Rollemberg e o fator X

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ARI CUNHA – In memoriam

Visto, lido e ouvido

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         Por qualquer ângulo que se analise a vitória surpreendente, em primeiro turno, do inexperiente e desconhecido Ibaneis Rocha, uma coisa parece certa: as eleições, tanto na capital, como em boa parte do país, revelaram surpresas de todos os tamanhos, pegando desprevenida a maioria dos institutos de pesquisas de opinião e quase todos os veteranos políticos que concorreram aos diversos pleitos em 7 de outubro.

      Aqui no Distrito Federal, os institutos de pesquisa vinham apontando, com acerto, os sucessivos índices de rejeição do atual governador. A questão, nesse caso é como essa avaliação tão negativa do governo Rollemberg foi possível para um mandatário, que a grosso modo, conseguiu não só recuperar a saúde financeira da capital, destruída por gestões ruinosas de governos vermelhos passados, como deu início à uma série de obras fundamentais para a cidade.

         À primeira vista, o que se pode apreender dessa contradição é que faltou ao atual ocupante do Palácio do Buriti uma maior interlocução com a população local, levando seu governo a se fechar por dentro, trabalhando em silêncio e isolando-se do mundo externo. Foi uma administração feita de forma correta, sem escândalos, vinda de um caixa completamente saqueado. Os Institutos de Pesquisa se enganaram ao julgar que Rollemberg havia despencado na aceitação dos brasilienses. Por outro lado, o marketing ou a comunicação social do governador não explorou os inúmeros pontos positivos de seu governo. A postura do staff da área de comunicação esteve omissa e pouco atuante.

       Obviamente, o maior surpreso com esse desgaste injusto tem sido o próprio governador, um político que tem feito, cautelosamente, toda sua carreira aqui na capital e sobre o qual não se pode pespegar qualquer ato de corrupção ou deslize na aplicação dos recursos públicos. Surpresos também devem estar os moradores, principalmente os residentes nas áreas tombadas da capital, onde Rollemberg obteve a maioria de seus votos, com o surgimento relâmpago e a ascensão meteórica do candidato do MDB, Ibaneis Rocha, um personagem até dias atrás, totalmente desconhecido pela população. Rollemberg vive em Brasília desde a infância.

       Fosse a soma dos votos transformada em uma equação matemática, onde o resultado final é sempre fruto da razão e da ciência exata dos números, a fórmula apresentaria, como o X da questão, as variantes, vontade popular difusa e o aparecimento de uma incógnita inesperada, na figura de um postulante fora do contexto local.

         O que mais chama a atenção nesse caso insólito é a aposta, feita no escuro, por centenas de milhares de eleitores do DF, ao escolher um total desconhecido para comandar os destinos da capital. Em casos extraordinários como esse, as distâncias entre uma ótima e péssima gestão são exatamente as mesmas, podendo levar os brasilienses a resultados finais também inesperados.

      Trata-se, na visão pragmática dos eleitores, de uma aposta feita, absolutamente no escuro, por meio de uma espécie de voto que parece traduzir, muito mais, as enzimas do fígado do que as sinapses da mente. O fato é que, seja quem for o postulante X, o ritual democrático de comparecimento nas urnas não pode ser igualado a uma aposta de jogo, feita numa banca de cassino. Nesse caso, os riscos para a democracia e para os cidadãos que irão pagar as contas, passam a depender, exclusivamente, dos fatores sorte ou azar, o que, convenhamos, é demais, até para um país meio sem rumo como o nosso.

A frase que foi pronunciada:

“Se as pessoas de bem não participarem da política, o que será de Brasília, o que será do nosso país?”

