o potencial da biodiversidade de uma região como a Amazônica é infinitamente maior do que a criação de gado, a mineração e outros. Para se ter uma ideia, o Guaraná, a Castanha do Pará, a Andiroba, a Copaíba e outros produtos, que antes tinham pequeno valor econômico, hoje são bem cotados dentro e, principalmente, fora do país. O caso do Açaí é exemplar. Hoje essa fruta tem uma produção de 250 milhões de toneladas e é consumida em todo o mundo, gerando riqueza e mantendo a floresta em pé.

Apenas com relação à esse único produto, já se sabe agora que a semente e o palmito do Açaí possuem também múltiplos e fantásticos usos, o que pode aumentar, ainda mais, o valor desse produto nos mercados internos e externos. Essa fruta, até há pouco tempo desconhecida da maioria dos brasileiros de outras regiões, gera em divisa para a Amazônia US$ 1,8 bilhão ao ano. Na indústria mundial, esse valor é dez vezes maior. E esse é apenas um produto. Portanto, é preciso entender essa diversidade biológica a partir do biomimetismo, ou seja, entendendo como a natureza resolveu certos problemas.

Nesse ponto, Carlos Nobre cita o exemplo de uma cientista da Amazônia, que através da observação da garra da formiga cortadeira daquela região, desenvolveu uma pinça cirúrgica muito mais eficiente e que hoje está sendo muito usada em outras partes do mundo. A Amazônia será o grande celeiro de conhecimento da bioeconomia. Para esse respeitado pesquisador, temos que ter um certo orgulho nacional de criar um modelo de desenvolvimento e sermos o primeiro país tropical a vir a ser desenvolvido, graças à nossa própria biotecnologia.

Temos, ainda, que aprender e respeitar o valor, com repartição de benefício, do conhecimento tradicional, sobretudo, das comunidades indígenas que possuem um grande conhecimento da riqueza dessa nossa biodiversidade. Temos que ser descobridores da nossa biodiversidade e não copiar outros países. Para tanto, teremos que fortalecer muito a nossa capacidade científica. O caminho é longo. Temos que ter essa autonomia, essa vontade, preparar o país, reforçando nossas pesquisas científicas internas. Para Carlos Nobre, a pesquisa em nosso país, nos últimos anos, tem ido totalmente na contramão do que vem sendo em outros países. Nossas pesquisas, diz, estão sendo abaladas, desprestigiadas, e mesmo massacradas, o que prova que a ciência brasileira continua a não ser vista estrategicamente por aqueles que estão no comando do país.

Para ele, à medida em que as pesquisas científicas em nosso país não são vistas como elemento central de desenvolvimento, o que teremos pela frente é o caminho do retrocesso muito mais perigoso, a longo prazo, do que as próprias crises políticas que agora experimentamos com a descoberta dessa avalanche de casos de corrupção.

Desprestigiar a nossa ciência, avalia, amputa a capacidade de o Brasil crescer a longo prazo. É preciso, ainda, deixar claro que a biotecnologia e a bioeconomia são ciências interdisciplinares, até mesmo transdisciplinar, e que envolvem, não apenas biólogos, mas bioquímicos, engenheiros de biotecnologia, físicos, químicos e todo o amplo conjunto de técnicos, que vão transformar toda essa riqueza biológica em bem- estar social para os brasileiros.

Temos, portanto, como missão, daqui para frente, pensar um modelo brasileiro e tropical de desenvolvimento com base em nosso principal ativo, que é a nossa riquíssima biodiversidade que teremos que proteger contra as investidas cegas de outros setores da economia, como vem sendo feita, por exemplo, pelo agronegócio.

 

 

 

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

A Novacap está disposta a reaver as granjas distribuídas a pessoas que não residem em Brasília, nem nunca tomaram posse da terra que lhes foi cedida. Há muita gente importante na primeira relação. (Publicado em 15/12/1961)

Perigo sempre às voltas

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Foto: ecoa.org.br

 

Transformada em moeda de troca, as terras públicas no DF foram, desde a emancipação política da Capital, usadas de modo irresponsável e criminoso para auferir vantagens de todo o tipo, desde a atração de votos até a obtenção de lucros para lá de suspeitos. Esperar que algum dia uma Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Legislativa desvende este cipoal de irregularidades é esperança vã.

Ao lado das consequências do aquecimento global, que tem provocado, em grande parte, a situação de escassez de água em Brasília, também é responsável a ocupação irregular das terras públicas, principalmente naqueles sítios que os ambientalistas denominam de áreas de recarga. Nas últimas décadas, sob a vista grossa dos principais órgãos de fiscalização, a Capital sofreu um poderoso processo de inchaço populacional, com pessoas afluindo de todo o canto o país, atraídas pelas promessas de doação de lote e casa, em troca de apoio político.

Que relação causa/consequência poderia existir entre o inédito racionamento de água na grande Brasília, que levou a uma séria crise hídrica sem precedentes e o tipo de política partidária praticada na Capital nestas últimas décadas? O que pode, num primeiro momento, parecer situações díspares, na verdade, possui uma relação íntima e poderosa.

