O futuro ficou preso no trânsito

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com;

com Circe Cunha e Mamfil

Foto: cnt.org.br
Foto: cnt.org.br

        “A literatura exaltou, até hoje, a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco. Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo… um automóvel rugidor, que parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia. Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.”

Marinetti. Manifesto Futurista 1909.

        Com uma frota de veículos beirando 2 milhões de unidades, Brasília, a capital futurista, erguida em plena expansão da indústria automobilística brasileira, numa época em que se acreditava que modernidade era, sobretudo, sinônimo de velocidade e do predomínio inconteste das máquinas, chega ao século XXI literalmente paralisada, presa num engarrafamento diário gigantesco. Surge daí a ameaça de transformar o sonho do homem hodierno num pesadelo em que ele se torna refém das próprias máquinas que criou e que acreditava ser o seu salvo-conduto para um mundo perfeito colocado sob seu comando total.

        Do Manifesto Futurista, ficou hoje, a sensação de que esse amanhã, que ansiavam nossos antepassados, veio também de forma veloz, numa espécie de avalanche, que desabou sobre todos, sufocando, nossas cidades e nossas vidas com os subprodutos de um progresso que, nem mesmo nos maiores desatinos pudemos suspeitar existir.

        Queríamos a velocidade, e eis que ela cruzou sobre nossos corpos, deixando-nos estendidos no asfalto, com o sangue ainda quente a escorrer pelo canto das narinas. Queríamos a beleza da velocidade e a temos sobre o cadáver da própria beleza. Queríamos cantar o perigo, o hábito da energia e do destemor. E temos tudo isso e, acima e de tudo, tememos por tudo isso que temos.

        A Brasília que se orgulhava de ser dividida em cabeça, tronco e rodas, hoje se arrasta com dificuldade e parece seguir como numa cadeira de rodas. Com uma frota espantosa circulando como numa procissão de penitentes. A capital é hoje um arremedo do que pretendia ser. Com um transporte coletivo deficitário, sem conforto, sem higiene, sem segurança, sem horário e sem itinerário certo, o dia a dia dos brasilienses rumo ao trabalho ou de volta à casa é sempre uma penitência sem fim.

         A cada ano, a situação piora um pouco mais, com mais carros nas ruas, mais pessoas espremidas nos coletivos, mais acidentes e mais atrasos diários, mais descasos, mais reclamações, mais obras viárias a passo de tartaruga, mais poluição e, lógico, muito mais multas, mais pardais, mais taxas e cobranças, menos áreas verdes, menos estacionamentos, menos paciência.

        Se é esse o futuro que temos, melhor esquecer. Prefiro ir a pé ou de bicicleta. O futuro que vá para o diabo lhe carregue. De preferência, no rabo de um foguete.

A frase que foi pronunciada:

“Pensar é o trabalho mais difícil que existe. Talvez por isso tão poucos se dediquem a ele”.

Henry Ford

Para adultos

Regina Lopes continua a luta e nos envia o seguinte recado: Se você conhece alguém que queira se alfabetizar ou melhorar a leitura, indique! Estão abertas as inscrições. As aulas são gratuitas, dadas por professoras voluntárias às 2as feiras e 4as feiras, das 18h às 20h, em uma sala da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em frente ao Gilberto Salomão, do Lago Sul. Ligar para: Regina (9 8407-3396), Vânia (9 8111-1477) e Áurea (9 8127-6144). Para outros endereços, falar com Emílio (9 9956-5750).

Envenenados

Mesmo com a obrigatoriedade de identificar os ingredientes contidos nas embalagens, os produtos para diabéticos são os mais perigosos. O pão preto, por exemplo, que deveria ser feito absolutamente sem açúcar, vem com o componente descrito com letra menor. Melhor ler com cuidado! A dica é do leitor José Rabello.

Gotas de horrores

Outro leitor, que se identificou como Fecofi, nos envia uma sequência de absurdos pela cidade. Veja as fotos no blog do Ari Cunha. Vão desde uma calçada no Paranoá, feita provavelmente por quem nunca ouviu falar em mobilidade urbana, até o primeiro semáforo do Lago Norte, onde todos os motoristas param na faixa da direita, que é livre.

Indicação de direita livre (com semáforo vermelho) só para brasileiros.
Indicação de direita livre (com semáforo vermelho) só para brasileiros.
Congestionamento diário a partir das 17 hs. no balão da Esaf após obra realizada pelo DER.
Congestionamento diário a partir das 17 hs. No balão da Esaf, após obra realizada pelo DER.
Obra do DER no final do estacionamento na frente (lado oposto) da Esaf.
Obra do DER, no final do estacionamento, na frente (lado oposto) da Esaf.
Faixa de pedestre no Aeroporto.
Faixa de pedestre no Aeroporto.
Estacionamento no BIG-BOX - Banco do Brasil - Acho que é QI-23 Sul.
Estacionamento no BIG-BOX – Banco do Brasil – QI-23 Sul.
Placa sinalizadora de contra-mão no "final da rua" - W4 da 714 Norte.
Placa sinalizadora de contra-mão, no “final da rua” – W4 da 714 Norte.

Patrimônio

Nos primeiros anos de Brasília, um candango queria a ajuda de um colega para construir uma banca de revistas como um sebo, que trocava, comprava livros e revistas. O pioneiro era o senhor Antonio Ferreira de Araujo. Até hoje, seu sonho resiste ao tempo como um acervo respeitável. Trata-se do Sebo Cultural, na 511 Sul. O filho do candango, Carlos Barata, é quem mantém o patrimônio e busca parceria para incrementar o local. É só conversar com ele na banca. Veja as fotos no Blog do Ari Cunha.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Estas coisas, e outras mais, vindas do nordeste, é que possibilitarão o movimento de revolta que os Estados nordestinos estão guardando nos silos de sua capacidade de paciência. (Publicado em 14.10.1961)

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