Ganância gera repúdio

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960
colunadoaricunha@gmail.com;
com Circe Cunha e Mamfil

Foto: icetran.org.br
Foto: icetran.org.br

     Ganância, já dizia o filósofo de Mondubim, leva ao egoísmo e o egoísmo à solidão. Está sendo muito festejada pelos proprietários dos shoppings e principalmente pelos arrendatários de estacionamentos nesses centros de comércio, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em acolher Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) impetrada por uma tal Associação Nacional de Estacionamentos Urbanos (Abrapark), declarando ilegal a Lei 4.067/2007 que estabelecia gratuidade no pagamento de estacionamentos dos shoppings no Distrito Federal aos veículos de pessoas idosas e com deficiência. O que, à primeira vista poderia ser compreendido como uma conquista da livre iniciativa contra o poder regulador do Estado, é, na verdade, uma vitória vazia de humanidade e de grandeza que expõe, como, nenhum outro exemplo, a ganância desmedida desses falsos empresários que veem na vantagem dessa pequena batalha, um modo de aumentar seus já altos lucros.

       Cegos com o brilho falso dessas poucas moedas, nossos empresários insistem em caminhar na contramão de seus pares dos países do primeiro mundo que já perceberam que por detrás de uma marca, de um produto ou de uma empresa estão as contrapartidas éticas, humanas e sociais disponibilizadas por elas.

      Questões como fidelização dos clientes e respeito dos consumidores, fundamentais hoje para a sobrevivência de uma empresa a longo prazo, estão intimamente ligadas ao comportamento ético dessas companhias e compõem o perfil do moderno empreendedor. Portanto, soa anacrônico e primitivo, principalmente numa sociedade em que o número de idosos aumenta a cada dia, que se comemore uma decisão, instigada unicamente pelo desejo à riqueza e ao acumulo de riqueza.

      Os altíssimos preços cobrados nos estacionamentos desses centros de comércio, a muito tempo vem sendo alvo constantes de reclamações dos consumidores. Isso porque diante de um sinistro muitos se eximem da responsabilidade, mesmo cobrando uma exorbitância.

       Se de um lado trazem gordos lucros à esses empresários, de outro espanta uma multidão de clientes que resistem em ser espoliados de forma abusiva. Para os poucos idosos que dispõem de ânimo para frequentar estes estabelecimentos, a gratuidade era vista como uma forma generosa de atraí-los com segurança para esses locais, onde, não raro acabavam gastando alguns bons trocados.

      Soa ainda mais dissimulada a decisão dos controladores dos shoppings em esperar os movimentos frenéticos de compra de fim de ano para por em prática uma medida que já havia sido anunciada em novembro último, numa demonstração de oportunismo e que ofende não só a turma de cabelos brancos, como os milhares de deficientes que vivem nessa cidade. O que pode acontecer, daqui para frente, é que algum shopping vá contra essa corrente de ganância e estabeleça gratuidade para esses clientes, chamando para si boa parte desses consumidores desprestigiados por outros comerciantes. É um mínimo de esperança.

A frase que foi pronunciada:

“O pior é que aqui no Brasil, quando se trata de consumidor um dia é da caça outro da pesca. Quem consome é sempre o alvo de ataque.”

Dona Dita, sobre a cobrança para idosos nos shoppings

Saneamento

Mais uma notícia bem lembrada pelo nosso leitor Álvaro Costa. Acreditem ou não, IDH mais alto do Brasil, Lago Sul em Brasília, bairro nobre, não recebe o item mais básico de um saneamento público. Não há rede de esgotos. Apesar disso, a cobrança está lá. Bem descrita na conta.

O resultado é o uso obrigatório de fossas contribuindo sobremaneira para a contaminação do lençol freático, e disseminação de doenças infectocontagiosas prevalentes em áreas contaminadas. Pior que a negligência, imprudência e imperícia do governo é a absoluta falta de mobilização da comunidade prejudicada no sentido de pressionar as autoridades públicas para a solução definitiva deste absurdo social.

No Rio é um orgulho ver o bloco passar em frente à própria casa. Aqui em Brasília de tantas reclamações os blocos de carnaval vão se reunir no estádio Mané Garrincha, Setor Bancário Norte, Sul, ginásio Nilson Nelson e por aí vão. Bem longe das janelas.

Cilada

Votado como o mais criativo vírus enviado por e-mail é um perigo. A mensagem diz: “Confira seu contracheque”. Em tempos de vacas magras os desavisados abrem sem titubear. Daí o estrago é grande.

Consume dor

Na padaria Pão de Ouro a funcionária do caixa vociferava com um cliente porque ele não tinha trocado. Essa obrigação é dos comerciantes, não dos consumidores.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Os contribuintes do Iapetc estão reclamando que sempre que procuram o dentista do Instituto, encontram à porta do gabinete, uma plaquinha com a informação de que não há anestesia. (Publicado em 12.10.1961)

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