Dinheiro não é tudo

Publicado em ÍNTEGRA

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

colunadoaricunha@gmail.com;

com Circe Cunha e Mamfil

Charge: brasilsoberanoelivre.blogspot.com.br
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         Impossível pensar em mudanças significativas no quadro eleitoral para 2018, se levarmos em conta a super injeção de recursos, tomados dos contribuintes, da ordem de R$ 2,6 bilhões e que serão distribuídos generosamente para o PT, PMDB, PSDB, PP e outros partidos menores, justamente as siglas mais envolvidas nos mais escandalosos casos de corrupção de todos os tempos.

        Na verdade, os recursos bilionários dos Fundos Eleitoral e Partidário, despejados nesses partidos, com o intuito de mantê-los longe do caixa dois e de outros financiamentos ilegais, irão propiciar a farra política com a verba pública, sacada compulsoriamente do eleitor em um momento de grave crise econômica. Muito melhor seria ajustar as urnas eletrônicas para tornar as eleições num evento confiável.

         O problema com um modelo de democracia excessivamente dispendiosa, como a nossa, e que envolve, além desses fundos, todo o aparato de uma justiça eleitoral grande e custosa, é que toda essa montanha de recursos em nada contribui para qualificação e modernização do processo como todo.

        Coloca-se dinheiro novo e farto em um modelo que, para muitos, já se encontra necrosado e eivado de vícios. Pior, transforma os eleitores em homologadores de um pleito, que, ao fim ao cabo, é apenas mais do mesmo, distante das necessidades reais do cidadão. Em outras palavras, está-se conduzindo o eleitor, à um custo altíssimo, por um labirinto cuja a única saída é pela porta da chancela automática do pleito. Sem choro, nem velas. Dessa forma, a injeção de novos recursos servirá apenas para dar sobrevida à um modelo que o bom senso recomenda seja abandonado o quanto antes. Remendo novo e caro em pano velho e esgarçado.

        Para aqueles muitos que buscam nas eleições de 2018 apenas um valhacouto para escapar das agruras da justiça em primeira instância, o dinheiro extra irá abrir uma avenida de novas oportunidades. Para esses enrolados, importa sobretudo, por as mãos novamente na armadura do foro privilegiado e receber com isso o salvo conduto para a impunidade.

        Para aqueles mais espertos, e que entendem que as eleições servem sempre como um perdão tácito para crimes passados, a chegada do dinheiro fácil é mais do que bem-vinda, já que aumenta muito as chances de vitória de gente que, de outra forma, já seria naturalmente expelida do pleito.

        Uma coisa é certa: os novos e abundantes recursos serão controlados, ao bel prazer, pelos chefes de sempre, azeitando máquinas partidárias eticamente enferrujadas e obsoletas. A reforma política e partidária, e que serviria para o aperfeiçoamento de nossa democracia, ficou abandonada no meio do caminho. Em seu lugar, veio a injeção de recursos favorecendo o modelo apenas pelo lado quantitativo. O aspecto qualitativo que pressupunha uma reforma profunda no modelo foi deixado de lado, assim como o anseio por mudanças desejado pelos eleitores. Uma pena e um de desperdício de tempo e de futuro.

         “Quem quer faz, toma atitude e abre mão das regalias. Não fica dizendo que é contra, mas tem direito.” Pronunciamento do senador Reguffe no plenário sobre as mordomias dos parlamentares, juízes e autoridades.

Foto: goias24horas.com.br
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Ele existe

Um caso de sucesso no Brasil, onde um candidato ao Senado foi eleito pelas atitudes e não pelo dinheiro. É preciso falar dos honestos que sobrevivem nesse sistema pantagruélico. José Antônio Machado Reguffe é jornalista, economista e político brasileiro, atualmente sem partido. É senador pelo Distrito Federal. Foi eleito em 2014 com 826.576 votos. Antes de conquistar a vaga no Senado, mostrou para os seus eleitores que fazia valer o que dizia.

Discurso e prática

Brasília é bem representada pelo senador Reguffe, o Mujica brasileiro. No primeiro dia do mandato, Reguffe abriu mão do plano de saúde dos senadores (que é inclusive vitalício; foi o primeiro senador na história a não aceitar essa regalia), rejeitou a aposentadoria especial de parlamentar, dispensou salários extras, verba indenizatória, carro oficial.

Nano reforma

Dos 55 comissionados a que tem direito, Reguffe selecionou apenas 9. Com essas medidas, todas em caráter irrevogável. Nem que queira, o senador poderá voltar atrás. Os números são os seguintes: só a economia direta do mandato de Reguffe aos cofres públicos foi de R$ 16,7 milhões (nos oito anos). Medidas que se fossem repetidas pelos demais senadores daria R$ 1,3 bi de economia aos cofres públicos.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O deputado Ferro Costa pronunciou, ontem, um dos mais importantes discursos desde a instituição do parlamentarismo. É sobre a concordata da “Battes Corporation of Brazil”, onde a firma propõe “pagar à vista integralmente, os credores, na data da sentença homologatória do pedido”. (Publicado em 14.10.1961)

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