Ainda é Natal

Publicado em Íntegra

Para muitos, o Natal é apenas uma festa cristã, quando se celebra a entronização de um certo menino, de nome Jesus, nascido no mundo dos homens, onde os animais se alimentavam. Segundo a crença, seu destino estava traçado muito tempo antes de sua vinda. Do primeiro ao derradeiro dia, sua missão seria a redenção da espécie humana, por meio da palavra, chamada de verbo. Sua chegada, diz a tradição, foi precedida pelo riscar de estrelas no céu frio em terra distante, perdida no tempo.

Dois milênios e incontáveis carnificinas depois, muitas delas feitas erroneamente em nome da fé, o que restaria da mensagem original? Na mensagem Urbi et orbi deste ano, o papa lembrou que o advento foi antes de tudo “uma grande alegria para os pequenos e os humildes, e para todo povo”. Esse ainda é o mesmo povo que sofre nas mãos de maus políticos, espoliados e subtraídos em sua dignidade, jogados de lado para outro, buscando refúgio em terras alheias para fugir da fome e da perseguição.

Talvez esteja nessa desesperança hodierna a força com que muitos ainda se apegam àquela mensagem em busca, talvez, da salvação possível. “Só a misericórdia de Deus pode libertar a humanidade de tantas formas de mal”, disse Francisco em sua mensagem, ao apontar no egoísmo a origem das monstruosidades cometidas contra a humanidade. “Onde nasce Deus, nasce a paz”, disse, o papa, lamentando que “lá, de onde veio ao mundo o Filho de Deus feito carne, continuam as tensões e as violências, e a paz continua dom que deve ser invocado e construído”.

Na Síria, onde mais de 250 mil pessoas perderam a vida, Francisco apela para as Nações Unidas para que “consigam silenciar o fragor das armas e pôr remédio à gravíssima situação humanitária da população exausta”. Da mesma forma, Francisco pediu urgência para os acordos sobre a Líbia, bem como a atenção da comunidade internacional para “fazer cessar as atrocidades” no Iraque, Iêmen e na África subsaariana.

Também os atentados ocorridos no Egito, em Beirute, Paris Bamaco e Túnis foram lembrados pelo papa, bem como os conflitos no Congo, no Burundi e no Sudão do Sul. Francisco também pediu o retorno da paz à Ucrânia, mergulhada numa guerra civil insana.

O papa pediu ainda redobrados esforços para que a Colômbia encontre a paz desejada. Como peregrino que tem andado por todo o planeta, Francisco sabe e viu de perto que o mundo ainda arde e que o menino Jesus, deitado numa manjedoura, muito se assemelha ao pequeno Ayslan, encontrado inerte, com o rostinho afundado na areia de uma praia qualquer na Turquia.

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