Ministro Rollemberg, do antigo Tribunal Federal de Recursos

Disfarces

Dado o número de candidatos desconhecidos da população, que obtiveram êxito no primeiro turno dessas eleições em boa parte do país e aqui mesmo no Distrito Federal, a recomendação para os eleitores conhecerem melhor esses novíssimos postulantes é ficar de olho naquelas figuras que aparecem lá no fundo dos comícios, disfarçados de plateia. Principalmente naqueles vídeos postados nas redes sociais onde esses novos desconhecidos aparecem, lado a lado com políticos para lá de enrolados nos arames farpados da lei.

Velhos políticos

A tática das velhas raposas é fisgar os eleitores lançando caras novas como prepostos, enquanto permanecem nos bastidores controlando a situação e colhendo os lucros dessa estratégia marota.

Charge do Leandro Spett
Charge do Leandro Spett

Novo

Recebemos a seguinte missiva: “Nota do Novo esquivando apoio a qualquer dos presidenciáveis do segundo turno ao tempo em que se contrapõe ao PT representa a velha política da neutralidade estratégica, por meio da qual, em nome de uma aparente isenção, pretende direcionar votos sem que apresente o correspondente posicionamento esperado. Quer o Novo, portanto, participação nos louros da vitória antipetista, mas sem o devido sacrifício para tanto. Esse muro é muito velho para um partido que se diz Novo.” Felipe de Souza Ticom, advogado.

Imagem: papodegalo.com.br
Imagem: papodegalo.com.br

Educação

Com o avanço cada vez maior do caos que mostra a desestruturação dos núcleos familiares, tem sobrado para as escolas o papel que antes cabia exclusivamente às famílias: o de educar e dar os primeiros ensinamentos morais e éticos aos seus filhos. Com isso, tem se repetido com frequência os casos de agressão e maus tratos aos professores, transformando as escolas públicas de centros de ensino, em verdadeiros reformatórios juvenis, com agressões, xingamentos e ameaças aos professores, principalmente aqueles que optam por disciplinas em salas de aula. Muitas vezes essas agressões partem dos próprios pais de alunos que não se conformam em ver seus filhos enquadrados por mau comportamento. Decisão proferida agora pela juíza Sônia Rocha Campos, do tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), condenando a mãe de uma aluna de uma escola de São Sebastião a pagar indenização de R$ 2.648,00 por danos materiais e morais, pode marcar o início de novos tempos e de uma nova postura nessas relações conturbadas.

Charge do Edra
Charge do Edra

 

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Quando o Prefeito Sette Câmara chegar a Brasília, receberá um plano geral de como ressuscitar a cidade. Todos os setores da Novacap e da Prefeitura estão preparando um plano de salvação da cidade. O plano de obras, do DVO, é excelente. (Publicado em 31.10.1961)

Proteção aos professores

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

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Charge: Latuff
Charge: Latuff

         Escolas, pelo importante papel que desempenham no acompanhamento e na formação de seguidas gerações, sempre foram as instituições que mais verdadeiramente espelharam não só a família, mas a sociedade em todas as suas etapas de transformação ao longo do tempo.

       Isso não quer dizer, necessariamente, que as escolas tenham acompanhado e evoluído na mesma rapidez verificada na sociedade. As transformações sociais, provocadas pelo processo contínuo na deterioração dos núcleos familiares tradicionais, têm surpreendido as escolas, colocando em xeque o modelo atual de ensino e, pior, entrado em linha direta de colisão contra os professores. Pais com preguiça de ensinar e medo de educar. Professores sem estímulo e cada vez mais sobrecarregados. Essa situação, por sua gravidade, ganhou dimensões que chegam a superar questões como os baixos salários, a falta de equipamentos adequados e de incentivos para categoria.

        De fato, a falta de educação nas famílias representa hoje o maior problema a afligir a quase totalidade dos professores. Ao inchaço populacional sem paralelo em outras unidades da federação, vieram se juntar a formação de bairros sem infraestrutura e improvisados, onde o desemprego e a falta de equipamentos públicos formam um conjunto de degradação social sem paralelo a outros momentos da nossa história.