Do dia para a noite, centenas de novos bairros foram sendo erguidos às pressas e sem planejamento algum. O que resultou dessa irresponsabilidade e ambição de algumas lideranças políticas locais, os brasilienses vão, agora, experimentando na pele. Não é só o esgotamento hídrico, já alertado lá atrás pelos ambientalistas, mas o colapso de toda a infraestrutura da cidade. Políticos, na sua maioria, têm dificuldade em entender o que é e para que serve o planejamento urbano. O horizonte desses personagens esporádicos se estende, no máximo, até as próximas eleições. O congestionamento em hospitais, escolas, e outros serviços públicos é o mesmo que vem se repetindo, diariamente, nas estradas e o mesmo que vem se agravando no abastecimento de água e no fornecimento de luz.

O padecimento atual da população resulta da ação inconsequente de hoje e de ontem das principais lideranças locais e ameaça não só com a falta de água, mas com a inviabilização da Capital, infelizmente transformada em valhacouto de oportunistas e aventureiros de toda ordem.

Foi somente a partir da mudança da Capital para o interior do Brasil, nos anos sessenta, que o imenso bioma de campo Cerrado, com mais de 2 milhões de quilômetros quadrados, passou a ser explorado e pesquisado com mais atenção. Especialistas já sabem hoje que essa ecorregião, com idade média de 45 milhões de anos, reúne e concentra a maior biodiversidade de todo o planeta. Recentemente, com o aprofundamento das pesquisas, ficou patente, para os estudiosos do assunto, que a preservação dessa área é de vital importância para o presente e o futuro do Brasil, principalmente por conta da questão hídrica.

Hoje já se sabe que o Cerrado é, por suas características ímpares, o berço das águas, concentrando nascentes que vão alimentar oito das doze grandes regiões hidrográficas brasileiras. É nesta região que estão concentrados os aquíferos Guarani, Urucuia e Bambuí, que alimentam alguns dos grandes rios do país. Com a expansão das fronteiras agrícolas, o Cerrado ganhou um protagonismo econômico inédito que, num primeiro momento, pareceu e ainda parece, para alguns, ser a redenção para toda a região.

A introdução de monoculturas, na maioria transgênicas, plantadas em vastíssimos latifúndios nas planícies, totalmente mecanizados, se por um lado vem fazendo a riqueza e a prosperidade de uma minoria de grandes produtores, de outro lado, vem arruinando irreversivelmente todo o ecossistema, comprometendo de forma, até criminosa, a produção natural de águas.

Em tempos de aquecimento global generalizado, a cada ano que passa, a situação de crise hídrica nas cidades localizadas dentro da região do Cerrado se agrava um pouco mais. O desaparecimento de pequenos e médios cursos de água já se tornou fato comum. A vegetação sofre com as queimadas criminosas e com a derrubadas, feitas pelos agricultores. Com a degradação da flora, somem os animais da região e tem início o lento e irreversível processo de desertificação, já em curso, segundo os especialistas. Na esteira dessa devastação, acentuada nos últimos anos pela invasão de terras e áreas de proteção, não é de se estranhar que o GDF, à semelhança de outros estados da federação, tenha decretado, agora, o estado de “atenção”, ameaçando pôr em prática um rigoroso racionamento de água.

A rigor, a suspensão no fornecimento de água ou a distribuição de água escura para algumas regiões da Capital já vem acontecendo há algum tempo, e tem se agravado nas últimas semanas. Na ocupação irregular de terras em troca de votos, começa a chegar o preço para a população e os valores serão altíssimos, inclusive com a ameaça de inviabilizar a própria Capital dos brasileiros.

 

 

 

A frase que pronunciada:

“O dinheiro é como esterco: só é bom se for espalhado.”

Francis Bacon, político, filósofo, cientista, ensaísta inglês.

Francis Bacon. Foto: oglobo.globo.com

 

Vergonha

Aconteceu em frente a SweetCake. Uma pequena reclamação, depois que o motorista ao lado havia aberto a porta com força e batido no carro, com um pequeno amassado. Finda a conversa, o dono do carro prejudicado entrou na loja. Ao sair, encontrou o carro todo arranhado. O serviço de segurança do local prestou todo apoio necessário e o homem foi localizado. Um diplomata que trabalha no Escritório Comercial de Taiwan. Um vexame!

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O juiz federal F. Murphy, segundo o mesmo telegrama ordenou a Pan-American que se livrasse de 50 por cento dos interesses que tem na Panagra, por meio da qual realizava as atividades declaradas ilegais. (Publicado em 17/01/1962)

Consequências que virão depois

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Cerrado em Quadrinhos, Alves.

Alguém já disse, tempos atrás, que as consequências representam tudo aquilo que virá depois. Um mundo paralisado por uma pandemia nunca vista, e que vinha num severo processo de décadas de poluição do ar, das águas e de todo o meio ambiente, tinha que experimentar, agora, as agruras sem fim do clima agreste, cada vez mais seco, quente e hostil.

