Como discutir o problema da corrupção com corruptos?

Publicado em Íntegra

ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil

colunadoaricunha@gmail.com;

 

charge: latuff cartoons
charge: latuff cartoons

         Um fato tem a unanimidade dos analistas da cena política nacional em relação as próximas eleições: serão as mais imprevisíveis de todos os tempos. Isso porque alguns fatores totalmente novos estarão em jogo. O principal deles, e que podem alterar qualquer prognóstico futuro é com relação ao desgaste de imagem dos políticos de um modo geral.

         As manifestações de rua, ocorridas recentemente, tiveram como elemento comum esse repúdio aos políticos e aos partidos de um modo amplo. O que alguns cientistas políticos descrevem como as eleições mais polarizadas jamais vistas, a população enxerga como um certo sentimento de desencanto com fortes doses de pessimismo.

         Desde 2005, quando veio à tona o escândalo do Mensalão, revelando o fato aterrador do Poder Executivo estar comprando, com maços de dinheiro vivo, o apoio político de parte significativa do parlamento, não houve um só dia , de lá para cá, em que não chegasse ao grande público, novas e intermináveis denúncias de corrupção .

         A maioria dessa torrente de denúncias envolve, quase sempre, os mesmos personagens formados por políticos e empresários. Chegamos a posição inusitada e motivo de chacota em todo o mundo de possuirmos parlamentares que durante o dia exercem suas funções no Congresso e à noite são recolhidos ao xadrez. Mesmo nas próximas eleições o Partido dos Trabalhadores, pretende lançar como seu candidato oficial, alguém que esta condenado e preso. Numa hipótese surrealista , caso a candidatura de Lula seja autorizada pelo TSE, os votos não sejam auditados, teríamos, quem sabe, em caso de vitória nas urnas desse candidato, um presidente governando um país, diretamente da cadeia ou tendo que se recolher ao presídio ao final do expediente.

         Para um país como o Brasil, caminhando há anos no limbo entre a realidade e as versões, seria algo totalmente crível. O que a sociedade já tem claro em sua avaliação da cena nacional é que a corrupção está por detrás de todos os males que afligem o país. Sabe também, que seus representantes legais, são os responsáveis diretos por esses fatos .

         Enquanto não aparece um político com coragem suficiente para apresentar uma proposta proibindo a candidatura em 2018 de todo e qualquer político ficha-suja, bem como seus prepostos, os mesmos personagens que há décadas flagelam a vida republicana continuarão ativos. O que a experiência mostra, aqui e em diversos países é que sem a participação da sociedade a tarefa de combate a corrupção é praticamente impossível, dada a amplitude desse fenômeno, sua rede de proteção interna e externa e, no nosso caso, a conhecida morosidade e leniência permitidas pelas nossas leis, principalmente pelo idoso Código Penal.

         A Transparência Internacional, que tem entre suas metas a luta contra a corrupção na política, nos contratos internacionais, no setor privado, nas convenções internacionais e nas questões de pobreza e de desenvolvimento, há anos vem alertando para o fato de os seguidos casos de corrupção detectados nas últimas décadas no Brasil, contribuíram para o aumento da desigualdade social e da miséria, com reflexos extremamente negativos para o desenvolvimento.

         No caso específico da Petrobras , o esquema do chamado petrolão mostrou que o esquema de corrupção obedece à um padrão sistêmico na relação entre o setor privado e o poder público, em que a prática do suborno acaba criando novos ambientes de negócios que privilegiam determinados grupos, distante e contrário ao interesse público, o que resulta sempre em distorções e desigualdades.

         Outro aspecto que se revela quando os setores públicos e privados passam a agir em desobediência as leis e a ética se reflete sobre a infraestrutura, criando uma espécie de colapso nesse setor, com obras de baixa qualidade, superfaturadas, inacabadas ou que deixam de atender aos interesses presentes. Os efeitos da corrupção sistêmica não se esgotam em seus efeitos puramente econômicos e se estendem para todos os setores da vida do país, havendo inclusive uma correlação evidente entre corrupção e violação dos Direitos Humanos, o que comumente acabam resultando em massacres e assassinatos.

         Com isso, quem acaba sentindo os efeitos da corrupção é justamente a populações mais vulnerável, já que é ela quem mais sente as deficiências do Estado e dos serviços públicos.

         O problema nas próximas eleições é como debater de forma sincera e clara o tema premente da corrupção com candidatos diretamente envolvidos em escândalos de corrupção. A questão aqui, posta de forma clara, é como discutir o problema da corrupção com corruptos?

A frase que foi pronunciada:

“ Somente o exercício do voto é secreto para garantir ao cidadão a liberdade de escolha. O ato seguinte é um ato administrativo. A contagem de um voto é um ato administrativo e se submete a um requisito de validade sob pena de ser nulo. Trata-se do princípio da publicidade. Qualquer ato administrativo deve ser público. Nós queremos auditar o fato jurídico e não a urna eletrônica.”    Felipe Marcelo Gimenez, procurador de M.S., durante o debate sobre a segurança do sistema eletrônico de votação no Brasil.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA 

         Agora se sabe porque os moradores do Iapfesp (104 e 304) nunca terão suas superquadras urbanizadas. O Delegado dr. Aracaty foi quem autorizou a construção de casas de alvenaria no canteiro de obras.(Publicado em 21.10.1961)

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