        A esse quadro caótico somam-se os casos constantes de violência induzidos pelo consumo de drogas e de bebidas alcoólicas. É em meio a esse ambiente deteriorado que se situam grande parte das escolas públicas hoje, principalmente aquelas situadas nas periferias das capitais, onde os antagonismos e as desigualdades têm gerado um tipo novo de aluno. Não mais aquele rebelde que desejava mudar o mundo nos anos sessenta em diante, mais um público totalmente diverso, criado agora num ambiente em que a sobrevivência pertence aos mais aguerridos.

        Não há escolas e professores hoje que não tenham experimentado esse mundo novo, selvagem e perigoso. A esses ingredientes explosivos vieram se juntar os antagonismos políticos, insuflados por políticos e mesmo professores irresponsáveis que ainda acreditam que as contradições sociais podem ser resolvidas com coquetéis molotovs e arruaças.

       Transformadas de centros de ensino em verdadeiros reformatórios, muitas escolas vivem situações em que professores e funcionários são agredidos e ameaçados diariamente. Sendo que a maioria dos casos ficam circunscritos dentro dos muros escolares para não alarmar a população e não provocar ira maior dos infratores.

       Essa situação surreal já chegou ao conhecimento de instituições internacionais como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo essa entidade, que reúne a maioria dos países do Ocidente, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de agressões, físicas ou verbais, contra professores no ambiente escolar.

       Ciente desse problema, o GDF chegou a editar a Lei 5.531 de 2015, garantindo proteção ao professor e ao empregado da educação, estabelecendo, entre outras providências, que em casos de ameaça ou prática de violência contra o professor, a instituição deve afastar esse trabalhador enquanto perdurar a situação de risco.

       Em outros estados, como em Mato Grosso, a lei 10.473 passou a estabelecer uma política de prevenção à violência contra profissionais da educação, responsabilizando, inclusive, os pais de alunos por essas ocorrências. Quando professores necessitam de proteção legal para trabalhar é sinal de que a situação já chegou ao limite do tolerável.

A frase que foi pronunciada:

“Boas maneiras abrirão portas que a melhor instrução não consegue.”

Clarence Thomas

Charge: Benett
Charge: Benett

Alternativa

Em uma discussão na Câmara dos Deputados, Osmar Guerra sugeriu que a escola que funciona bem deveria ser premiada, para estimular as outras. Hoje quem não trabalha e quem trabalha têm o mesmo resultado. Então, para que se esforçar? Isso é da condição humana, instintiva. Bons professores e boa prática educacional merecem o reconhecimento do Ministério da Educação.

Foto: Paula Resende/ G1 (g1.globo.com)
Foto: Paula Resende/ G1 (g1.globo.com)

Reciprocidade

Não há um rastreamento possível nos portais de transparência, onde o contribuinte possa acompanhar o uso das verbas do orçamento repassadas para a União, Estados e Municípios, principalmente para a Educação. Se voltássemos ao tempo em que a população era fiscal do governo, talvez as quase 2 mil crianças do Recife não estariam fora da escola. Há dinheiro, mas as obras paradas e atrasadas tiram a oportunidade das crianças. Até quando as falhas de governos serão toleradas?

Charge: Ivan Cabral
Charge: Ivan Cabral

Outros tempos

Ninguém mais fala na PEC da Felicidade. O senador Cristovam, autor da PEC, está na frente na corrida para o Senado. Professor, o parlamentar pelo DF conhece a realidade educacional do país. Com tanta violência nas escolas, essa geração está fadada a se distanciar da felicidade. Seja ela obrigada a ser alcançada por uma Proposta de Emenda à Constituição ou não.

Foto: Agência Senado
Foto: Agência Senado

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O almirante Pena Boto foi fazer propaganda do comunismo nos Estados Unidos, e, antes de sair, falou mal do presidente, como se fosse seu parceiro. Aliás, esse almirante é responsável pelo grande número de adesões ao PC, que se verificaram ultimamente.  (Publicado em 27.10.1961)