Essa é a consequência de todas as mudanças bruscas chegando em forma do aquecimento global. O mais inquietante é que estamos mais do que irmanados nesse processo de destruição do mundo. Somos, hoje, um dos maiores protagonistas do planeta no quesito desrespeito ao meio ambiente. Em nosso caso, a própria agricultura, que alguns chegaram a anunciar como a grande redenção verde do país, capaz de transformar o Brasil no celeiro do mundo, teve que se transmutar para dar conta desse projeto megalômano, no chamado agronegócio ou, mais precisamente, agrobusiness.

Com o regime imposto às vastíssimas áreas que passou a ocupar, essas áreas foram submetidas a um verdadeiro sistema de terra arrasada, onde o lucro desmedido de poucos é feito às custas da dizimação do outrora rico bioma nacional. Essas mudanças, que acabaram transformando o cerrado num campo aberto para as commodities, vêm despertando, cada vez mais, a atenção de parte da população, alarmada com o noticiário interno e externo, dando conta do alto preço cobrado do meio ambiente para tornar o nosso país um campeão na produção de grãos e de proteína animal.

Com isso, ganha na consciência de muitos a certeza de que o agronegócio e sua correlata, a agroindústria, não produzem alimentos, mas apenas lucros para os grandes produtores. Uma ida ao supermercado, para comprar o básico arroz com feijão, reforça essa certeza de que, internamente, ficamos com os prejuízos irreversíveis ao nosso meio ambiente e os sempre altos preços dos alimentos básicos. Cotados em dólar, num tempo em que essa moeda se aproxima dos R$ 6, essas e outras chamadas commodities, há muito, estão longe do poder aquisitivo do brasileiro médio.

Até os países mais informados, de todo esse processo de produção selvagem e feita a todo custo, começam a boicotar nossos produtos nas gôndolas de seus mercados, mesmo que apresentem preços competitivos. Com o Congresso e o governo totalmente dominados pelo poder de lobby do agronegócio, não há muito o que fazer.

O pior nessa situação toda, se é que pode haver piora num sistema bruto como esse, é que nem mesmo os parques nacionais e as terras indígenas e quilombolas escapam do cerco desse gigantesco aparato multinacional de produção de grãos. Exemplo desse avanço sem limite sobre preciosas terras pode ser conferido a pouco mais de trezentos quilômetros de Brasília, no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Depois de engolir metade do cerrado com plantio de grãos e por pastagens, o agrobusiness vem cercando, literalmente, todo o Parque. De Alto Paraíso até Cavalcanti, no Nordeste de Goiás, o plantio de transgênicos e os campos de pastagens vão se impondo contra as árvores tortas do cerrado, queimando matas, envenenando os rios, esgotando as terras, tudo em nome de um progresso que não é mais do que o avanço da poeira, da destruição e da desertificação de áreas imensas.

Só podemos lamentar que, no futuro, se é possível que haverá algum, ninguém será responsabilizado por esses crimes contra a vida.

 

 

 

A frase que foi pronunciada:

“A Justiça é o freio da humanidade.”

Victor Cousin, filósofo, político, reformador educacional e historiador francês.

Foto: Victor Cousin by Gustave Le Gray

 

Em defesa

Mercedes Bustamante e Bráulio Dias, da UnB, Isabel Garcia Drigo, do Imafolra, Suely Araújo, do Ibama, e Edegar Rosa, da WWF-Brasil, foram convidados para participar, na Câmara dos Deputados, de discussões sobre a preservação do cerrado. Veja o vídeo da reunião a seguir.

 

Lixeiros

De sol a sol, recolhem os resíduos descartados pela população. Invisíveis até para as leis, que multam um braço de fora da janela do automóvel e permitem seres humanos pendurados atrás dos caminhões de lixo. Sempre com o rosto virado para o mau cheiro, correm e se penduram em hastes para que o caminhão continue a percorrer as ruas. Sem instalações ou pontos de apoio para que possam respirar, fazer uma refeição, tomar um banho. Há a promessa de que essa classe terá mais conforto para trabalhar.

Foto: agenciabrasilia.df.gov

 

Sorteio

Basta entrar no Instagram e procurar a Livraria do Senado. Seguir a conta, comentar o post de 7 de Setembro e marcar um amigo. Essa é a inscrição para concorrer a uma das 20 publicações sobre a Constituinte de 1823 que serão sorteadas. As informações são da Agência e Rádio Senado.

Publicação na página oficial da Livraria Senado no Instagram

 

Mudanças

Para quem preserva Brasília, imaginar que o Setor Comercial Sul possa se transformar em local de habitação e moradia causa estranheza e tristeza. Mas é preciso aceitar as mudanças do mundo. Com a pandemia, ficou claro que escritórios e gabinetes são espaços desnecessários em grande parte das profissões, onde o teletrabalho tomou lugar, dando mais segurança, economia e produtividade.

Mateus Oliveira: “O critério está definido – os 30% que chegarem com apresentação de projetos para conversão das suas unidades terão prioridade” | Foto: Renato Alves / Agência Brasília

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O ministro Franco Montoro defenderá, junto ao GTB, quinta-feira próxima, a prioridade para a transferência do ministério do Trabalho para Brasília. (Publicado em 16/01/1962)