Brasília por Jorge Guilherme Francisconi

Publicado em NOTAS

*Por Jorge Guilherme Francisconi

Fotos: Ivan Mattos
Fotos: Ivan Mattos

           Fui concebida, nos anos 50, para ser símbolo e síntese do Brasil Novo que JK criava. Fui inventada por Lúcio Costa para ser civitas nacional, cidade símbolo dotada de monumentalidade e que abrigasse a história, o saber, a cultura e os anseios da nação brasileira. Meu destino era mostrar a grandeza do Brasil para o mundo, como fazem Camberra e Sidney na Austrália, Washington nos EEUU, Ottawa no Canadá, Paris quanto à França e seu passado milenar.

      Mas, ao longo do tempo, mudaram meu destino. Os geniais fundamentos urbanísticos de Lucio foram abandonados e esquecidos. A civitas tornou-se o coração de metrópole que cresce e incha desordenadamente, sem rumo e sem destino.

         Fui abandonada por presidentes, governadores e legisladores, que me tratam como sendo só uma fonte de poder e dinheiro.

         Não entenderam que fui construída para ser cidade-símbolo da nação brasileira, com praças, monumentos, museus e prédios que retratem e mostrem aos brasileiros e estrangeiros a diversidade e a grandeza do nosso Brasil. Como nada fizeram, governantes cariocas, paulistas e mineiros estão ocupando este espaço.

          Minha Esplanada poderia ser similar ao Eixo Louvre – Arco do Triunfo em Paris ou ao Mall de Washington. Embora projetada para isso, nada foi feito. Nem mesmo os projetos de Lucio para humanização da Esplanada foram concluídos.

         Ao ler redes sociais sinto-me um pavão exaltado pela beleza das plumas. São lindas as fotos das paisagens naturais ou criadas por Lucio e Oscar. Assim como prosperam e tem sucesso as estórias e histórias sobre minha concepção e meus primeiros anos. Mas ninguém pensa no meu futuro.

         Eu, Capital Civitas dos brasileiros, que nasci para ser milenar, vejo minhas penas perderem sua força, meu corpo debilitar-se, minhas pernas e meus pés sendo corroídos por cracas e pelo abandono. Não estou mais conseguindo caminhar rumo ao destino para o qual fui criada. Há nódulos e vazios que corroem minhas funções, os  “aluga-se” atacam a saúde de áreas vitais. Recebi, faz pouco, o diagnóstico de cidade sem destino, sem samba-enredo, sem DNA. Minha saúde piora na medida em que vou sendo ocupada de forma desordenada, segundo os impulsos de cada vento dominante. Esquecem que sou Capital da Nação e metrópole do Centro-Oeste.  Ainda que alguns fundamentos de Lucio sejam usados para conservar o que já existe, eles não são lembrados para planejar meu destino.

        Como nasci para ser milenar, talvez um dia serei lembrada como “aquela civitas mísera e mesquinha, que só depois de séculos tornou-se cidade-rainha” do Brasil. Ou talvez isso nunca aconteça…

*O texto surgiu a partir do texto de Samanta Salum, o título poderia ser “Pavana da Capital Rainha”. Agora inspirado em Ravel….

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