Balança, mas não cai

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Com Mamfil e Circe Cunha
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Num ponto muitos concordam: as múltiplas relações criminosas costuradas nos últimos anos entre políticos e empresários, que vão sendo reveladas em estrepitosos capítulos a cada delação, adquiriram tal volume de enredo e situações inusitadas que ultrapassaram, inclusive, os estilos ficcionais e de realidade fantástica, atingindo uma categoria da literatura que ainda está por ser inventada.

Enquanto o novo estilo não surge para narrar com precisão essa fase extremamente tumultuada da nossa história recente, toda a trama, por sua riqueza de detalhes e mesmo pela forma ridícula com que os personagens são identificados pelos delatores, deixa exposto um vastíssimo material para compor não uma saga, mas um compêndio de sátiras e troças, descrevendo de A a Z as muitas mazelas de nossa República tão vilipendiada, o completo desprezo pelos eleitores.

Somente ao humor, com sua mordacidade e acidez aguda, é dada a faculdade de adentrar a fundo nessa história, retratando e reduzindo esses personagens e situações àquilo que realmente são: seres mesquinhos, que mercadejam a ordem moral, vendilhões, dispostos às mais degradantes tarefas por um punhado de dinheiro.

Não serão com análises formais, acadêmicas e sisudas que poderemos entender o verdadeiro espírito dessa fase, uma vez que os personagens que compõe o enredo, em nenhum momento, demonstraram seriedade em suas ações. Na maioria das situações, tanto nas negações como nas confissões, o que se tem é o burlesco e a zombaria. Todos têm estampado nas expressões que o crime valeu a pena. Milhões de reais e de dólares ficarão escondidos e à disposição para retorno da cadeia.

Tudo é tragicamente cômico. A começar pelos apelidos dados aos políticos pelos empresários campeões. Para descrever, com riqueza de detalhes, toda essa extravagância de casos, faz muita falta a argúcia de escritores como Max Nunes, Paulo Gracindo, Millôr Fernandes, Carlos Manga, Lauro Borges, Guimarães Rosa, Castro Barbosa e muitos outros de saudosa memória. Somente filósofos dessa vertente do saber poderiam, agora, decifrar o momento brasileiro.

O “Edifício Balança, Mas Não Cai” de nossa República se mostra tão impressionantemente atual nas suas diversas situaçõesque a reedição desse sucesso dos anos 1950 pareceria a continuidade de um Brasil que nunca aprendeu o que é ser sério. A PRK-30, que ia ao ar nos anos 1940 pela Rádio Nacional, poderia muito bem compor a Hora do Brasil, que ninguém sentiria a menor diferença. Não à toa que sempre fomos ridicularizados como país pouco sério pelo restante do planeta. País onde o auge do protesto é bater panelas na janela de casa.

Mesmo o povo, que diz não ver graça alguma nessas situações, vota, a cada eleição, para ter de volta ao palco esses mesmos personagens. O Brasil é uma grande chanchada. Só que no atual caso, a risada final parece vir de algum ponto no Sul do país. É uma risada que mostra todos os dentes de uma boca enorme, mas, se observada mais de perto, é formada por grades de uma prisão à espera de engolir esses bufões.

 

A frase que não foi pronunciada

“O Brasil é uma Ferrari dirigida por macacos.”

Na Internet

 

Mais essa

» Na França investigações sobre pagamentos ocultos de contratos de armamentos entre França e Brasil em 2009. O traçado das investigações está pronto. Apontam o fornecimento de cinco submarinos, inclusive, um nuclear. O contrato assinado por Lula e Sarkosy foi faraônico: 6,7 bilhões de euros (quase R$ 22,9 bilhões) entre a fabricante naval francesa DCNS e o Brasil.

 

Adiante

» Enquanto as questões políticas aquecem nos bastidores, o Senado discute na Comissão de Relações Exteriores o livre comércio entre os países. Os debates quinzenais gravitam sobre a ordem internacional, “Erguer ou Estender pontes?

 

Inclusão

» Até 26 de maio, os eleitores, numa parceria entre o Instituto dos Cegos e o Tribunal Eleitoral, participam do recadastramento biométrico durante a Semana de Inclusão. Até agora, 1.600 eleitores deficientes foram registrados no Cadastro da Justiça Eleitoral.

 

Sem solução

» A JBS pagou propina a 1.829 candidatos de 28 partidos, segundo o diretor Ricardo Saud. As doações ilícitas foram de quase R$ 600 milhões. O espectro da corrupção é de largo alcance. Só uma reforma política para resolver. Mas, sem o apoio de 1.829 candidatos de 28 partidos, será difícil aprovar.

 

História de Brasília

O “Caravelle” deslizou mais ou menos uns duzentos metros e, antes de atingir a curva de conversão para o pátio de manobras, parou fora da pista. (Publicado em 28/9/1961)

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