Fraqueza das legendas

Publicado em ÍNTEGRA

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com;

com Circe Cunha e Mamfil

Não fossem os recursos públicos, canalizados sob as mais diversas rubricas, sob as mais inventivas nomenclaturas, e de forma absolutamente compulsória, nenhuma legenda política, das mais de 30 que orbitam os legislativos do país, sobreviveria por mais de quatro anos ou por mais de uma eleição. Apenas por esse aspecto sui generis podemos inferir que a representação política, tão necessária para a manutenção do chamado Estado Democrático de Direito, realizada por meio de partidos sustentados exclusivamente com verbas públicas, resultam, na verdade, numa espécie de democracia do tipo estatal.

Em outro sentido, pode-se entender que, por essa fórmula, o que os brasileiros têm em mãos para representá-los junto ao parlamento, em todos os níveis, municipal, estadual e federal, são empresas típicas do Estado, que, ao contrário de muitas outras, não necessitam adotar regras de compliance ou mesmo prestar contas aos contribuintes dos recursos que arrecadam e dos gastos que empreendem.

A questão nesse caso é como alcançar uma verdadeira democracia, com igualdade de oportunidade, sabendo-se que a ponte que liga o cidadão ao Estado é inteiramente construída e alicerçada com a vontade e os recursos estatais, administrados por indivíduos ou grupos instalados dentro da máquina pública. Quando surgiu como uma força nova dentro do cenário político do final dos anos setenta, o Partido dos Trabalhadores (PT) empolgava as oposições ao regime pelo fato de obter seus recursos diretamente da população, por meio de vaquinhas, venda de camisetas e churrascos, festas e outros meios.

Essa era a força que mantinha esse partido bem ao gosto popular. Esse tempo amador, mas autêntico, já vai longe, bem longe. Hoje, o PT e todas as demais legendas vivem à sombra do Estado, devidamente azeitados com verbas bilionárias, fechados em si mesmos, distantes da população, hoje chamada apenas de base. Fenômeno semelhante parece ter ocorrido também com os clubes de futebol. Antigamente era comum falar-se em amor à camisa. Eram tempos de inocência dentro do esporte. Os times viviam praticamente dos recursos obtidos das bilheterias dos jogos.

Por esse critério, o desempenho no campeonato e a boa performance contavam muito para atrair público. Só os bons times, bem armados e treinados, sobreviviam aos torneios. Esses também são tempos que já vão bem longe. Hoje, os times são empresas, e quem parece brilhar, mais do que os jogadores, são os cartolas. Guardadas as proporções e a importância de cada um para a vida dos brasileiros, os recursos fáceis e abundantes acabaram por roubar a paixão de eleitores e torcedores.

Fundos partidários, eleitorais e para campanhas arrancam bilhões dos cidadãos, a cada ano, transformando as legendas em empresas de grande porte, capazes de fazer inveja aos países do primeiro mundo. Não é por outro motivo que existem atualmente tantos partidos, com a expectativa de criação de muitos outros. Ainda assim, com tanta fartura material, os partidos e os políticos nunca estiveram tão em baixa na confiança do cidadão.

Seguidas pesquisas mostram que entre as instituições do país, aquelas que menos gozam da simpatia e da confiança dos brasileiros são justamente os partidos e os respectivos políticos. Por aí se pode ver que não é o dinheiro que torna pessoas, empresas e instituições em algo respeitável e aceito pela população.

A frase que foi pronunciada

“Temos de nos tornar na mudança que queremos ver.”

Mahatma Gandhi

Legislação

» A alteração mais falada da reforma trabalhista, entre as centenas de mudanças na lei é, a desmoralização legislativa. Acordo coletivo entre trabalhadores e empresas vale mais que a velha Consolidação da Lei do Trabalho (CLT). Agora é acompanhar de perto para ver se essa reforma será sustentada por 74 anos, como foi a CLT.

Sem cura

» Insônia Familia Fatal, conhecida também como Agrypnia Excitata, é uma doença hereditária em que o tálamo sofre um comprometimento, fazendo com que o paciente perca o controle sono-vigília. A Fiocruz tem um banco de teses sobre o assunto, que pode ser acessado no portal thesis.icict.fiocruz.br

Erramos

» O relatório sobre a crise hídrica citado nesta coluna foi produzido por Andrés Gianni e não pelo Sindicato dos Engenheiros no Distrito Federal, como informamos. O material era uma entrevista publicada como reportagem especial jornalística publicada por Gianni na Revista Voz do Engenheiro, que é do Sindicato.

História de Brasília

Chega hoje a Brasília um homem de bem. Muitos amigos o abandonaram, alguns voltarão, certamente, mas para um administrador a fidelidade de amigos é uma contingência. Quando pensa assim, não se decepciona. (Publicado em 76.10.1961)

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